quinta-feira, 17 de outubro de 2024

DISJUNTOR

 
Não sei se isso acontece com todo mundo, mas alguns assuntos grudam em minha mente como chiclete em passeio público. Respondendo a um comentário feito recentemente aqui no blog, usei a palavra “disjuntor” relacionada ao falecimento repentino de pessoas. E esse tipo de situação é o chiclete agarrado no meu cérebro.
 
A notícia da morte do publicitário Washington Olivetto mexeu muito comigo pela enorme admiração que tinha por ele. Os “criativos” da área de publicidade frequentemente me fazem babar de encantamento por suas sacadas geniais para divulgar ou vender esse ou aquele produto. E o Olivetto era o paradigma dessa turma no quesito criatividade. Segundo a Wikipédia, sua agência W/Brasil tornou-se “uma das agências mais premiadas do mundo, com quase mil prêmios, entre Leões no Festival de Cannes, Clio Awards, CCSP e outros”.
 
Ainda segundo a Wikipédia, “foi o único latino-americano a ganhar o prêmio Clio Awards em 2001, com um comercial de TV para a Revista Época. Foi considerado como o mais criativo publicitário dos últimos trinta anos na premiação Profissionais do Ano, organizada pela TV Globo. É considerado uma das 25 figuras-chave de publicidade do mundo pela revista britânica Media International. Foi eleito duas vezes o publicitário do século pela Associação Latino-Americana de Agências de Publicidade (ALAP) e pelo site de notícias sobre propaganda brasileira do Monitor Mercantil. Em 2009, entrou para o Hall da Fama do Festival Ibero-Americano de Publicidade(FIAP)”. Resumindo, o sujeito era o foda, o "cara" no quesito criatividade. Mas morreu “novo”, o que é uma sacanagem.
 
E aí pisei no chiclete de novo. Há mais tempo fiz a comparação da passagem vida-morte como fruto de um interruptor que se desliga. Só que essa não era uma boa imagem, pois um interruptor necessita de alguém para clicar em seu botão. Foi aí que me ocorreu a ideia do disjuntor.
 
Utilizando a definição técnica para esse tipo de artefato, um disjuntor é “um dispositivo elétrico que protege os circuitos elétricos de sobrecargas e curtos-circuitos, desligando a energia automaticamente”, imagem perfeita para a mudança da vida-morte, feita automaticamente, sem precisar de ninguém para seu acionamento. Mas o chiclete continuava agarrado. Foi aí que o TOC se manifestou e eu tive a ideia de fazer um levantamento das pessoas falecidas em 2024. Pois é... 

Entrei de novo na Wikipédia e peguei a relação de pessoas famosas falecidas no mundo todo, mês a mês. Sem me importar com o motivo da morte (alguns morreram de desastre, outros foram assassinados, etc.), calculei a média das idades de cada uma dessas 884 personalidades. E o resultado deu 75,14 anos (EPA!).
 
E essa é a conclusão do chiclete: em virtude das “sobrecargas e curto-circuitos” ocorridos durante a vida, o disjuntor de uma pessoa média desarma quando o sujeito chega nos 75 anos. Lembrando que tenho hoje 74 aninhos, poderia citar estes versos do Vinicius de Moraes (falecido aos 67 anos), “De repente, do riso fez-se o pranto, de repente, não mais que de repente”. 

E a cereja do bolo deste texto é o gráfico que indica as mortes do levantamento que fiz, por faixa etária. Olhaí.



 

4 comentários:

  1. A coisa anda tão perigosa que até quem nunca morreu, está morrendo.

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  2. Alô, alô, W Brasil....música chiclete do Benjor.
    Você fez mesmo essa pesquisa, né...? Inevitável a gente chegar numa certa idade e não pensar no fim. Mas chegar numa certa idade já foi uma vitória, visto que tantos morrem aos 20, 30, 40 e até antes em tantas tragédias que fazem parte do nosso dia a dia.

    Eu comecei a pensar muito na morte quando cheguei aos 50. Muitas vezes ao deitar a cabeça no travesseiro me vinha a ideia de que um dia eu seria e no outro, não mais. O tal do disjuntor que você bem ilustrou. E isso estava me dando uma certa agonia.
    Se os ateus e materialistas estiverem certos, então como disse Chico Anysio, o ruim de morrer era não estar mais vivo...você entendeu.
    Se os espiritualistas estiverem certos e aí nossa consciência-alma-espírito sobrevive de alguma forma, aí a morte é uma tragédia. Imagina lembrar da vida que você não tem mais. Das pessoas que você ama e não pode mais abraçar. Das coisas que você fazia e não pode fazer mais...uma tortura.
    Mas se os espiritualistas cristãos estiverem certos, a consciência-alma-espírito volta para Deus para um dia ser de novo ressuscitado para então se começar uma nova vida em um mundo restaurado.
    Utopia é como se chama.
    Se os espiritualistas encarnacionistas estiverem certos, um dia você volta em outro corpo, em outra vida, para continuar pagando os erros que cometeu nas vidas passadas.
    Eu prefiro a utopia cristã mas aí tu tem que acreditar nela e não acreditar em nenhuma outra e ser cristão de verdade para desfrutar dessa futura terra restaurada, senão a única outra opção é o inferno eterno (para os cristãos conservacionistas) ou então, ser eliminado de vez da existência (para os cristãos aniquilacionistas).
    E eu como fico?
    Uma boa terapia, quem sabe?

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  3. Jotabê!!!
    Tive que rir com seu texto e
    com sua argumentação
    que é plausível.
    O importante na verdade é nos
    expressarmos.
    Seu '"chiclete" me lembrou um
    amigo muito próximo, quando
    alguém que ele admira vai embora
    ele entra em parafuso, não porque
    tem medo de ser o próximo, mas
    porque entende o quanto estamos
    ficando mais pobres e quando
    vai alguém especial como o
    Olivetto, aí sim é que ele fica
    mais triste. Porque não nascem
    gênios todo dia, diz ele.
    Adorei seu texto.
    Ah! Sim, respondi a seu
    comentário lá no Espelhando.
    Bjins ou Abraço para
    Você e sua Família
    CatiahoAlc.

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