O título deste post poderia ser visto como uma ironia sádica ou uma afronta gratuita dirigida a todos que padecem deste distúrbio mental, mas não é essa a intenção. Segundo li na internet, o “distúrbio depressivo maior (DDM)” conhecido simplesmente como depressão, é um distúrbio mental “que pode afetar de forma negativa as relações familiares da pessoa, o trabalho, a vida escolar, o sono, as refeições e a saúde em geral”.
Descobri também que em 2013 “o distúrbio depressivo maior afetava aproximadamente 235 milhões de pessoas em todo o mundo (3,6%)”, que a.”percentagem de pessoas afetadas em determinado momento da vida varia entre 7% no Japão e 21% em França” e que a “taxa ao longo da vida é maior nos países desenvolvidos (15%) do que nos países em vias de desenvolvimento (11%)”.
Finalmente, fiquei sabendo que aqueles que andam com um black dog ao lado (assim Winston Churchill chamava sua depressão) podem apresentar pelo menos 5 dos sintomas listados a seguir, por um período superior a duas semanas:
· Desânimo na maioria dos dias e na maior parte do dia (em adolescentes e crianças há um predomínio da irritabilidade)
· Falta de prazer nas atividades diárias
· Perda do apetite e/ou diminuição do peso
· Distúrbios do sono — desde insônia até sono excessivo — durante quase todo o dia
· Sensação de agitação ou languidez intensa
· Fadiga constante
· Sentimento de culpa constante
· Dificuldade de concentração
· Ideias recorrentes de suicídio ou morte
· Começa a se preocupar com os pequenos problemas da vida
· Tem dificuldade para tomar banho, ler um livro e até coisas simples como assistir televisão
· Automutilação
Então, depressão não é brincadeira, é coisa realmente séria. De uns tempos para cá - mesmo não sabendo com precisão desde quando -, tenho andado deprimido, às vezes mais, às vezes menos. Não é uma boa sensação, podem acreditar. Mesmo que nunca pense em suicídio, há momentos em que imagino que o melhor para mim seria estar morto. Talvez isso resolvesse muitos dos meus problemas. Pesadelos recorrentes, por exemplo, seriam um deles. Dores físicas, medo de tudo, sensação de abandono, de inadequação, de velhice, desânimo, tristeza, arrependimento, insônia, tudo isso acabaria definitivamente.
Por isso, ao escolher o título do post não quis tripudiar sobre a dor alheia, pois todos aqueles que andam com seu black dog são meus irmãos, franciscanamente falando. Mas, outro dia, ocorreu-me o pensamento que explica a escolha do título. O lance é o seguinte:
Quando você está deprimido a primeira coisa que acontece é ver desaparecer o orgulho, a vaidade e a sensação de onipotência ou onisciência. Você deixa de ser o dono da verdade, o rei da cocada, o Messias ou qualquer coisa do gênero. A depressão te redimensiona, reformata, serve de espelho para refletir sua insignificância, sua pequenez, mediocridade, mesquinhez.
Conheço alguém que foi um grande professor de matemática. No ápice da carreira, o sujeito ficou tão vaidoso que passou a falar de si mesmo na terceira pessoa (assim como fazia o Pelé): “porque o Fulano faz isso”, “o Fulano já comeu...”, etc. Era um saco conversar com ele, pois só sabia contar vantagem e se endeusar. Na vida pessoal e familiar, no entanto, era um merda completo, um cara egoísta, egocêntrico e desprezível. Hoje, perdido o status de fodão, já não fala mais “o Fulano é isso”. Mas continua um merda.
Mesmo que às vezes comente alguma coisa na terceira pessoa ("Jotabê é assim..."), faço isso de sacanagem, só para ironizar gente como esse meu conhecido. Mas a auto-indulgência e vaidade fazem parte de meu comportamento ("querer ser mais do que valem..."), Por isso, este é também o meu caso. Mas, graças à depressão, (re)descobri minha estatura intelectual ao reler os posts do velho Blogson. Da mesma forma, ao relembrar meu comportamento inseguro, descompromissado e até irresponsável nas empresas onde trabalhei, hoje consigo ver minha verdadeira dimensão profissional. Nos dois casos (para ficar só neles), estatura de anão, gnomo ou pigmeu.
E esta é a mensagem do post, verdadeira teoria miojo (aquela que fica pronta em três minutos): a depressão não anula as qualidades reais de ninguém, mas traz de volta à terra o balão com os atributos equivocadamente auto-concedidos. É por isso que eu digo: Viva a Depressão!