PUXA-SACANDO

Gírias são palavras curiosas, pois a maioria tem data de validade e alcance geográfico reduzido. Isso, claro, não se aplica ao vocativo “bicho”, pois, enquanto o Roberto Carlos viver, essa gíria continuará “na crista da onda”.

Não sei se aconteceu ou acontece em outras cidades, mas em BH usavam-se expressões do tipo “esse cara está sacando!” como sinônimo de “esse senhor está mentindo!”. Eu disse “usavam-se” pois não sei se além de dinossauros como eu alguém mais novo ainda as utiliza. Para o tema deste post isso não faz a menor diferença, pois eu ainda uso, sacou (significando “entendeu”)?

Muito bem. O fato é que mesmo durante o período em que o velho e irreprochável Blogson Crusoe estava morto, eu continuei a comentar sobre seus impagáveis posts com gente conhecida. Afinal, haviam sido publicados mais de 1.500! Essa atitude lembraria a publicidade de um museu exaltando o setor de egiptologia e suas múmias. Mas voltemos aos trilhos.

Até hoje, em uma festa de família, quando pego (sentido figurado, por favor) alguém com uma dose extra de simpatia e (falso) interesse, vou logo falando dos hieróglifos do blog. E se a pessoa tem vocação para puxa-saco e manifesta um pouquinho mais de (falso) interesse, vou logo pedindo e-mail, facebook, whatsapp e o escambau, só para fazer uma lista de sugestões dos posts mais criativos e hilários que obrei ao longo de cinco anos.

E o parente ou amigo candidamente cai na armadilha. Melhor dizendo, dá a impressão de ter caído, pois quem cai mesmo sou eu. No “pós-festa”, tão logo me aproximo do computador, já começo a fazer uma lista de links para enviar para meu novo fã.

Só que aí, graças às estatísticas do blog, acontece o milagre: nenhum dos links sugeridos foi acessado! Ou seja, o novo fã era fake (não consegui pensar em nenhum trocadilho), não havia nenhum interesse real em ler a tranqueira sugerida por mim. O interesse do puxa-saco era só puxa-saquice, só estava sacando (mentindo) e puxando o saco, ou melhor, só puxa-sacando. E o carente aqui só acreditando, sempre no gerúndio.