sexta-feira, 13 de setembro de 2019

LARGA ESSE LINGÜIÇA, MENINO!


Como meus três leitores identificáveis sabem, o Blogson Crusoe foi “executado” em 07/06/2019, aniversário do blog e do blogueiro que vos fala (escreve). O motivo era o fato de ter-se transformado em um poltergeist a me assombrar o tempo todo. Mas o mal já estava feito. Por isso, graças a uma síndrome de abstinência blogosférica, apenas sete dias depois da eutanásia surgiu o inenarrável blog “Lingüiça no Fumeiro” (com trema, mesmo correndo risco de que alguém fizesse um jogo infame de palavras ao dizer “não trema no Lingüiça”).

O novo blog recebeu esse nome graças a uma das lembranças e histórias da infância de meu pai, contadas quando ainda éramos crianças. Lembro-me de alguns desses casos e de seus protagonistas, mas o episódio que inspirou o título do blog, infelizmente está incompleto em minha mente. Lembro-me da personagem principal, consigo visualizar o cenário, mas a frase engraçada e (imagino) poética que seria o desfecho da história, parece ter-se perdido para sempre.

Mas a carne é fraca e o Lingüiça, mole (o blog, bem entendido). Por isso, fui abduzido pelo fantasma do Blogson, deixei de lado o Lingüiça (esse terreno está muito pantanoso e esquisito!) e voltei de mala e cuia para o blog da solidão ampliada.

Como se sabe, a sina de qualquer blogueiro é inventar assunto para seu esfomeado tamagotchi. Por isso, mesmo não me lembrando integralmente da história que fez surgir o Lingüiça (isso está estranho!), e como homenagem a meu pai e a todas as participantes do episódio, tentarei contar o que consegui buscar na memória. Para cobrir alguns dos buracos existentes (???), vou dar uma passada na casa onde morei até me casar.

Nessa casa (de minha avó materna) existiu um fogão a lenha construído com tijolos e revestido com argamassa vermelha, acabamento liso (natado). Tinha um sistema de serpentina para aquecimento de água (que não funcionava, graças às incrustações depositadas no interior dos tubos galvanizados), um nicho fechado com porta metálica que seria utilizado para forno, trempe de ferro fundido e uma chaminé de alvenaria para exaustão da fumaça. Quando eu tinha uns dez ou onze anos, foi demolido e substituído por um “moderníssimo" fogão a querosene ou coisa parecida.

Imagino que no início do século XX todas as casas mais simples possuíam um fogão de lenha como esse. Também existia um na casa de meus avós paternos, em São José dos Oratórios (distrito de Ponte Nova). A única diferença que consigo imaginar (além das dimensões e outros detalhes construtivos) é que existia um pau roliço pendurado sobre o fogão, onde se colocava parte da produção caseira de linguiças, que iam sendo defumadas graças ao calor e à fumaça da lenha queimada para o preparo das refeições da família.

E é aí que entra a protagonista dessa história, uma mulher meio louca, meio desaforada e talvez já um pouco idosa, que às vezes ia à casa de minha avó pedir esmola ou comida, se não me engano. Pelo menos para meu pai e seus irmãos era conhecida por "Sá Maria me Atende" (a súplica transformada em apelido!).

Creio que em um dia qualquer, Sá Maria entrou na casa, provavelmente pela cozinha, e pediu comida. Uma de minhas tias, talvez desejando verdadeiramente ajudar a coitada, ofereceu trabalho a ela. E a surpresa veio com a resposta dita de forma irônica e lírica, dizendo que aceitava galinha assada e "linguiça no fumeiro", mas de trabalho estava fugindo. E nunca mais voltou a por os pés na casa de minha avó. É uma historinha boba? Certamente que é, mas a frase esquecida é que daria sabor a esse "causo", talvez um sabor de linguiça caseira defumada lentamente.


Com formato ligeiramente diferente, este texto foi publicado no novo (e logo abandonado) blog. Cheguei até a fazer um desenho a partir da imagem de um fogão encontrada na internet, coloquei algumas linguiças no desenho, dei uma colorida e coisa e tal. Mas sendo uma cavalgadura digital, não consegui descobrir como poderia exibir minhas linguiças (isso ficou estranho!) como pano de fundo do novo blog, agora abandonado. Por isso, resolvi reciclar o texto e o desenho para criar este post. Olha o fogão aí, olha lá as linguiças desfalecidas.





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