quarta-feira, 18 de setembro de 2019

DEPRESSÃO - FERNANDO CARAMURU

Este é o segundo poema de autoria do Fernando Caramuru que posto aqui no Blogson. Caramuru é um sujeito simpaticíssimo que conheci quando ele ainda era o diretor de um colégio que ficava bem em frente à nossa casa e onde minha mulher dava aulas de português. Já naquela época, no início da década de 1970, os alunos eram aquele aborrecimento que só os que moram nas proximidades de um colégio conhecem (creio que hoje está pior). Por isso, em virtude das aporrinhações da meninada (ovos, bombas, correria, gritaria, etc.), eu dizia que ele era "meu melhor inimigo" ou "meu inimigo predileto", não me lembro mais. E ríamos dessa idiotice.

Pois bem, tenho hoje a honra (honra mesmo!) de tê-lo como "amigo de Facebook". Mas, ao contrário de alguns desses "amigos" (que ninguém nos ouça - ou leia), o sentimento de amizade que tenho por ele é real, pois, como já disse umas duzentas vezes, só tenho respeito pela Inteligência. E isso ele tem de sobra. 

Hoje o sacana (no bom sentido!) postou um poema tão espetacular que não tive dúvida: mesmo sem sua autorização, resolvi divulgá-lo aqui no "blog da solidão ampliada". É muito bom!


A rua por onde passo
Não mais passa por mim
Tem muito do que não fui
E muito do que não sou

Falaram ser eu valente
Disseram lindo eu ser
Se já fui o que não fui
Não sou o que mostro ser

Da vida de minha vida
À vida de ter que ter
A vida é sim e não
Não ou sim ela não é

É ainda sim e sim
E não e não também é

Dizer eu amo você
Se a amar é bisar
O amor se faz ato
E no ato se declara

Eu amo muito viver
Mas morrer às vezes quero
Morro após querer vida
Vivo após querer morte

No querer querer em falta
E não não querer também
A vontade me esvai
O chão que piso me foge

Fraco já antes estava
Forte me acho depois
A vida já não a quero
Morrer já não me importa

Se salvo dessa penúria
Alegria me habita
E euforia me vem
A crise elas aventam

Sou forte e fraco sou
Fraco ou forte não sou
Deprimido, não me mato
Não há força para tanto

Depressão falta me faz
Viver sem ela não sei
Fico muito deprimido
Quando ela não me vem

Caramuru, dedicado não sei a quem.

Um comentário:

  1. Agradeço por ter indicado. Realmente, de uma contradição feroz e bem descrita.

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