Tive um
colega de serviço bem mais velho que eu, cujo nome era Herberto. Era filho de
alemães legítimos. O pai chamava-se Huberto. A razão para esses nomes
idiotas é curiosa. Originalmente, chamavam-se Herbert e Hubert. Durante a
Segunda Guerra, em virtude da hostilidade dos brasileiros contra italianos e
alemães, resolveram abrasileirar os nomes, que viraram essa bosta.
Outra
curiosidade é o fato de seus pais terem vindo para o Brasil ainda crianças com
uns quatro anos, por aí. Provavelmente, conheceram-se na colônia alemã de BH
(se isso existiu). Seus pais eram, portanto, brasileiros naturalizadíssimos e
falavam português sem nenhum sotaque, pois tinham praticamente nascido aqui. Em
casa, entretanto, a língua falada por todos era o alemão. Segundo meu
amigo Herberto, por causa da guerra, além da mudança de nomes, passaram a
conversar só em português, hábito que se manteve mesmo depois da derrota da
Alemanha.
Conheci
também um italiano chatíssimo que teve sua joalheria vandalizada durante a
guerra. Anos depois, conseguiu ser indenizado e comprou uma casinha em Lagoa
Santa, próximo à casa de campo de meus tios, também eles italianos. Ou seja, durante a Segunda Guerra parece que a barra pesou no Brasil para alemães, italianos e japoneses e
até mesmo para seus descendentes, mais uma prova de que “o brasileiro é cordial”.
Às
vezes o “pântano” traz coisas bem legais de se ver ou ler. Encontrei hoje no
Facebook (o pântano) de um “amigo” o texto transcrito a seguir, tratando do
mesmo assunto. Achei super interessante e resolvi publicá-lo no blog.
Imigrantes e descendentes de alemães,
italianos e japoneses, foram perseguidos, roubados e torturados pelo fato de
falarem seus idiomas ancestrais na época do ditador
Getúlio Vargas, outros idiomas também sofreram.
Em 1757, o Marquês de Pombal proibiu o uso da
língua geral [o velho tupi]. Dois anos mais tarde, expulsou os jesuítas. Com
essas duas medidas, Pombal criou os alicerces para um Brasil monolíngue e com
uma educação deficitária. Durante séculos, consideramos o monolinguismo como
marca de progresso. Era preciso acabar com a confusão de idiomas dos gentios,
dizia Von Martius no século 19. Não apenas a diversidade linguística autóctone
foi combatida, mas também, embora por motivos diferentes, o uso de línguas estrangeiras.
Mesmo sentimento, deu-se de forma bem mais
cruel, quando o ditador Getúlio Vargas implementou uma série de medidas que
faziam parte de sua campanha da nacionalização. Movimento que tinha a intenção
de valorizar a cultura brasileira e fortalecer a unidade nacional. Na prática,
as medidas acabam ganhando um contorno xenófobo.
Os imigrantes alemães e italianos do sul do
país ainda se recordam que o ditador Vargas os proibiu de falarem suas línguas
maternas, bem como de ensiná-las para as gerações nascidas no Brasil. No caso
da educação, esse projeto teve um impacto forte. A partir de 1938, o ensino de
línguas estrangeiras era proibido e apenas brasileiros natos ou naturalizados
poderiam trabalhar como professores. Isso quer dizer que as escolas criadas nas
colônias que lecionavam na língua dos imigrantes eram ilegais e podiam, sim,
ser fechadas pelo governo.
A situação era ainda pior no caso do alemão,
do italiano e do japonês. Naquela época, essas eram as línguas dos países que
constituíam o Eixo, adversários do Brasil na Segunda Guerra Mundial. A partir
de 1939, foi proibida a circulação de jornais e revistas em língua estrangeira.
Programas de rádio também foram suspensos. A repressão chegou a tal nível a
ponto de incinerar livros e documentos escritos nessas línguas. Meu avô
comentava que em sua casa [de imigrantes com apenas uma década de Brasil], os
intendentes passavam confiscando armas, livros, e até as toalhas de mesa com os
dias da semana ou datas comemorativas bordadas em alemão, e mencionava também o
caso de um conhecido de origem italiana, preso e torturado por esbravejar
palavras em italiano [após ter tropeçado com seus tamancos de madeira].
Assim, durante o período da ditadura Vargas,
dentre outras medidas, todos os imigrantes e seus descendentes em território
nacional foram proibidos de falar sua língua em público como uma forma de
obrigá-los a se integrar à cultura brasileira. Tal determinação afetou
diretamente a vida dos imigrantes alemães e seus descendentes, pois muitos não
sabiam falar português e, pelo fato de o Brasil ter entrado na guerra contra a
Alemanha, os mesmos passaram a sofrer ataques por parte da população
brasileira: cusparadas, casas de comércio, jornais e estabelecimentos em geral,
cujo dono era de origem alemã, foram incendiados e associações foram fechadas.
Nessa época, a convivência entre brasileiros e alemães foi conturbada,
principalmente pelo fato de que os “nacionais” podiam abusar destas
determinações impostas pela ditadura.
Não fossem as medidas proibitivas de Pombal e
Vargas, poderíamos ter um número muito maior de pessoas bilíngues.
Na imagem, um quadro obrigatoriamente exposto
em casas comerciais, repartições públicas, clubes, ou em locais de aglomeração
pública, atendendo à legislação da Ditadura Vargas quanto à proibição de se
falar línguas estrangeiras em público, em especial dos países do Eixo.
curiosamente, hoje o brasileiro valoriza mais países estrangeiros, inclusive a alemanha, que o Brasil
ResponderExcluirNão creio que isso seja uma verdade absoluta. O brasileiro valoriza, inveja e deseja só o que há de bom em outros países.
Excluirfoi, inclusive, nessa época, que o time de futebol Palestra Itália passou a se chamar Palmeiras.
ExcluirNo filme A ópera do Malandro, de Ruy Guerra e Chico Buarque, tem uma cena muito engraçado de um bordel de um alemão sendo atacado assim que o Brasil entrou na Guerra ao lado dos Aliados, contra o Eixo.
poxa, o que tem de ruim ninguém quer (fome, guerra etc) e como não tem como ficar só com o q é bom, o pessoal troca logo de pais
Excluirabs!
O Palestra de BH virou Cruzeiro.
ExcluirE não é que é verdade? E não é que só agora a ficha me caiu? Na volta de minhas férias em Maceió, fizemos uma escala num aeroporto aí de Belo Horizonte, acho que o de Confins. E vi lá uma exposição dos uniformes dos principais times mineiros. E não é que a primeira camisa do Cruzeiro, de 1920 e Jotabê, era mesmo verde? Igual ao do Palmeiras?
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