sábado, 4 de junho de 2016

PÉ NA JACA

Sempre houve várias formas de expressar sentimentos: em conversas olho no olho, em estádios, através de cartas, livros, peças de teatro, melodias ou letras de música, dando porrada em alguém, fazendo orações (rezando), em rodas de botequim (talvez a melhor opção), na terapia, etc. Com a internet as possibilidades foram expandidas: Facebook, Twitter, Whatsapp, Instagram (entre outros que nem sei) e... blogs.

Os blogs autorais, objeto destas reflexões acacianas, podem ser – e frequentemente são – uma mescla de tudo o que se disse acima. É estranho observar que por conta de um discutível anonimato os donos desses blogs começam a expor suas ideias e suas entranhas – devagarinho no começo, pegando velocidade aos poucos e descendo depois uma ladeira a mil por hora, às vezes até meio desgovernados.

Bem, talvez eu esteja falando apenas de minha própria experiência. O fato é que manter um blog autoral é uma experiência única, catártica, uma verdadeira terapia blóguica. Imagino que os psicólogos podem ainda não ter-se dado conta do auxílio luxuoso de um blog na terapia de seus clientes.

Porque é no blog que o sujeito rasga sua fantasia (e cria outras!), é nele que o blogueiro encontra seu melhor espelho, é nos textos e imagens publicadas em que enfia o pé na jaca (os dois, a bem da verdade).

Talvez por isso, chega o momento em que o sujeito começa a pensar em parar de alimentar seu poltergeist. Ou por ter-se dado alta de sua terapia blóguica, por ter descoberto um fred kruger dentro de si ou por não ter mais nada a dizer de original, de pessoal. (“a menos que saia sem perguntar do teu coração, da tua cabeça, da tua boca das tuas entranhas, não o faças” Bukowski).

Parar ou não de escrever em um blog é uma opção pessoal – dolorida para uns – ou só por enfado, saco cheio. Como cantou uma vez o mestre Belchior:

Sons, palavras, são navalhas e eu não posso cantar como convém sem querer ferir ninguém
Mas não se preocupe meu amigo com os horrores que eu lhe digo 
Isso é somente uma canção, a vida realmente é diferente, quer dizer, ao vivo é muito pior 
Mas sei que nada é divino, nada, é maravilhoso, nada é sagrado, nada é misterioso

Só sei que um blog é danado de viciante (estou concluindo este texto às quatro da madruga, depois de ter perdido o sono). Mas que é divertido, isso é.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4