Quando eu soube que o Rio de
Janeiro iria sediar os Jogos Olímpicos de 2016 já fiquei cabreiro, com a pulga atrás da orelha. Pensei
naquele mundaréu de obras que seriam necessárias (ótima oportunidade para
grandes mutretas), mas fiquei mais ligado na abertura e no encerramento dos
jogos. Tive o pressentimento meio preocupante de que iria rolar uma bateria de
escola de samba, um bando de passistas seminuas e toda aquela breguice que
alguns acham lindo mostrar para o mundo.
Não deu outra: o que
ouvi no rádio me deixou envergonhado só de imaginar que o que foi noticiado
será transmitido para o mundo todo. Alguém (infelizmente, não peguei o início
da notícia) comentou que o stand de arco e flecha, construído em caráter
provisório, será desmontado, para o local ser usado na largada da maratona,
última prova das Olimpíadas, e que haverá "um
evento de samba no local, com carnaval, escolas de samba, passistas, um evento
de samba com o maior orgulho".
Caralho! Já não bastam
as notícias sobre corrupção, petrolão, impeachment, políticos de todos os
matizes envolvidos, mergulhados, denunciados em todo tipo de tramoia,
negociatas e achaques? Precisava mandar para o mundo as imagens deprimentes e
de extremo mau gosto de um bando de mulheres escassamente vestidas e
abundantemente siliconadas, justamente no transcorrer da prova mais clássica,
mais icônica das olimpíadas?
Eu já tenho prevenção com o
senso de "orgulho", pois penso que é um sentimento de segunda linha. Agora, orgulho misturado com ufanismo sem
sentido é dose para matar até uma equipe inteira de halterofilismo! O quem tem
o cu a ver com as calças? Ou melhor, o que têm as passistas e o carnaval
com "Jogos Olímpicos"?
Meu amigo Pintão era muito
bom em cultura inútil. A diferença é que sua cultura inútil era um pouco mais
"culta", pois frequentemente baseada em curiosidades literárias. Um
dia mencionou a existência de um livro escrito por um "nobre"
brasileiro, que tinha esse título: "Porque me ufano de meu país". E
ironizava esse ufanismo ao contar que o livro tinha como subtítulo a frase (em
inglês!) "It's my country". (essa citação estava parcialmente incorreta).
Achei graça da maluquice bilíngue, mas nunca me preocupei em verificar a veracidade dessa informação. Pelo menos, até ontem. Depois de ouvir no rádio a idiotice gigantesca que mencionei acima, lembrei-me da história contada por meu amigo e fui procurar na internet. Quem se interessar em conhecer esse livro, siga o link abaixo
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/ufano.html
Há várias referências na web a essa "obra-prima". Por isso, peguei um comentário meio ao
acaso, que diz o seguinte:
"Há cem anos, por ocasião do quarto centenário da chegada dos conquistadores portugueses a Pindorama, o conde de Afonso Celso publicou o 'Por Que me Ufano de Meu País'. O livro, dedicado aos filhos, visava a despertar neles e, por extensão, em toda a juventude brasileira, um ilimitado amor à pátria. O lema 'right or wrong, my country', em inglês mesmo, foi colocado na primeira página, logo abaixo do título. Êxito editorial, o livro e, mais especificamente, a palavra ufanismo passaram a denotar o patriotismo acrítico, ingênuo, incondicional".
Era aí que eu queria chegar:
eu acho o sentimento ufanista uma babaquice, pois temos mais coisas a lamentar
que a louvar. Não somos educados, não somos civilizados nem temos seriedade
para cumprir integralmente um simples planejamento que viabilize a realização dos Jogos tal como foi proposto.
Somos o país onde fazer qualquer coisa nas coxas é normal, "tranquilo e
favorável". Mas não estamos com essa bola toda, ou melhor, nem sabemos
direito como conduzir uma tocha (literalmente).
Pensando em toda a corrupção
que vem sendo descoberta e divulgada, não dá para ter muito orgulho nem
ufanar-se deste “país do futuro”. Melhor seria escrever um livro menos “oba oba”,
mais realista, dando a ele este título:
“Por que me afanam neste país”?
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