LÍNGUA PORTUGUESA
Última
flor do Lácio, inculta e bela,
És, a
um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro
nativo, que na ganga impura
A bruta
mina entre os cascalhos vela...
Amo-te
assim, desconhecida e obscura.
Tuba de
alto clangor, lira singela,
Que
tens o trom e o silvo da procela,
E o
arrolo da saudade e da ternura!
Amo o
teu viço agreste e o teu aroma
De
virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te,
ó rude e doloroso idioma,
Em que
da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em
que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio
sem ventura e o amor sem brilho!
Nesse soneto com cheiro de naftalina o poeta Olavo
Bilac louva o idioma português, que seria “a
última língua derivada do Latim Vulgar falado no Lácio, uma região italiana”.
Como “todo mundo” sabe, o Latim Vulgar era a
língua falada pela “plebe rude” (“enquanto
a plebe rude na cidade dorme...”), ou seja, soldados, camponeses, escravos,
putas e todo o pessoal que fazia alguma coisa de útil em Roma. Os patrícios,
quando ainda estavam sóbrios, antes ou depois de uma boa orgiazinha, falavam ou
escreviam em Latim Clássico, usando a língua de uma forma, digamos, “clássica”
(mas não exatamente conservadora). Bom, não era bem isso o que eu queria dizer, mas acho
que “todo mundo” entendeu.
Agora, pensem bem, se escrevendo dessa forma
cheia de teias de aranhas o Olavinho ainda achava “inculta e bela” o velho e
bom português, o que ele diria se recebesse mensagens pelos uatizape da vida? Caia
duro, lógico.
E aí fica uma provocação: o idioma usado hoje
nas redes sociais seria uma espécie de “Português Vulgar”. Nessa linha de
raciocínio, a futura “flor do Lácio” dele derivada será uma língua de grunhidos
e monossílabos. (acho que peguei pesado...).
Não, você não pegou pesado. Com essa mutilação da língua, voltaremos,sim, ao gutural, ao áá uu áá uu.
ResponderExcluirE não somos apenas nós dois quem pensamos assim, quem já tivemos essa sacada : há muitos anos, assim que começou essa coisa de bate-papo e redes sociais, José Saramago emitiu a mesmíssima a esse respeito.
Rapaz, eu nem sonhava com essa do Saramago! Como já disse antes, não sou criativo, sou reativo. Depois de ler seu post do "Pall Mall" (muito bom, por sinal), fiquei matutando sobre o lance do latim vulgar, essas coisas. O segundo estímulo veio do Kibe Loko, onde eu vi alguém falando em "simento" (cimento). Não deu outra e saiu este post influenciado pelo Marreta (vou acabar te nomeando sócio do Blogson).
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