quarta-feira, 8 de junho de 2016

ÚLTIMA FLOR DA INTERNET

LÍNGUA PORTUGUESA
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Nesse soneto com cheiro de naftalina o poeta Olavo Bilac louva o idioma português, que seria “a última língua derivada do Latim Vulgar falado no Lácio, uma região italiana”.

Como “todo mundo” sabe, o Latim Vulgar era a língua falada pela “plebe rude” (“enquanto a plebe rude na cidade dorme...”), ou seja, soldados, camponeses, escravos, putas e todo o pessoal que fazia alguma coisa de útil em Roma. Os patrícios, quando ainda estavam sóbrios, antes ou depois de uma boa orgiazinha, falavam ou escreviam em Latim Clássico, usando a língua de uma forma, digamos, “clássica” (mas não exatamente conservadora). Bom, não era bem isso o que eu queria dizer, mas acho que “todo mundo” entendeu.

Agora, pensem bem, se escrevendo dessa forma cheia de teias de aranhas o Olavinho ainda achava “inculta e bela” o velho e bom português, o que ele diria se recebesse mensagens pelos uatizape da vida? Caia duro, lógico.

E aí fica uma provocação: o idioma usado hoje nas redes sociais seria uma espécie de “Português Vulgar”. Nessa linha de raciocínio, a futura “flor do Lácio” dele derivada será uma língua de grunhidos e monossílabos. (acho que peguei pesado...).

2 comentários:

  1. Não, você não pegou pesado. Com essa mutilação da língua, voltaremos,sim, ao gutural, ao áá uu áá uu.
    E não somos apenas nós dois quem pensamos assim, quem já tivemos essa sacada : há muitos anos, assim que começou essa coisa de bate-papo e redes sociais, José Saramago emitiu a mesmíssima a esse respeito.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rapaz, eu nem sonhava com essa do Saramago! Como já disse antes, não sou criativo, sou reativo. Depois de ler seu post do "Pall Mall" (muito bom, por sinal), fiquei matutando sobre o lance do latim vulgar, essas coisas. O segundo estímulo veio do Kibe Loko, onde eu vi alguém falando em "simento" (cimento). Não deu outra e saiu este post influenciado pelo Marreta (vou acabar te nomeando sócio do Blogson).

      Excluir

ESTRELA, ESTRELA DE BELÉM!

  Na música “Ouro de Tolo” o Raul Seixas cantou estes versos: “Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado. Macaco, praia, ...