quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

OLHA O PONDÉ AÍ DE NOVO (PARTE II)

 
Continuando com a promoção "pague um, leve dois" eis o link de um dos posts que mais gostei de escrever, um poema que nada tem a ver com o texto do Pondé apresentado a seguir 


Está na moda dizer que o “outro” é lindo. Mentira. Quando o “outro” não cria problema, não há nenhum valor ético supremo em tolerá-lo. E, quando cria, quase sempre ninguém o tolera.
 
Veja, por exemplo, os eventos para diálogo inter-religioso. A discussão não pode durar mais do que meia hora, e logo deverão servir os drinks e os croquettes, porque mais do que meia hora implicaria começar a falar a sério sobre as diferenças entre as religiões (as religiões não querem todas a mesma coisa, isso é conversa “de mulherzinha”). Imagine cristãos e judeus conversando sobre suas religiões. Cristãos assumem que Jesus foi o Messias que os judeus esperavam (e também que Ele é Deus), e, portanto, os judeus teriam perdido o bonde da história ao não reconhecer Jesus como Messias. Por sua vez, os judeus pensam que os cristãos pegaram o bonde errado ao assumir que Jesus foi o Messias. Logo, conflito. Melhor tomar drinks e comer croquettes.
 
Muçulmanos são lindos, índios são lindos, a África é linda, canibais são lindos, imigrantes ilegais são lindos, enfim, todos os “outros” são lindos. Uma das áreas mais amadas pela praga do politicamente correto é a chamada “ética do outro”, ou seja, uma obrigação de acharmos que o “outro” é sempre legal. “Outro” aqui significa quase sempre outras culturas ou algo oposto a Igreja, Deus, heterossexual, capitalismo ou arrumar o quarto e lavar o banheiro todo dia.
 
Evidente que conviver com o diferente é essencial numa sociedade como a nossa, assolada pelos movimentos geográficos humanos, mas daí a dizer que todo outro é lindo é falso e, como sempre acontece com o politicamente correto, desvaloriza o próprio drama da convivência com o outro.
 
Salta aos olhos que muita gente se faz de bonzinho em cima do discurso politicamente correto tipo “save the whales”. Parece-me difícil sobreviver se quisermos salvar tudo o que vive sobre o planeta. E o que mais espanta é que justamente a tal da natureza é a primeira a ser cruel, e eles parecem que não veem. Basta ver o canal Discovery para perceber que não existe a natureza politicamente correta, ela é o oposto dessa praga.
 
O politicamente correto parece ser anticientífico. Mas, mais do que isso, ele faz mal para homens e mulheres porque atrapalha milhares de anos de seleção natural de comportamentos nos quais homens e mulheres se reconhecem. A pressão pela “crítica ao macho” contamina as relações porque, apesar de se falar muito hoje em dia sobre homens serem mais sensíveis do que outrora, as mulheres (que não suportam fracos) só aguentam a sensibilidade masculina até a página três. Passou daí, elas se enchem.
 
As feias odeiam as bonitas (os feios e pobres também porque não conseguem pegá-las). Não, não estou sendo cínico. A beleza não é um ponto isolado no espaço, mas um gradiente e um conjunto de características físicas associadas a traços “invisíveis” da alma. Beleza atrai inveja, e, nas mulheres, beleza é sempre fundamental. Sendo assim, pode uma mulher usar sua beleza como forma de sobrevivência ou ela deve buscar ser feia porque a maioria é e, assim, ela estaria sendo politicamente correta?
 
A maior inimiga da beleza da mulher é a outra mulher, a feia. A condenação do uso da beleza feminina por parte das mulheres é uma ferramenta das que não têm, por azar (a beleza ainda é um recurso contingente), acesso à beleza, seja porque são feias, seja porque (no caso dos homens), em sendo feio (ou fraco), ele não pode “pegar” a beleza da mulher nas mãos, beijá-la ou penetrá-la. Claro que há sofrimento aqui, mas de nada adianta “resolver” o sofrimento negando um fato óbvio: as feias têm raiva das bonitas.
 
O alcance espiritual da beleza é fato estudado pelas religiões: o mal inveja a beleza do bem. Mas, para além (ou aquém) da dimensão espiritual, não há nada melhor no mundo do que uma mulher linda a fim de você. Por isso é melhor levarmos a beleza mais a sério. Toda tentativa de proibir a exibição da beleza feminina é um ato nascido da inveja. Se você for bonita, observe se no trabalho não tem alguma feia que a detesta. O ódio das feias pelas bonitas nada mais é do que a agonia que a abundância gera na precariedade. Como somos seres precários (somos mortais, insignificantes cosmicamente e frágeis biologicamente), a falta de beleza é a regra (quase) universal.

Sou professor e gosto de dar aula, coisa rara na área. Na maioria dos casos, professores de universidade (ou não) são pessoas que, além de não gostar dos alunos, têm uma inteligência mediana e foram, quando jovens, alunos medíocres, que fizeram ciências humanas porque sempre foi fácil entrar na faculdade em cursos de ciências humanas. Claro que quase todos pensavam em si mesmos como Marx ou Freud ainda não revelados. Ao final, o que se revela com mais frequência é alguém fracassado que ganha mal e odeia os alunos. Professores normalmente não gostam de ler ou de estudar, mas dizem que esse pecado é apenas dos alunos. Há um enorme sofrimento na maioria dos professores porque têm de fingir o tempo todo que acreditam na importância do que fazem. A maioria sucumbe.
 
Outro tipo mentiroso e politicamente correto é o “artista”. As artes plásticas contemporâneas ajudam muito para isso, na medida em que gente que não sabe desenhar pode ser artista figurativo. Nada que eu consiga desenhar ou pintar pode ser levado a sério como arte figurativa, porque eu não sei pintar ou desenhar nada. Um amigo num caderno cultural importante ou uma tese de doutorado ilegível numa universidade de nome sobre a obra de alguém pode fazer dele um grande artista.
 
Um dos projetos da minha vida é não viajar nunca mais, pelo menos, cada vez menos e para menos longe. Exterior, nem pensar. Se acha estranho o que eu estou dizendo, é porque você não viaja o suficiente ou porque sofre daquele tipo de sintoma característico da “espiritualidade” da classe média, que é “querer conhecer o mundo, os museus, os aeroportos e sentir frisson porque irá a Paris”. Se você bate foto dentro do avião, é porque não há esperanças para você. Ficar feliz por sair de férias de avião é brega. Um conselho: se você tem mais de 20 anos e acha avião chique, finja que não acha. Sinto dizer, o mundo acabou. Fique em casa.



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