Um dia, há muito tempo (eu era mais
inteligente que hoje), tive a percepção de que as pessoas comuns, aquelas que
nunca serão famosas, que nunca se distinguiram em nada, que nunca foram
protagonistas de grandes momentos históricos, aquelas anônimas que representam
mais de 99% da população mundial e que nunca serão lembradas em livros de história,
não terão bustos em praça pública nem discos gravados ou filmes guardados em
cinematecas só permanecerão “vivas” enquanto existir alguém que ainda guarde
seus retratos, saiba como se chamavam e se lembre de seus casos. Quando nada
mais disso acontecer elas desaparecerão definitivamente, virando apenas “poeira
de estrelas”.
Infelizmente, por mais simpáticas,
inteligentes, divertidas que tenham sido essas pessoas, seu destino é ser
rapidamente esquecidas. Não há mandinga ou panaceia que cure essa caminhada
rumo ao esquecimento mais absoluto. Você, por exemplo, quando ninguém mais der
notícias suas, do que foi ou que fez, de suas pequenas vitórias, derrotas ou
perdas, aí você entrará para o grupo dos bilhões de anônimos que passaram pela
Terra e que viraram apenas átomos e alguns ossos. O que, convenhamos, é uma
puta injustiça, ainda mais se lembrarmos de que existem idiotas que são
incensados e adorados por multidões mesmo sem ter nenhuma qualidade para que
isso aconteça.
Algumas pessoas estranham e talvez até me critiquem
por eu ter me dedicado a escrever e publicar no Blogson as poucas lembranças de
meus familiares e pessoas com quem convivi. Em minha defesa posso dizer que o
carinho e a amizade que senti por elas sempre permearam os textos mais
descontraídos que escrevi. Além disso, jamais pensei em escrever biografias solenes
e “engravatadas”, pois meu desejo sempre foi traçar retratos “falados” divertidos
que captassem a essência de cada um, talvez por acreditar que a simplicidade dos
casos e das pessoas retratadas pudesse encontrar ressonância com a vida se não
da maioria mas, pelo menos, de algumas pessoas.
Ma\s o poeta Affonso Romano de Sant’Anna levantou
uma questão em minha mente quando perguntou “Por
que só um bom romancista consegue captar as histórias e dar-lhes uma dimensão
universal e intemporal? O que há na escrita do escritor que transforma em arte
algo que era simplesmente um ‘causo’ ou notícia de jornal?”
Acho difícil encontrar uma resposta decente
para essa pergunta, principalmente por não ser romancista e, menos ainda, um
bom romancista. Mas concordo com estas palavras do jornalista Diogo Schelp: “Qualquer
vida, se tem o narrador certo, merece um livro ou, pelo menos, um capítulo”. Por isso, quando escrevi as lembranças de
meus familiares e amigos talvez não tenha sido o narrador certo,
apenas o único.
Talvez o único certo.
ResponderExcluirContinuo pensando que sou apenas o único, pois existem pessoas que acreditam que violo a intimidade e exponho a privacidade de quem já morreu. Mas em um formigueiro de oito bilhões de humanos eu continuo acreditando que faço um elogio e uma homenagem essas pessoas, ao tentar lembrar de casos pitorescos que me contaram ou presenciei, mesmo que possam às vezes ser questionáveis pelos mais moralistas.
ExcluirSinceramente, uma vez que citados com tanto respeito e carinho, todos eles se sentiriam honrados.
ExcluirCarinho sim, respeito nem tanto, pois sempre fui meio amolecado e sempre gostei mais das "histórias que nossas babás não contavam", mas acredito que ririam intimamente e gostariam de relembrar os epísódios narrados.
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