terça-feira, 28 de novembro de 2023

NOW SEM RUMO

 
Você já parou para pensar como deve ser uma viagem a Marte? Uma viagem tripulada ao planeta vermelho é uma espécie de reality show espacial, uma miniatura de BBB, um Mini Brother. Mas o que falta em espaço (não tem piscina nem baladas) sobra em tempo de permanência no reality. E todos os participantes têm direito a ganhar o mesmo prêmio, que é voltar vivos para a Terra.

Já pensou o que é ficar confinado em uma espaçonave durante seis a oito meses, esperar uns dois anos para que a Terra e Marte voltem a se aproximar ao máximo e ainda aguentar mais seis a oito meses de viagem de volta? Quem encara uma pedreira dessas não pode ser considerado “normal” como a maioria dos habitantes deste planeta. Precisa ser mega resiliente e frio como Plutão, para não correr o risco de quebrar o pescoço de um coleguinha só porque ele comeu a barra de cereais que você guardou para depois do almoço.
 
Você alguma vez já se viu privado da liberdade de ir e vir? Melhor ainda, já ficou impedido de vagabundear sem pressa de voltar para casa? Torça, reze, ore para nunca chegar nesse estágio – a menos que você seja um dos astronautas da primeira viagem a Marte. E se for, lembre-se levar um estoque extra de barrinhas de cereal. Pois é...
 
Hoje convivo há seis ou sete meses com alguns problemas de saúde, convivência que faz com que eume sinta como um desses astronautas, como um prisioneiro sem algemas e sem grades dentro de minha própria casa. Quando preciso sair um pouco, seja para fazer alguma comprinha de supermercado ou para pegar medicamentos comprados pela internet sinto-me desconfortável, louco para voltar para casa.
 
Por morar talvez no bairro mais boêmio de BH, sinto um estranhamento enorme ao ver pessoas sentadas em volta de uma mesa de bar nas dezenas de bares existentes ou simplesmente andando ou conversando alegre e despreocupadamente. A sensação é a de ter um vidro nos separando. Eu vejo as pessoas se divertindo, me espanto e me pergunto se não sentem nada, se não têm dor, se conseguem se movimentar sem esforço, sem desconforto. E penso que ali não é meu lugar, que meu lugar é uma casa com a televisão ligada no volume quase máximo, assistida por um casal de idosos que cochila e acorda alternadamente, deitado em sua cama de casal.

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