Você já parou para pensar como deve ser uma
viagem a Marte? Uma viagem tripulada ao planeta vermelho é uma espécie de
reality show espacial, uma miniatura de BBB, um Mini Brother. Mas o que falta em espaço
(não tem piscina nem baladas) sobra em tempo de permanência no reality. E todos
os participantes têm direito a ganhar o mesmo prêmio, que é voltar vivos para a Terra.
Já pensou o que é ficar confinado em uma
espaçonave durante seis a oito meses, esperar uns dois anos para que a Terra e
Marte voltem a se aproximar ao máximo e ainda aguentar mais seis a oito meses
de viagem de volta? Quem encara uma pedreira dessas não pode ser considerado “normal”
como a maioria dos habitantes deste planeta. Precisa ser mega resiliente e frio como Plutão, para não correr o risco de quebrar
o pescoço de um coleguinha só porque ele comeu a barra de cereais que você
guardou para depois do almoço.
Você alguma vez já se viu privado da
liberdade de ir e vir? Melhor ainda, já ficou impedido de vagabundear sem
pressa de voltar para casa? Torça, reze, ore para nunca chegar nesse estágio – a
menos que você seja um dos astronautas da primeira viagem a Marte. E se for,
lembre-se levar um estoque extra de barrinhas de cereal. Pois é...
Hoje convivo há seis ou sete meses com alguns problemas de saúde, convivência que faz com que eume sinta como um desses astronautas, como um prisioneiro sem
algemas e sem grades dentro de minha própria casa. Quando preciso sair um
pouco, seja para fazer alguma comprinha de supermercado ou para pegar
medicamentos comprados pela internet sinto-me desconfortável, louco para voltar
para casa.
Por morar talvez no bairro mais boêmio de BH,
sinto um estranhamento enorme ao ver pessoas sentadas em volta de uma mesa de
bar nas dezenas de bares existentes ou simplesmente andando ou conversando alegre e despreocupadamente.
A sensação é a de ter um vidro nos separando. Eu vejo as pessoas se divertindo,
me espanto e me pergunto se não sentem nada, se não têm dor, se conseguem se
movimentar sem esforço, sem desconforto. E penso que ali não é meu lugar, que meu
lugar é uma casa com a televisão ligada no volume quase máximo, assistida por um casal de idosos que cochila e acorda alternadamente, deitado em sua cama de
casal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário