quinta-feira, 30 de novembro de 2023

BIS

Se quiser criticar alguém

Use o cérebro como meio

De criar suas próprias frases

Não fique no copycola

Do pensamento alheio

 

Demonstrar sua bitola

E que veste com gosto um arreio

Sua imagem em nada melhora

Pois de boas e más intenções

O inexistente inferno está cheio

 


quarta-feira, 29 de novembro de 2023

UM MESTRE DA GUITARRA

 
Em 2014 um grupo de feras da guitarra foi reunido para a realização de um show que percorreu alguns estados do Brasil. O nome era Brasil Guitarras ou Guitarras do Brasil. Uma das apresentações aconteceu em BH, na praça principal do bairro onde moro. Os guitarristas apresentavam-se em dupla, acompanhados de baixo e bateria.
 
Encontrei esta foto na internet, onde aparecem da esquerda para a direita: Lanny Gordin, Luis Sérgio Carlini (Tutti Frutti), Marcelo Barbosa (Angra), Edgard Scandurra (Ira!), Armandinho Macedo, Kiko Loureiro (Megadeth), Andreas Kisser (Sepultura) e Pepeu Gomes. Sentados, Toninho Horta e um que eu não descobri o nome. Lembrei-me disso hoje depois de ler a notícia do falecimento de Lanny Gordin.


 
Embora eu conhecesse sua fama de super fera de guitarrista do Tropicalismo, fiquei decepcionado por seu aspecto alquebrado e sua apresentação meio apagada, sentado em uma cadeira. Creio que fez dupla com o Toninho Horta, mas não me lembro de nada do que tocou . Por isso, para celebrar sua fase áurea, resolvi compartilhar um link com os dois leitores deste blog.
 
Em 1971 a Gal Costa fez uma série de apresentações do show “Fatal”. A gravação desse show rendeu o álbum duplo “Fa-Tal - Gal a todo vapor”, um disco “do barbalho”, como diria o Gilberto Gil. E Lanny Gordin foi quem formatou o som desse show.

De repente sumiu. Só fiquei sabendo o motivo na época do show na praça. "Lanny teve um quadro de esquizofrenia agravado pelo uso de LSD. Foi internado diversas vezes pelo pai em sanatórios. Nestas internações, chegou a ser submetido a eletrochoques e, por alguns anos, ficou afastado do meio musical. Lanny  voltou para os palcos em meados de 1980". Olha ele aí na fase tropicalista:


E agora, a belíssima Pérola Negra do Luis Melodia, com a Gal esmerilhando no vocal maravilhoso e o Lanny mandando ver nos fraseados de guitarra. Fica como minha homenagem e reverência a esse trio, que agora "dorme profundamente". Escutaí.



terça-feira, 28 de novembro de 2023

NOW SEM RUMO

 
Você já parou para pensar como deve ser uma viagem a Marte? Uma viagem tripulada ao planeta vermelho é uma espécie de reality show espacial, uma miniatura de BBB, um Mini Brother. Mas o que falta em espaço (não tem piscina nem baladas) sobra em tempo de permanência no reality. E todos os participantes têm direito a ganhar o mesmo prêmio, que é voltar vivos para a Terra.

Já pensou o que é ficar confinado em uma espaçonave durante seis a oito meses, esperar uns dois anos para que a Terra e Marte voltem a se aproximar ao máximo e ainda aguentar mais seis a oito meses de viagem de volta? Quem encara uma pedreira dessas não pode ser considerado “normal” como a maioria dos habitantes deste planeta. Precisa ser mega resiliente e frio como Plutão, para não correr o risco de quebrar o pescoço de um coleguinha só porque ele comeu a barra de cereais que você guardou para depois do almoço.
 
Você alguma vez já se viu privado da liberdade de ir e vir? Melhor ainda, já ficou impedido de vagabundear sem pressa de voltar para casa? Torça, reze, ore para nunca chegar nesse estágio – a menos que você seja um dos astronautas da primeira viagem a Marte. E se for, lembre-se levar um estoque extra de barrinhas de cereal. Pois é...
 
Hoje convivo há seis ou sete meses com alguns problemas de saúde, convivência que faz com que eume sinta como um desses astronautas, como um prisioneiro sem algemas e sem grades dentro de minha própria casa. Quando preciso sair um pouco, seja para fazer alguma comprinha de supermercado ou para pegar medicamentos comprados pela internet sinto-me desconfortável, louco para voltar para casa.
 
Por morar talvez no bairro mais boêmio de BH, sinto um estranhamento enorme ao ver pessoas sentadas em volta de uma mesa de bar nas dezenas de bares existentes ou simplesmente andando ou conversando alegre e despreocupadamente. A sensação é a de ter um vidro nos separando. Eu vejo as pessoas se divertindo, me espanto e me pergunto se não sentem nada, se não têm dor, se conseguem se movimentar sem esforço, sem desconforto. E penso que ali não é meu lugar, que meu lugar é uma casa com a televisão ligada no volume quase máximo, assistida por um casal de idosos que cochila e acorda alternadamente, deitado em sua cama de casal.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

O NOVO NORMAL

 
Uma de minhas cunhadas contou um caso tão inusitado que eu não resisti à tentação de recontá-lo aqui no Blogson. É um daqueles casos que te fazem chorar de tristeza ou rolar de rir, tão bizarra é a situação. Mas antes preciso definir o cenário onde tudo ocorre.
 
A casa dessa irmã de minha mulher é parte de um quarteirão atípico para os padrões urbanísticos da originalmente planejada BH, pois é uma “lingüiça”, uma faixa de terreno de aproximadamente 170 por 45 metros. Creio que a explicação para isso é o fato de o terreno transformar-se em uma barroca logo após a rua, com uma inclinação para cabrito nenhum botar defeito. Falei dessa particularidade para dizer que o lote de minha cunhada vai de uma rua à outra e que o acesso à garagem se dá pela rua que separa a barroca do quarteirão.
 
Pois bem (está difícil dar sequência ao texto!), essa barroca foi progressivamente se transformando em uma favela típica com seus becos, escadarias barracos e casas humildes. Os antigos moradores são pessoas amistosas e corteses, sujeitos apenas um eventual porre de cachaça e cerveja. Pelo menos era assim que parecia ser em passado não muito remoto, até as drogas surgirem. Obviamente não existe droga sem um ponto de venda, sem um dono da “boca” e sem os usuários que vão ali comprar o “bagulho”.
 
Como o portão da garagem da casa de minha cunhada fica exatamente em frente a uma das entradas da favela, ela acabou conhecendo alguns de seus moradores e moradoras. E é aqui que começa a história.
 
O dono da boca de fumo morava na favela e era um jovem educado no trato, mas rigoroso com as normas de funcionamento de seu negócio. Para começo de conversa nenhum maloqueiro, nenhum “noiado” tinha o direito de ficar enchendo o saco da clientela ou dos moradores das proximidades da boca. O cliente chegava – muitas vezes de carro bacana -, descia a escadaria íngreme, ia até a “pista”, comprava a mercadoria e vazava. Tudo organizado, tudo tranquilo.
 
Mas dizem que não há bem que sempre dure e foi isso que aconteceu. Assassinaram o dono da boca. Quem fez e por que fez isso não importa, só sei que um traficante de outra favela foi quem assumiu o ponto. E aí a região virou uma zona. Como o novo dono não mora no bairro, a única preocupação que tem é de manter o negócio “operacional”, sem batidas de polícia nem nada.
 
E para garantir a segurança da boca recrutou os viciados em crack, os “noiados”, para servir de vigias ou olheiros. E este é o final bizarro do caso. O pagamento é feito em pedras de crack. Fica o coitado o dia todo na entrada da favela, olhando para um lado e para o outro e gritando “Normal!” a cada cinco, dez minutos. “Morador” é outra opção. Imagino o que existam outros avisos, mas o mais frequente é “Normal”.
 
Dizem que um dia a polícia apareceu e ele se esqueceu ou não teve tempo de gritar. O castigo foi tomar uma surra de tijolo (!!) que o deixou bastante machucado. Depois, arranjaram um venezuelano que fica gritando “Normal!” com sotaque. E hoje alguns moradores de rua e usuários de crack já se amontoam nas proximidades para dar suas cachimbadas despreocupadamente. Normal!

 


sexta-feira, 24 de novembro de 2023

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

 
Li uma reportagem no site da BBC News Brasil cujo título é “As mulheres que desistiram de ter filhos por temor sobre mudanças climáticas”.
 
Para mim, decisão mais que acertada, pois sempre me angustio ao pensar em minhas netinhas e o mundo em que viverão. Mas achei curiosa a opinião de uma jovem brasileira de 23 anos, que disse "Não consigo me ver como responsável pela vida de outro ser humano, por gerar uma nova vida que se tornaria mais um fardo para um planeta que já está tão sobrecarregado".
 
Percebe-se imediatamente que é uma pessoa do bem, equilibrada e sensata. Só que cometeu um erro de julgamento ao dizer que um filho seria “mais um fardo para um planeta que está tão sobrecarregado”.
 
Se eu pudesse, gostaria de dizer a ela:
- Júlia (esse é seu nome), as crianças que estão nascendo hoje não serão “mais um fardo para o planeta”, é o planeta que será um fardo para as criancinhas de hoje, um fardo dificílimo de carregar, de suportar.

PREZADOS MARRETA E RYK@RDO

 



EU SOU NORMAL!

 
O excesso de acessos que vem ocorrendo no Blogson talvez tenha relação com a grande quantidade de posts “desentranhados” das profundezas do blog, o que tenho achado ótimo. Como disse, releio todos, divirto-me ou me envergonho pelo que publiquei em algum momento. Mas leio também os comentários. E o que descobri, ou melhor, comecei a notar é que alguns posts trazem apenas minhas respostas a comentários agora inexistentes. Fiquei encucado com isso e resolvi averiguar.
 
Tenho uma planilha Excel onde relaciono todas as mais de 2.700 postagens feitas até hoje, a data de sua publicação, os marcadores a que estão vinculadas, as visualizações obtidas e a quantidade total de comentários de cada post (programa de índio!). Por isso, descobri que o post “Dissonância Cognitiva Coletiva” teve excluídos (não por mim!) três comentários de leitores, restando apenas minhas duas respostas.
 
Diante disso, fica o aviso: não é minha culpa se parecer que eu ando falando sozinho por aí ou respondendo a comentários vindos do “além”. Pondo os pingos nos is, EU SOU NORMAL!


FRENESI


Quem deu o alerta foi meu amigo Marreta, ao dizer que os robôs do blogger estavam promovendo uma visualização exponencialmente elevada de seu blog.
 
Fiquei na minha, pois o Blogson é um blog visitado por apenas duas pessoas. De repente, entretanto, ao acessar o blog tive a sensação de ouvir um zumzumbido circulando em torno de minha cabeça. Aí resolvi instalar no computador uma câmera com sensor infraverdeamarelo e capturei esta imagem mostrando os robozinhos em marcha, prontos para bisbilhotar o velho Blogson.
 
Mas a explicação para as 1.204 visualizações que o transformaram em um "Hyghly visited blog" deve ser o calor absurdo que tem feito, fazendo com que os minúsculos e simpáticos robôs entrassem em frenesi e saíssem um pouco do controle (a Física explica). Olha eles aí:





quinta-feira, 23 de novembro de 2023

PESADELO

 
Em sonho vi você surgir
Sorrindo, a me seduzir
Confesso que - surpreendido -
Como um louco corri, não resisti,
Para sempre disposto a seguir
A miragem de tempos idos.
 
De tudo faria para tornar-me sedutor. Mentiria.
Lembranças de lugares a que nunca fui,
Países que não visitei, tudo inventaria.
Vitórias e conquistas que nunca alcancei,
Contaria passadas histórias para te encantar,
Belas imagens para te fascinar.
 
E depois desse jogo de sedução
Que nunca acontecerá
Feliz e aliviado acordaria.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

O PALETÓ DO BUROCRATA

 
Eu tenho a mania-obsessão de acompanhar as estatísticas do blog e reler todos os posts antigos que alguém se interessou  em acessar. Leio inclusive os comentários porventura feitos na época de sua publicação. Para minha surpresa, ultimamente isso tem acontecido com muitas postagens, sinal de que algum maluco ou maluca resolveu fazer uma expedição arqueológica ao velho Blogson.
 
Minha reação – além da surpresa – alterna puro prazer com algum constrangimento. O prazer surge ao ler textos há muito esquecidos, divertidos ou bem escritos e os comentários engraçados e preciosos de quem nunca mais acessou o blog. O constrangimento segue a mesma linha, mas em lugar de prazer o que sinto é vergonha pela péssima qualidade do material escrito ou pelas opiniões que emiti e que não têm mais ressonância com minha maneira atual de pensar.
 
Resumindo, hoje eu percebo que o Jotabê do início do Blogson era uma pessoa ensolarada, alegre na maior parte do tempo, sempre disposto a surpreender e comover ou fazer rir os “2,1 leitores” com assuntos sem pé nem cabeça ou lembranças pessoais e “causos” antigos.
 
O Jotabê atual, entretanto, é como um funcionário público em fim de carreira, um burocrata que passa o tempo arquivando relatórios inúteis e controlando o relógio, louco para pegar seu paletó e voltar para casa, um  personagem triste, permanentemente deprimido, sem inspiração e incapaz de escrever textos que encantem e seduzam a quem os lê.
 
Onde foi parar o élan antigo, a “joie de vivre” de alguns anos atrás? Hoje mal me reconheço nos retratos 3 x 4 que fui colecionando ao longo da vida. Em qual deles, em qual época está quem eu tento rever e não consigo?


EFEITO KIRLIAN
Muitas vezes fui cobrado para provar que era real e não um personagem inventado, mas sempre me recusei a tornar pública a imagem de meu alterego Jotabê. Hoje o Blogson tem apenas dois leitores. Por isso, resolvi dar um "presente" a quem sempre aceitou meu modo de ser sem criticar. Em qual dessas imagens está meu eu verdadeiro? Em qual desses retratos eu me reconheço? Em qual deles se pode pressentir minha aura, minha essência?





domingo, 19 de novembro de 2023

ESTE TEXTO É UMA...

 
Já publiquei aqui no blog muitas crônicas do Rubem Braga, por isso, se alguém mais severo e crítico disser que “falta de assunto é foda!”, não terei como reclamar. Para ser sincero, é melhor transcrever textos de autores consagrados que falar das eleições na Argentina, guerra na Ucrânia, tragédia palestina ou escrever textos tão sem valor quanto uma telessena não premiada.
 
Mas a overdose de crônicas do velho Braga tem uma explicação simples. Há muito tempo minha mulher ganhou de presente o livro “200 Crônicas Escolhidas”. Até então eu nunca tinha lido nada desse autor, mas já nas primeiras crônicas me tornei fã incondicional do capixaba, pois ele escrevia bem demais, de um jeito que eu sempre sonhei conseguir escrever – mas isso nunca foi nem será possível para um zé mané qualquer como eu, lógico.
 
À medida que ia lendo o livro ficava tão fascinado com algumas crônicas que o primeiro desejo foi enviá-las através de e-mail para meus amigos e parentes do mundo real (o blog ainda não existia). O problema era o trabalho insano e difícil de escanear cada página com OCR sem danificar demais a encadernação, e ainda ter de corrigir ortografia, etc.
 
Encontrei algumas crônicas na internet e só. Foi aí que tive a ideia de procurar na internet os textos desejados utilizando frases inteiras na busca. Para encurtar a conversa, acabei encontrando um site alemão (veja você!) que tinha TODO o livro escaneado e disponível para cópia.
 
Óbvio que copiei o arquivo e me preparei para encaminhá-lo aos amigos. Ele tinha apenas dois defeitos: muitos erros decorrentes do escaneamento (troca de letras e formatação igual às páginas originais, etc.). Justamente por esses problemas desisti de mandar o arquivo para os amigos, preferindo corrigir e reformatar apenas as crônicas que mais me encantaram.
 
Corrigir uma ou duas crônicas não dá tanto trabalho, mas fazer isso com vinte, trinta ou quarenta textos é um trabalho do cacete. O resultado foi também abandonar essa ideia.
 
Não faz muito tempo, um de meus filhos me deu de presente o mesmo livro. Não falei nada e fiquei com ele todo felizão, pois o primeiro era de minha mulher. Quando não havia mais possibilidade de trocar o livro contei para meu filho, que ficou muito puto. Foi uma idiotice da minha parte, pois só ganho livros de presente de meus filhos, o que acaba se tornando um problema pela crescente falta de espaço para guardá-los. Por isso, resolvi dar esse livro para minha nora, casada com o filho que comprou o livro. Coisa de gente louca ou mal agradecida? Acho que não, pois é um presente precioso.
 
Mas antes de me desfazer desse livro, resolvi corrigir o arquivo baixado do site alemão. Agora que acabei de ler o chatíssimo livro "Catástrofe", voltei a reler todas as duzentas crônicas; quando encontro uma que me faz babar de alegria novamente, faço sua correção e reformato o texto. Estou na dúvida se publicarei algumas no Blogson, pois não queria usar outros autores para suprir a falta de assunto. Se o fizer, no entanto, imagino que será uma leitura extremamente prazerosa para as duas pessoas que ainda acessam o Blogson.
 
Quando acabar de fazer toda essa operação, darei o livro para minha nora. E nem posso demorar muito, pois o Natal não tarda a chegar e já estou com um livro que ganhei desse filho no Dia dos Pais ainda na embalagem. Corre, Jotabê!

 


sábado, 18 de novembro de 2023

NÃO QUERO FALAR DE POLÍTICA!

 
Já publiquei aqui no blog muitas crônicas do Rubem Braga, por isso, se alguém mais severo e crítico disser que “falta de assunto é foda!”, não terei como reclamar. Para ser sincero, é melhor transcrever textos de autores consagrados que falar das eleições na Argentina, guerra na Ucrânia ou da tragédia palestina ou escrever textos tão sem valor quanto uma telessena não premiada.
 
Mas a overdose de crônicas do velho Braga tem uma explicação simples. Há muito tempo minha mulher ganhou de presente o livro “200 Crônicas Escolhidas”. Até então eu nunca tinha lido nada desse autor, mas já nas primeiras crônicas me tornei fã incondicional do capixaba, pois ele escrevia bem demais, de um jeito que eu sempre sonhei conseguir escrever – mas isso nunca foi nem será possível para um zé mané qualquer como eu, lógico.
 
À medida que ia lendo o livro ficava tão fascinado com algumas crônicas que o primeiro desejo foi enviá-las através de e-mail para meus amigos e parentes do mundo real (o blog ainda não existia). O problema era o trabalho insano e difícil de escanear cada página com OCR sem danificar demais a encadernação, e ainda ter de corrigir ortografia, etc.
 
Encontrei algumas crônicas na internet e só. Foi aí que tive a ideia de procurar na internet os textos desejados utilizando frases inteiras na busca. Para encurtar a conversa, acabei encontrando um site alemão (veja você!) que tinha TODO o livro escaneado e disponível para cópia.
 
Óbvio que copiei o arquivo e me preparei para encaminhá-lo aos amigos. Ele tinha apenas dois defeitos: muitos erros decorrentes do escaneamento (troca de letras e formatação igual às páginas originais, etc.). Justamente por esses problemas desisti de mandar o arquivo para os amigos, preferindo corrigir e reformatar apenas as crônicas que mais me encantaram.
 
Corrigir uma ou duas crônicas não dá tanto trabalho, mas fazer isso com vinte, trinta ou quarenta textos é um trabalho do cacete. O resultado foi também abandonar essa ideia.
 
Não faz muito tempo, um de meus filhos me deu de presente o mesmo livro. Não falei nada e fiquei com ele todo felizão, pois o primeiro era de minha mulher. Quando não havia mais possibilidade de trocar o livro contei para meu filho, que ficou muito puto. Foi uma idiotice da minha parte, pois só ganho livros de presente de meus filhos, o que acaba se tornando um problema pela crescente falta de espaço para guardá-los. Por isso, resolvi dar esse livro para minha nora, casada com o filho que comprou o livro. Coisa de gente louca ou mal agradecida? Acho que não, pois é um presente precioso.
 
Mas antes de me desfazer desse livro, resolvi corrigir o arquivo baixado do site alemão. Agora que acabei de ler o chatíssimo livro "Catástrofe" voltei a reler todas as duzentas crônicas; quando encontro uma que me faz babar de alegria novamente, faço sua correção e reformato o texto. Estou na dúvida se publicarei algumas no Blogson, pois não queria usar outros autores para suprir a falta de assunto. Se o fizer, no entanto, imagino que será uma leitura extremamente prazerosa para as duas pessoas que ainda acessam o Blogson.
 
Quando acabar de fazer toda essa operação, darei o livro para minha nora. E nem posso demorar muito, pois o Natal não tarda a chegar e já estou com um livro que ganhei desse filho no Dia dos Pais ainda na embalagem. Corre, Jotabê!

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

INCOMPATIBILIDADE NATURAL

 
Eu devo ter alguma incompatibilidade com a telefonia móvel, com os aparelhos de telefonia móvel. Falando mais claramente, eu tenho problema com celulares, pois sempre acontece alguma coisa que me leva a pensar isso.
 
Já disse que sou horroroso para comprar presentes, pois erro todos. Cor, tamanho, modelo, estação do ano são barreiras intransponíveis para mim quando quero comprar uma roupa ou sapatos para minha mulher. Desde o início do namoro até hoje devo ter dado de trezentos a quatrocentos presentes para ela, acertando apenas cinco – três deles comprados com a ajuda de suas amigas. Em resumo, sou um desastre no quesito presente. Justamente por isso caminhei para as traquitanas eletroeletrônicas – celulares, notebook, aparelhos de som, televisores, refrigeradores, etc.
 
O primeiro celular que comprei para ela era ainda daqueles que nem tinham chip, mas fez um sucesso enorme. E eu, até por considerá-lo inútil e desajeitado para carregar no bolso da calça ou da camisa, nunca quis ter um. Tudo mudou quando compramos um refrigerador ou lavadora de roupas e ganhamos um aparelhinho de brinde, na cor “azul bebê”. E na tela minúscula ainda aparecia um desenho da Xuxa! Nem preciso dizer quem ficou com ele, não é?
 
Eu morria de constrangimento quando ele tocava e eu precisava atender, pois sempre via alguém por perto tentando segurar um sorriso de deboche. Povo cretino! Mas um dia a sorte sorriu para mim quando ganhei de minha mulher um smartphone novinho. Novinho e enorme, quase do tamanho de um tijolo. E foi aí que realmente surgiu minha incompatibilidade com esses aparelhinhos do capeta.
 
Fiquei pensando em como carregá-lo até perceber que as jovens o colocam no bolso traseiro de suas calças jeans. “É lá!”, pensei comigo, um “lugar” macio e protegido, só raramente apalpado por desconhecidos desavergonhados. Não tive dúvida, enfiei o tijolo na bunda, ou melhor, no bolso traseiro da calça, entrei no carro e ao sentar no banco do motorista imediatamente quebrei o celular. Minha mulher ficou uma fera, esbravejou e disse que “nunca mais me daria um celular”. Para encurtar a conversa, voltei para o celularzinho azul bebê – que eu dizia ser movido a carvão, de tão antiquado.
 
O tempo passou, a empresa onde trabalhava me deu um celular para usar durante o trabalho. Em uma vistoria que estava fazendo esqueci o merdinha em cima de alguma mesa e babau, tive de comprar um para repor o aparelho roubado. Em outro momento minha mulher resolveu trocar seu celular por modelo mais novo e me deu o antigo. Já escaldado com o presente quebrado, passei a carregá-lo no bolso da frente da calça. Quebrou também em uma das entradas no carro.
 
Aí já não tinha mais desculpa, eu e os aparelhinhos que as pessoas utilizam até mesmo para conversar éramos incompatíveis. Fiquei uns seis meses sem celular até um filho comprar um novo e repassar seu modelo antigo para mim.
 
Naquele momento eu já não tinha mais meu número antigo (a explicação é muito longa), a portabilidade tinha ido pro saco e eu fui obrigado a comprar um novo chip. Pedi ajuda ao antigo dono do aparelho para instalar o chip para mim. OK, “qual desses números você prefere?” O mais fácil de memorizar, foi a minha resposta. Informei por e-mail o novo número para minha mulher, meus filhos e alguns parentes. Mas não houve jeito de eu mesmo memorizar o diabo do número.
 
A brilhante solução jotabélica foi escrevê-lo em uma fita crepe colada nas costas do aparelho e protegida pela capa de plástico transparente. Isso até serviu para fazer piadinhas, pois quando alguém perguntava meu número eu dizia ter feito um upgrade e exibia a prova de meu retardamento mental.
 
Para não correr o risco de quebrá-lo também, passei a deixá-lo dentro do carro, da bolsa de minha mulher ou simplesmente esquecido em algum móvel da casa. Até esta semana. Precisando fazer algumas compras em um supermercado e não querendo ficar sem comunicação com minha mulher, resolvi procurá-lo. Liguei para ele, mas estava desligado. Revirei o carro, olhei todos os lugares da casa, todos os móveis e até dentro da geladeira (sei lá, vai que o Alzheimer pediu para que eu o guardasse ali!) e nada, um nada absoluto e definitivo.
 
“Deve ter caído quando saí do carro” ou “talvez o tenha esquecido na padaria, na farmácia ou supermercado”. Sacaneado com mais uma perda de celular fui fazer minhas compras. Na hora de pagar, sem nenhuma expectativa, perguntei à moça do caixa se teriam encontrado um celular esquecido por alguém. A fiscal da loja foi chamada e seguiu-se este diálogo:
- Tem quanto tempo que o senhor perdeu o aparelho?
- Sei lá, há uns três ou quatro dias.
- Qual a marca e o modelo?
- Não sei.
- Qual é o número dele?
- Também não sei, mas está desligado, provavelmente sem bateria. A única coisa que eu sei é que ele tem uma fita crepe colada nas costas do aparelho, onde eu anotei seu número, pois eu não consigo memorizá-lo.
- Aguarde aqui que eu preciso ir ao escritório, pois encontraram um celular esquecido no carrinho.
 
Alguns minutos depois volta a funcionária com um aparelho na mão e me pergunta se era aquele. Minha tentação imediata foi dizer que não, pois não vi a fita crepe. Entretanto, ao pegar o celular, percebi que apesar da fita crepe ter sido retirada, ainda havia sua marca nas costas do aparelho. Era ele!
 
Voltei para casa todo feliz, liguei-o no carregador de bateria e descobri que ele estava todo desconfigurado. Imagino que a primeira reação do funcionário que o encontrou deve ter sido o desejo de ficar com ele. Depois, talvez pensando nas onipresentes câmeras, resolveu entregá-lo à administração do supermercado.
 
Se você me perguntar agora onde o celular está, eu direi que está em algum lugar da casa ou dentro do carro, pois só utilizo a função “telefone”. Quando vou enviar um zap para meus filhos ou parentes utilizo o computador.
 
Uma coisa eu sei: para mim os celulares são como algumas pessoas que conheci – mesmo que não desgoste delas não temos nenhuma afinidade ou compatibilidade. Em compensação, se eu e os celulares não temos uma convivência muito amistosa, fiquei fã incondicional da fita crepe. Já estou até pensando em usá-la para me identificar. Sei lá, já pensou se o Alzheimer resolve me desencaminhar? Como farei para voltar para casa?

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

COMPRAR É UM VERBO MUITO IRREGULAR

Eu comprei

Tu me avalizaste

Ele acreditou

Nós deixamos de pagar

Vós fostes à bancarrota

Eles se atiraram do vigésimo andar

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A FALTA DE SONO ESTÁ ME FAZENDO DELIRAR

 
O livro “Catástrofe” que acabei de ler (que livro chato, meu Deus! 131 páginas só para indicar as fontes consultadas) faz referência a Eliezer Yudkowsky, um pesquisador americano que estuda inteligência artificial há mais de 20 anos e lidera o Machine Intelligence Research Institute (Instituto de Pesquisa de Inteligência de Maquinas). Uma de suas opiniões é de que “podemos criar involuntariamente uma IA hostil ou amoral que se volta contra nós – por exemplo, porque dizemos a ela para deter as mudanças climáticas e ela conclui que aniquilar o Homo Sapiens é a solução ideal”.
 
“Muitos pesquisadores imersos nessas questões, como eu, sabem qual será o resultado provável da criação de uma IA super-humana e superinteligente, nas circunstâncias atuais: todos na Terra irão morrer”.
 
Sinceramente, gostei dessa ideia, pois a espécie humana não merece mesmo ter chegado aonde chegou. Os problemas que surgiram causados pelas ações predatórias, descuidadas e imediatistas dos Sapiens me fazem crer na necessidade de uma Inteligência Artificial para por ordem na casa, no que restou da casa. Mesmo que isso represente uma mudança radical na organização social e econômica deste formigueiro de oito bilhões de pessoas.
 
Apesar disso fiquei um pouco preocupado com o futuro de minhas netinhas. Li não sei onde que serão necessários uns cinquenta anos para o surgimento de uma AI que se rivalize com a inteligência humana. Para mim, está de boa, pois daqui a cinquenta anos eu estarei conversando apenas com os átomos, 130 anos depois de ter nascido. Meus filhos também têm pouco com que se preocupar, pois o mais novo estará com 86 anos. O problema são as netinhas, mesmo que tenham se transformado em senhoras já idosas passado todo esse tempo.
 
Algum leitor mal humorado poderá se perguntar por que eu sou tão egoísta assim, que só me preocupo comigo mesmo e com meus familiares. Mas no fundo, no fundo, bem lá no fundo (uns 300 metros de profundidade) eu realmente me preocupo com meus semelhantes – mesmo que não encontre nenhuma semelhança entre eles e eu.
 
Por isso defendo a criação de várias AI amistosas que dominem e cuidem bem do planeta e de seus habitantes, muito melhores – por não passionais – que os idiotas que se alternam no poder. O problema que vejo é que nenhum líder político quererá entregar a rapadura assim de mão beijada. E aí chegamos ao ambiente distópico do “Grande Irmão” já descrito em vários livros e filmes de ficção. Algum cretino sempre achará que tem a solução para tudo e tentará impor sua vontade à população, como muitos já fizeram ou tentaram fazer antes dele.
 
Sinceramente, se pudesse escolher entre o mundo descrito em 1984 e aquele do filme Matrix eu ficaria com esse último, porque alienação por alienação eu prefiro uma que me faça feliz.
 
Mas o que eu gostaria mesmo de ver em ação seria uma AI anti-maldade, uma AI talvez de segundo escalão, voltada apenas para a resolução de pequenos problemas e proteção da sociedade. Seria uma AI com poderes para passar a régua nos socialmente condenáveis ou indesejados. Sua ferramenta poderia ser um chip instalado ainda na maternidade, cuja função seria identificar o portador e ser capaz de desligar seu cérebro ou coração. No futuro, pisou no tomate, click!
 
Essa IA não quereria enriquecer nem desejaria o poder, não seria afetada por crenças religiosas nem se curvaria a filigranas jurídicas. Sua ética seria apenas a do bem estar da maioria. Seria uma AI severa mas paternal, uma IAPInteligência Artificial Protetora, ou PAI – Protective Artificial Intelligence.
 
Esse PAI (custei para chegar neste trocadilho!) seria responsável por erradicar de forma definitiva (diz o ditado que "não se gasta boa vela com mau defunto") alguns males e problemas que afligem a sociedade, tais como: craqueiros ou cracudos (custo elevado de tratamento e baixa efetividade); traficantes; milicianos; pedófilos; estupradores; corruptos e corruptores, etc., etc.
 
Se você me perguntar a solução eu vou preferir ficar calado, mas creio que uma democracia talvez jamais consiga resolver problemas como esses. E eu que sou radicalmente contra governos autoritários teria de aceitar que o mundo vivesse sob uma ditadura comandada por Inteligência Artificial - fria, racional, sem emoção e implacável, mas melhor que imbecis com excesso de burrice natural. E esta gororoba que acabei de escrever descreve o que seria uma autêntica distopIA (esta piada final ficou um horror!).


domingo, 12 de novembro de 2023

VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ?

 
Hoje eu ouvi no rádio do carro um professor dizendo que 58% do território da Cisjordânia dos palestinos está ocupado por assentamentos israelenses e que o Hesbollah controla apenas 18% da área total desse território. Entre pasmo e puto fiquei pensando que a humanidade não tem jeito mesmo, merece e precisa ser extinta. Mais tarde, um pouco mais calmo e sem nenhuma vontade de pegar no batente, passei para o ChatGPT a missão de escrever um pequeno texto a partir de algumas considerações que fiz sobre o futuro da humanidade, o futuro das Cacás, Bias, Lelês, Lulus, dos filhos e netos dos Ricardos e das Majus, um futuro que tanto me preocupa e amedronta.
 
Tarefa:
Muitos escritores já abordaram temas distópicos relacionados à extinção da espécie humana, invasão de alienígenas, controle da humanidade por robôs, governos autoritários e todo tipo de tragédia ou drama. A superpopulação do mundo, o aumento das temperaturas e da poluição atmosférica, os desastres climáticos cada vez mais frequentes, a fome crônica em várias partes do planeta, o aumento do uso de drogas, tudo isso leva a crer que o futuro da humanidade caminha para o fim das democracias e o surgimento de governos autoritários, ditatoriais que se proponham a resolver esses problemas. Poderia fazer um texto sobre esse cenário distópico?
 
ChatGPT
Sim, vários escritores ao longo da história abordaram temas relacionados à superpopulação, mudanças climáticas, desigualdade social e o surgimento de governos autoritários em cenários distópicos. Um autor notável que explorou essas questões é George Orwell, especialmente em sua obra "1984", onde ele descreve um mundo controlado por um governo totalitário que manipula a verdade e a realidade para manter o poder.
Outro autor que tratou de temas distópicos é Aldous Huxley em "Admirável Mundo Novo". Nessa obra, Huxley imagina uma sociedade futura controlada por um governo central que utiliza a tecnologia para manipular as massas e manter o controle social.
Agora, considerando o cenário que você descreveu, podemos criar um breve texto explorando esses elementos:
 
 
Título: "Sombras do Amanhã"
O ano é 2050, e o mundo se encontra à beira do abismo. A superpopulação atingiu níveis alarmantes, as temperaturas globais continuam a subir, os desastres climáticos se multiplicam, e a fome crônica assola vastas regiões. A sociedade, em um estado constante de agonia, busca desesperadamente soluções para seus problemas cada vez mais complexos.
Neste cenário sombrio, surgem líderes carismáticos propondo soluções radicais. Governos autoritários ganham força, prometendo ordem, estabilidade e a promessa de um futuro melhor. As democracias, outrora símbolos de liberdade, desintegram-se sob o peso dos desafios globais.
A tecnologia, que deveria ter sido a salvação, torna-se uma arma nas mãos dos poderosos. A vigilância é onipresente, a informação é manipulada, e a verdade é uma mercadoria rara. Aqueles que ousam questionar são silenciados, dissidentes se tornam sombras em uma sociedade cada vez mais conformada.
Enquanto as massas clamam por soluções imediatas, a liberdade individual é sacrificada em prol da suposta segurança coletiva. O Estado, agora onipotente, controla não apenas a política, mas também a vida cotidiana das pessoas.
A distopia é completa, e a humanidade se vê aprisionada em um ciclo vicioso de autoritarismo, onde as promessas de redenção são apenas ilusões fugazes. No horizonte sombrio, a esperança se torna uma relíquia do passado, e o futuro da humanidade pende perigosamente na balança entre a sobrevivência e a liberdade perdida.

 


sábado, 11 de novembro de 2023

POBRETÃO

 

Falta de grana atrapalha até o entendimento do que se lê! Na frente de uma loja bacanaça de carros importados na parte nobre da Avenida Raja Gabaglia em BH, tem um letreiro assim:

MAKE LIFE A RIDE - Faça da vida um passeio

Aí o pobretão aqui leu:

MAKE LIFE ARIDE (arid) - Torne a vida árida

Falta de grana é mesmo uma merda!

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

UMA AMIZADE DE FACEBOOK

Este post foi originalmente publicado em 2017 e não tinha nenhuma intenção de movê-lo para os dias atuais. Acontece que fiquei sabendo ontem que quem inspirou esta postagem morreu em decorrência de complicações relacionadas a uma cirurgia no estômago ou coisa assim. Por isso, como homenagem póstuma a esse cantor/compositor resolvi mover o post para hoje. E sugiro que ouçam sua música. 

Creio que foi em 1976 que aconteceu o caso que vou contar agora. Tínhamos pouco tempo de casados quando um amigo trouxe à nossa casa dois sujeitos meio estranhos, com cara de cantores de música brega, de zona ou coisa parecida. Não eram. Eram músicos geniais e talentosíssimos. Um deles, meio gordo, pegou meu violão e começou a tocar Trem Azul, do Lô Borges, enquanto o outro cantava. Fiquei impressionado pelos acordes sofisticados que fazia. Na hora da parte instrumental, reproduziu nota por nota aquele solo famoso do Toninho Horta, me deixando de boca aberta e quase em estado de choque. Depois disso, o cantor pegou o violão e mandou super bem. O cantor chamava-se Abner e o violeiro tinha o apelido de Lissinho (de Alisson). Nunca mais os vi, mas foi uma experiência magnífica que eu nunca esqueci e que gosto sempre de lembrar.

Anos depois, eu estava “garimpando” aquelas bancas de saldo de vinis que existiam nas lojas de discos no centro de BH, quando dei de cara com um LP feito "a cinco mãos" por Fernando Bocca (um cantor e compositor de BH, já falecido), o grupo Pendulum e mais três intérpretes desconhecidos. Tomei o maior susto quando vi que um dos “desconhecidos” era o Abner, aquele que tinha cantado “Trem Azul” ao meu lado, na nossa casa! Claro que comprei o disco, mas confesso não me lembrar das músicas.

Pois bem, um belo dia (era noite, para ser sincero), Chico Moura, um amigo que é engenheiro, compositor, tecladista e agitador cultural promoveu um festival de música na Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza, que teve até canja do Lô Borges (o Chico conhece meio mundo!). Qual não foi minha surpresa ao descobrir que um sujeito chamado Biné Zimmer já tinha se apresentado e que ele era o mesmo Abner do "Trem"! Fiquei tão feliz que cheguei perto dele e comecei a tentar contar o caso da música do Lô, mas ele já estava para lá de trêbado. Mesmo assim me deu o número de seu celular, mas a coisa morreu por aí.

Depois de ter criado um perfil no Facebook vivo recebendo sugestões dessa rede para “solicitar amizade” de gente que nunca vi mais gorda (ou magra). Geralmente recuso todas as sugestões, mas um dia dei de cara com o Biné, que é amigo do Chico Moura. Não pensei muito e solicitei sua amizade, mesmo sabendo que somos ilustríssimos desconhecidos um para o outro. E ele aceitou.

Eu sei que foi muita falta do que fazer ter solicitado sua amizade no facebook, e isso só me ocorreu por ele e seu amigo Lissinho terem sido protagonistas de um momento musical mágico em minha casa no longínquo ano de 1976. E o fato de ele ter aceito me deixa muito feliz, mesmo que nós não nos conheçamos de verdade (provavelmente continuaremos sempre assim). Para um músico frustrado como eu, cujo sonho de juventude era tocar guitarra em banda de rock (solista, por favor), é bacana ter como "amigo" um músico talentoso e com CDs gravados, mesmo que a amizade seja apenas virtual, uma "amizade de Facebook".

Para celebrar essa amizade virtual, resolvi divulgar uma música sua, muito bonita. O vídeo tem imagens incríveis de Santa Tereza e da moçada do Clube da Esquina. Além disso, resolvi mostrar as imagens da capa e contracapa do LP onde ele provavelmente deu os primeiros passos como músico profissional.





quinta-feira, 9 de novembro de 2023

RESOLUÇÕES


Todo fim de ano acontece a mesma coisa, muitas pessoas fazendo suas resoluções de fim de ano ou de ano novo, quando prometem a si mesmas fazer o que todos sabem que não farão. Engordar, emagrecer, parar de fumar, viajar para Timbuktu, Jalapão ou Tibete, aprender a nadar, começar a malhar, etc. Cada um externando seus desejos e crenças.
 
Eu sei que ainda faltam quase dois meses para o ano acabar, mas mesmo assim resolvi também registrar minhas resoluções. Mas nada dessa ideia de que “no ano que vem...”. Minha proposta é mais pesada, mais definitiva, pois quero registrar minhas resoluções de fim de vida (afinal, nunca é cedo demais para se pensar nisso!). Por isso, aí vão meus desejos finais (parte deles, pelo menos):
 
1 - manter minha boca mais fechada, para emagrecer os comentários que faço e as opiniões que ninguém solicitou;
2 - falar menos palavrões (hoje sou um boca suja impenitente);
3 - ser menos vulgar, desagradável e constrangedor;
4 - ter menos carência afetiva (não consigo acabar com isto!);
5 - ler mais, ler muito mais;
6 - ser mais solidário e menos egoista;
7 - ser menos sedentário;
8 - afastar-me cada vez mais do Blogson Crusoe e da blogosfera;
9 - tentar recuperar um pouco da alegria e espontaneidade que já tive;
10 - perdoar a mim mesmo pelas burradas, inveja, orgulho, omissões, falhas, faltas e erros cometidos ou sentidos ao longo da vida.
 
Se eu conseguir cumprir ao menos os números 1 e 10 talvez os outros se resolvam espontaneamente e eu pare de ter pesadelos recorrentes e de frequentemente desejar estar morto.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

POEIRA DE ESTRELAS

 
Um dia, há muito tempo (eu era mais inteligente que hoje), tive a percepção de que as pessoas comuns, aquelas que nunca serão famosas, que nunca se distinguiram em nada, que nunca foram protagonistas de grandes momentos históricos, aquelas anônimas que representam mais de 99% da população mundial e que nunca serão lembradas em livros de história, não terão bustos em praça pública nem discos gravados ou filmes guardados em cinematecas só permanecerão “vivas” enquanto existir alguém que ainda guarde seus retratos, saiba como se chamavam e se lembre de seus casos. Quando nada mais disso acontecer elas desaparecerão definitivamente, virando apenas “poeira de estrelas”.
 
Infelizmente, por mais simpáticas, inteligentes, divertidas que tenham sido essas pessoas, seu destino é ser rapidamente esquecidas. Não há mandinga ou panaceia que cure essa caminhada rumo ao esquecimento mais absoluto. Você, por exemplo, quando ninguém mais der notícias suas, do que foi ou que fez, de suas pequenas vitórias, derrotas ou perdas, aí você entrará para o grupo dos bilhões de anônimos que passaram pela Terra e que viraram apenas átomos e alguns ossos. O que, convenhamos, é uma puta injustiça, ainda mais se lembrarmos de que existem idiotas que são incensados e adorados por multidões mesmo sem ter nenhuma qualidade para que isso aconteça.
 
Algumas pessoas estranham e talvez até me critiquem por eu ter me dedicado a escrever e publicar no Blogson as poucas lembranças de meus familiares e pessoas com quem convivi. Em minha defesa posso dizer que o carinho e a amizade que senti por elas sempre permearam os textos mais descontraídos que escrevi. Além disso, jamais pensei em escrever biografias solenes e “engravatadas”, pois meu desejo sempre foi traçar retratos “falados” divertidos que captassem a essência de cada um, talvez por acreditar que a simplicidade dos casos e das pessoas retratadas pudesse encontrar ressonância com a vida se não da maioria mas, pelo menos, de algumas pessoas.
 
Ma\s o poeta Affonso Romano de Sant’Anna levantou uma questão em minha mente quando perguntou “Por que só um bom romancista consegue captar as histórias e dar-lhes uma dimensão universal e intemporal? O que há na escrita do escritor que transforma em arte algo que era simplesmente um ‘causo’ ou notícia de jornal?”
 
Acho difícil encontrar uma resposta decente para essa pergunta, principalmente por não ser romancista e, menos ainda, um bom romancista. Mas concordo com estas palavras do jornalista Diogo Schelp: “Qualquer vida, se tem o narrador certo, merece um livro ou, pelo menos, um capítulo”. Por isso, quando escrevi as lembranças de meus familiares e amigos
talvez não tenha sido o narrador certo, apenas o único.


terça-feira, 7 de novembro de 2023

IMIGRANTE

 
Não quero entrar em detalhes, pois os três leitores deste blog já sabem que hoje convivo com graves problemas de saúde de uma pessoa que amo muito. Essa situação mudou minha vida e meu comportamento de forma radical, pois atualmente, quando saio de casa mesmo que por breve tempo, fico inquieto, ansioso e louco para voltar.
 
Por isso resolvi registrar um pensamento tolo que me ocorreu. Mas não tenho nenhuma vontade ou necessidade de ampliar ou ficar divagando sobre essa ideia, que é assim:
 
Hoje eu me sinto como se fosse um estrangeiro, um imigrante clandestino no país dos saudáveis.


segunda-feira, 6 de novembro de 2023

CONVERSANDO COM O ESPELHO

 
Estava distraído escovando os dentes, entristecido com a imagem amarrotada que via no espelho, quando meu reflexo começou a rezingar. Com a boca cheia de saliva, escova e creme dental não tinha como retrucar. E mesmo que eu esteja tão mal dormido e cansado ao ponto de às vezes delirar de olhos abertos, não faria sentido retrucar ou debater com um espelho. Como se estivesse sob efeito de alguma droga alucinógena fiquei apenas ouvindo o que o espelho parecia me dizer.
 
Você tem um blog e vive se queixando
De ter poucas visualizações do que publica
Já pensou no que a isso justifica?
Este blog é todinho seu
E dele você faz o que quiser.
Por isso o transformou sem perceber
Em diário pessoal (nem um pouco excepcional)
 
Isso poderia até ser bom, atraente, original
Pois um diário mal guardado sempre aguça
A curiosidade de voyeurs e visitantes
Mas só tem postado coisas pra si mesmo
Acreditando ser divertidas, interessantes
 
Parabéns, se é isso mesmo o que quer
Mas ninguém está ficando a fim de ver
Qual sua próxima bobagem, pode crer
Pois parece nada mais ter a dizer
Só lembranças que a ninguém interessa ler.

 
Atordoado com o que imaginei ter ouvido e sem saber se era Alzheimer ou mais um sono interrompido, lavei a boca, molhei a nuca e me deitei, com a esperança pouca de dormir, mas c
om a certeza de que lembranças, textos, poemas e desenhos que criei são fragmentos de mim mesmo e que a figura assim formada pelas peças reunidas em mosaico só mostrará minha imagem, a imagem do que sou, em que me transformei. E que um blog autoral sempre será um quebra-cabeças de mil peças que ao ser montado mostra aos poucos um retrato falado do autor, pois a imagem assim percebida reflete e denuncia a personalidade, as preferências e características de seu titular, mesmo que ele nunca se dê conta disso.


sábado, 4 de novembro de 2023

GOSTAS DO DELÍRIO, BABY?

  
Aqui em BH existe um programa sobre rock que termina sempre com o apresentador perguntando: "Gostas do delírio, baby?" E é com a linha do delírio que o post de hoje será costurado.
 
Mas não sou historiador, cientista político, teólogo nem sociólogo. Sou apenas um velho idiota que gosta de rock, tanto mais idiota quanto mais envelheço. Por isso, cheio de desesperança e incomodado com a visão de imagens da destruição provocada pela guerra entre o Hamas e Israel – que me deixaram ainda mais desanimado com a espécie humana – pensei em escrever uma crônica de realidade alternativa para corrigir esse ódio e a aparentemente total impossibilidade de convivência pacífica entre dois povos e duas religiões.
 
Para não ser apedrejado antes do templo, ou melhor, do tempo, preciso lembrar ou informar que sou um moderado radicalmente pacifista. Por isso deixo claro que abomino e condeno todo tipo de violência e intolerância que resultem de crendices, ignorância, fundamentalismo, ideologias radicais ou fanatismo religioso. Assassinato de pessoas inocentes e limpeza étnica são atos de puro terrorismo, sejam eles praticados por árabes ou israelenses. Além disso, considero absolutamente inaceitável a instalação de colônias judaicas em território palestino, mesmo que "justificadas" pela interpretação literal da crença na “terra prometida”.
 
Como não estou com paciência para raciocínios mais elaborados nem criatividade para criar cenários e situações hollywoodianas, deixarei apenas provocações na forma de perguntas vindas do “País do E se...? para que os três leitores remanescentes desta bagaça exercitem (se quiserem, lógico) sua fértil imaginação e criem uma bela crônica de realismo fantástico ou realidade alternativa.  Feitas as devidas explicações e colocados os cintos, podemos decolar.
 
Antes, entretanto, preciso fornecer alguns dados extraídos da internet e de livros que li não faz muito tempo. Bora lá.
 
- São Paulo Apóstolo teria nascido no ano 5 e morrido no ano 64. Segundo alguns estudiosos, São Paulo foi o “inventor” do cristianismo ao universalizar os ensinamentos de Jesus;
- Em 135, para combater uma revolta dos judeus, o imperador romano Adriano mandou arrasar a cidade de Jerusalém e expulsar todos que ali viviam. Os judeus foram proibidos de viver próximo a Jerusalém e cerca de 900 aldeias judaicas na Judeia foram completamente destruídas e seus moradores mortos, escravizados ou banidos da região;
- Entre os anos 249 e 270 a Peste de Cipriano – possivelmente causada por varíola ou sarampo – atingiu o Império Romano e suas províncias orientais. Em seu auge teria chegado a matar 5.000 pessoas por dia;
- Em 313, depois de convertido, o imperador romano Constantino reconheceu oficialmente o cristianismo como religião;
- No ano 638 a região da Palestina foi conquistada pelos árabes e passou a fazer parte de um Califado Islâmico, recebendo uma significativa presença de muçulmanos;
- No ano de 1095 os judeus começaram a ser perseguidos pelos cristãos, porque a Igreja Católica os considerou responsáveis pela morte do judeu Jesus Cristo. A partir daí os seguidores do judaísmo sofreram frequentes ataques nas cidades europeias, enclausurando-se em guetos para se proteger;
- Em 1492 graças à Santa Inquisição 120.000 judeus 
foram expulsos da Espanha e foram para Portugal;
- A partir de 1496 190.000 judeus de Portugal foram obrigados a se converter ao catolicismo para continuar no país, criando a figura do “cristão novo”;
- Em 1517 a Palestina foi incorporada ao Império Otomano.
 
Devidamente abastecidos com essas informações (sujeitas a averiguações), podemos agora formular algumas perguntas. E a primeira delas é: Gostas do delírio, baby? 
 
E agora, mais provocações. A principal é esta (já imagino alguém dizendo que “Jotabê pirou, está babando!”):
 
E se essa hostilidade inextinguível entre palestinos e israelenses fosse culpa dos cristãos?
 
Antes de dar sequência às provocações, preciso lembrar que após a destruição de Jerusalém em 135 os romanos, sob o comando do imperador Adriano, fizeram um significativo esforço para eliminar a identidade judaica na região – que passou a ser habitada por uma mistura de povos, incluindo romanos, gregos e povos nativos da região. As autoridades romanas tentaram desencorajar o retorno dos judeus à região e impuseram várias restrições, incluindo a proibição da prática pública do judaísmo. 
 
Ao ser expulsos da terra onde viviam os judeus espalharam-se pelo mundo, fazendo com que o “vácuo” deixado por eles fosse ocupado por romanos, árabes, gregos e outros povos. Por isso, a pergunta: E se Roma nunca tivesse destruído Jerusalém?
 
São Paulo criou toda uma teologia divergente do judaísmo e foi o responsável pela disseminação do cristianismo no Império Romano, certo? E se o cristianismo nunca tivesse passado de uma crença messiânica judaica?
 
A peste de Cipriano dizimou milhares de pessoas. Alguns cristãos viram essa epidemia como um sinal do fim dos tempos e acreditaram que deveriam permanecer firmes em sua fé, o que reforçou a coesão das comunidades cristãs. E se essa epidemia não tivesse acontecido?
 
Se o cristianismo tivesse permanecido apenas como uma seita judaica o imperador Constantino a teria reconhecido como religião?
 
E sendo o cristianismo apenas mais uma seita judaica irrelevante, os judeus que se espalharam pelo mundo seriam culpados pela crucificação de Jesus e proibidos de exercer atividades agropecuárias ou perseguidos e ameaçados (inquisição, antissemitismo, holocausto, etc.)
 por sua fé?
 
Este é o resumo final, o briefing para os autores que aceitarem o desafio de escrever suas histórias de realidade alternativa:
E se o cristianismo não tivesse se tornado a religião de bilhões de pessoas? Teria talvez continuado apenas como uma seita judaica?
E sendo assim, os cristãos culpariam os judeus pela crucificação de Jesus? E se não os culpassem, os judeus, além do comércio, poderiam dedicar-se também à agricultura e criação de animais?
E se pudessem integrar-se mais às comunidades onde viviam ainda assim seriam tão hostilizados, perseguidos, demonizados e torturados pelos cristãos?
Por outro lado, se não fossem maltratados e mal vistos nos países para onde foram depois de expulsos da terra onde viviam  pelos romanos, teriam vontade de retornar à terra de seus antepassados?
Diante de tudo isso haveria tanto ódio e intolerância entre árabes e judeus? E o antissemitismo europeu teria atingido os níveis a que chegou? E o holocausto teria talvez nunca acontecido?
E se o cristianismo tivesse sido apenas uma seita judaica, talvez a ideia da criação de um estado judeu na Palestina, há séculos ocupada por árabes e outros povos (em uma espécie de usucapião primitivo) não tivesse surgido. E nunca haveria conflitos entre árabes e israelenses, pois talvez nem Israel tivesse sido criado.
 
E agora, rola de criar uma crônica de realidade alternativa sobre isso?
 

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

COMUNICAR É UM VERBO MUITO IRREGULAR

 

eu falo

tu não me escutas

ele me ignora


nós vociferamos

vós esmurrais a mesa

eles se agridem fisicamente


ESTRELA DE BELÉM

  Na música “Ouro de Tolo” o Raul Seixas cantou estes versos: “Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado. Macaco, praia, ...