segunda-feira, 13 de julho de 2020

MANDALA

O canal “People & Arts” exibe às seis da matina (eu acordo às cinco!) o “Graham Norton Show”, um ótimo e divertido programa de entrevistas da TV inglesa, obviamente gravado antes do Corona vírus. Em programa exibido recentemente, um dos entrevistados foi o ator Patrick Stewart, que interpretou o comandante Picard da segunda fase da série Star Trek. Isso não significa nada para mim, pois nunca vi nenhum episódio dessa fase. Divertida foi a história que contou.

Um dia, acompanhado de amigos, foi a um restaurante mega refinado. Lá pelas tantas, chega Sir Paul McCartney de quem é amigo desde 1964. Ao vê-lo, Paul se aproximou e o abraçou, etc. e foi para sua própria mesa. Mais um pouquinho e entra no restaurante Sir Ringo Starr, que se dirige à mesa onde o Paul já estava.

Quando o ator e seus amigos resolveram ir embora, dirigiu-se à mesa dos dois Beatles para despedir-se do amigo. Abraçaram-se novamente e Paul sussurrou: “Você conhece o Ringo?” “Claro, mas nunca fomos apresentados”. Ai o McCartney chamou o baterista: “Ringo este é Sir Patrick” (ele também recebeu esse título); “Patrick, este é Sir Ringo”. Feitos os salamaleques de praxe, Paul abraçou os dois, dizendo: “Somos três cavaleiros, os Cavaleiros da Távola Redonda!” Achei graça na história desse triângulo de notáveis, que só confirma o estilo Mr. Simpatia do baixista (o oposto do ex-parceiro John Lennon). Depois disso surgiu na minha mente a imagem da mandala que passo a descrever.

Às vezes, quando não tenho nada para fazer (99% do tempo em que não estou ajudando a realizar as tarefas domésticas – lavar pratos, estender roupas no varal, varrer a casa, etc., etc.), cismo de fazer algum tipo de doutrinação. Pego meu cajado (não confundir com bengala) e saio a pastorear (devo estar sonhando com alguma novela da Record, só pode!).

Voltando à realidade, fico matutando sobre coisas que me incomodam e que não consigo abandonar. Uma dessas coisas é o radicalismo, pouco importando se é religioso, político ou de comportamento. Aí fico pensando em letras de música, desenhos, imagens e qualquer coisa que me auxilie a incomodar meus “amigos de facebook” (para ser sincero, imagino que a maioria já me bloqueou, pois ninguém curte mais nada do que posto, por mais interessante que seja o assunto).

Inspirada no bom humor e simpatia do Paul McCartney (“rico ri à toa”), a imagem que me ocorreu hoje serviria para demonstrar a sensatez da moderação e do equilíbrio. Essa imagem é uma espécie de mandala. A vantagem de ser uma é que se alguém não gostar da ideia pode mandá-la à merda (não há doutrinação que resista a trocadilhos infames e fora de hora). Mas vamos lá.

Mesmo que a imagem abaixo seja quase autoexplicativa, funciona assim: nos vértices de um triângulo equilátero ficam situadas as versões civilizadas e educadas da Direita, Esquerda e Centro. A forma do triângulo parece melhor que a imagem da “régua ideológica” que postei aqui no Blogson, pois permite a interação não passional entre Direita e Esquerda, Direita e Centro, Centro e Esquerda, bastando para isso visualizar qual lado do triângulo une as duas visões. “Unir” é uma palavra bacana, pois não se propõe a erradicação ou eliminação de um vértice em benefício do(s) outros(s). É possível a convivência pacífica e a aceitação de visões ideológicas distintas e até antagônicas Ao círculo que passa pelos três vértices dei o nome de “círculo civilizado”. Poderia também ser chamado de círculo virtuoso.

O "Mal" se instala (visível na imagem) quando acontece o radicalismo ou a exacerbação das características/ qualidades de cada visão ideológica se manifesta. Nesses casos, surge o que eu chamei de “círculo pernicioso”, que poderia também ser chamado de círculo vicioso ou visceral. O deslocamento do vértice da Direita para esse novo círculo leva ao surgimento do fascismo, do bolsonarismo, do neonazismo, de todo tipo de radicalismo de direita, com toda a sua intolerância e atração pelos líderes messiânicos, autoritários e/ou populistas. O mesmo acontece com o deslocamento da Esquerda, que leva ao endeusamento de seus líderes, ao comunismo, ao chavismo, aos regimes totalitários do tipo Coréia do Norte, Rússia de Stalin, etc.

O Centro também não fica imune à exacerbação de sua visão ideológica, que permite o surgimento do fisiologismo, da corrupção “marmorizada”, intersticial, do “Centrão”. Não há possibilidade de interação saudável ou civilizada quando as visões ideológicas distintas migram para esse círculo. Isso pode ser percebido nas redes sociais, onde circulam posts que falam de eliminação, erradicação, prisão, intervenção e assemelhados.

Que mais eu queria dizer? Nada. Ou melhor, só discordar dos versos da música do Lobão (“Décadence avec élégance”), quando dizem que “É melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez”. Para mim, funcionaria mais e melhor viver “cem anos a cem”. O produto final seria o mesmo, só que na moderação total. E ouvindo Sir Paul McCartney cantando Let it BeCool, man!



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