Tenho vivido experiências curiosas todas as vezes em que acesso o blog de meu amigo virtual Ozymandias Realista. Como sou pouco dado a salamaleques e mesuras, já me refiro a ele chamando-o de Ozy, mesmo que ele não tenha me dado liberdade para tanto. Mas um sujeito que traz "Botelho Pinto" na certidão de nascimento já nasceu fadado a não ligar muito para o nome das demais pessoas. E, mesmo que esteja parecendo, esse não é o assunto deste post.
Estava falando das experiências vividas quando acesso o blog do Ozy (eu sempre acesso). Aquilo lá parece a ONU - Organização dos Nerds Unidos, tal a quantidade de erudição nerd que jorra dos posts ali publicados. Os colaboradores e os que tecem comentários aparentam ser tão fissurados em HQs de super-heróis que comentam até sobre os desenhistas e roteiristas das inúmeras - e para mim desconhecidas - histórias em quadrinhos que leram. Fico lendo aquilo com a maior cara de paisagem, sem entender nada das abordagens ao nível molecular que fazem do enredo, do personagem, como se o blog fosse uma faculdade onde está sendo feita uma defesa de teses de doutorado ou coisa assim.
Essa fissura e conhecimento profundo que exibem sobre as atuais HQs me fazem perceber que eu sou um viajante do tempo, um surfista com prata nos cabelos. E, mesmo que não chegue ao ponto de confundir “arregaçar as mangas” com “arregaçar os mangás”, percebo que estou desconectado da cultura pop atual, à deriva nesse mar de personagens-super enfrentando inimigos-super, em tudo diferentes dos personagens de HQ da minha infância e juventude. Justamente por isso resolvi compartilhar com meu amigo Ozy e todos os que leem este blog as minhas lembranças do universo dos quadrinhos das décadas de 1950 e 1960 (creio ter ouvido o rugido de um tiranossauro faminto!).
As histórias em quadrinhos entraram em minha vida a partir do momento em que fui alfabetizado. Na época havia uma conversa idiota de que criança que lê quadrinhos não se acostumará com a leitura de livros (mal sabiam os defensores dessa tese que isso se concretizaria primeiro com a televisão, jogos eletrônicos e depois com as redes sociais!).Para mim esse sempre foi um preconceito ridículo, pois eu traçava livros com o mesmo prazer que lia as HQ em que conseguia por as mãos.
Éramos muito pobres, pois meu pai estava quebrado e pendurado em agiotas. Por isso, livros e HQs eram lidos só quando comprados por tios e tias. A sorte é que morávamos com oito irmãos solteiros de minha mãe. Dessa fase eu me lembro dos personagens Pato Donald e Mickey, cada qual com sua “tchurma” de apoio. Um pouco mais tarde, já com uns dez anos, comecei a ler as tirinhas publicadas diariamente no jornal O Globo que meu avô comprava. Foi aí que tive contato com uma penca de personagens hoje esquecidos (a maioria, pelo menos).
Uma vez meu irmão deu um show de erudição e memória ao me mandar por e-mail a relação completa de todos eles. Infelizmente, como não nos falamos mais, não posso pedir sua ajuda para escrever este post. Mas, até onde consegui me lembrar, seriam essas algumas das tiras publicadas: Águia Negra, Big Ben Bolt, Brucutu, Buck Rogers, Dick Tracy, Fantasma, Ferdinando Buscapé, Flash Gordon, Jim Gordon, Mandrake, Nick Holmes, O Reizinho, Pafúncio, Pinduca, Popeye, Steve Canyon, Steve Roper, Super Homem, Tarzan, Terry e os Piratas e Zorro (o Cavaleiro Solitário).
Quais desses mereceriam destaque hoje? Lembro-me de ter lido com muito prazer as histórias de Brucutu, Fantasma, Ferdinando Buscapé e Mandrake. Com algum prazer as tiras do detetive Dick Tracy, Flash Gordon, Popeye, Super Homem e Tarzan. Mais velho um pouco, já na adolescência, divertia-me com o humor meio non sense do casal novo-rico Pafúncio e Marocas, pois as figuras dos quadros pendurados nas paredes de sua mansão saiam da moldura e eu achava essa uma ótima ideia, uma espécie de humor paralelo, mais ou menos como no caso do mini-robô Lampadinha do Professor Pardal.
As tiras das histórias Big Ben Bolt, Jim Gordon, Nick Holmes, Steve Canyon, Steve Roper, Terry e os Piratas eram constrangedoramente sem graça para mim, pelo simples motivo de seus personagens serem humanos demais, ou melhor, ter enredos muito semelhantes, sem mágicas, sem truques, sem caricatura, sem magia, enfim. Se o editor da seção colocasse a HQ do ex-boxeador Big Ben com o título do detetive Nick Holmes quase não mudaria nada em termos de estética e de traço. Poderia também incluir nesse pacote o herói mascarado Águia Negra com seu elmo e malha de aço de inspiração medieval e até mesmo o caubói Zorro, o amigo do índio Tonto.
Antes de continuar nessa seara, vou fechar as lembranças com mais alguns personagens das décadas de 1950 e início de 1960 que tiveram suas revistas individuais. Lembro-me de ter lido Batman, Capitão Marvel (bem melhor que Batman), o divertido Homem de Borracha (outra HQ caricatural), as geniais histórias da Luluzinha e Bolinha (que só soube apreciar depois de casado), as infantis (mas com boas histórias) Super Mouse, Pimentinha e Gato Félix.
Creio que no início da década de 1960 resolveram lançar simultaneamente uma penca de revistas para atender segmentos bastante específicos. Para crianças bem novas saíram Brasinha, Gasparzinho, Riquinho, Bolota e Brotoeja (minha irmã lia). Acho que foi nessa época que também saíram revistas de autores brasileiros: Pererê (do Ziraldo), Aventuras do Anjo e Jerônimo (o herói do sertão), além das internacionais Charlie Chan e Don Chicote. Lembro-me ainda de Jim das Selvas e Príncipe Valente (magnificamente desenhada), duas tiras que não consigo encaixar em lugar nenhum, embora pense que o mais provável foi terem sido também publicadas no jornal O Globo.
O fato é que tirando o Super-Homem, o Capitão Marvel e o hilário Homem de Borracha não havia a profusão de super-heróis de hoje em dia. Os heróis e vilões não eram dotados de super poderes e tinham feições monotonamente semelhantes. Essa padronização de traços é que sempre me afastou de HQs com temática de aventura, mesmo que o personagem fosse um dos raros super-heróis disponíveis. O que eu sempre curti e até hoje curto são os anti-heróis (ou sub-heróis) é o traço caricatural, a releitura do cotidiano, a crítica aos costumes, a ironia e o non sense das histórias e personagens. Daí o meu interesse por histórias com pegada de humor - e consequente desinteresse pelas aventuras mirabolantes de super-heróis de corpos sarados e expressões faciais de desenhos de publicidade. É isso.
Estava falando das experiências vividas quando acesso o blog do Ozy (eu sempre acesso). Aquilo lá parece a ONU - Organização dos Nerds Unidos, tal a quantidade de erudição nerd que jorra dos posts ali publicados. Os colaboradores e os que tecem comentários aparentam ser tão fissurados em HQs de super-heróis que comentam até sobre os desenhistas e roteiristas das inúmeras - e para mim desconhecidas - histórias em quadrinhos que leram. Fico lendo aquilo com a maior cara de paisagem, sem entender nada das abordagens ao nível molecular que fazem do enredo, do personagem, como se o blog fosse uma faculdade onde está sendo feita uma defesa de teses de doutorado ou coisa assim.
Essa fissura e conhecimento profundo que exibem sobre as atuais HQs me fazem perceber que eu sou um viajante do tempo, um surfista com prata nos cabelos. E, mesmo que não chegue ao ponto de confundir “arregaçar as mangas” com “arregaçar os mangás”, percebo que estou desconectado da cultura pop atual, à deriva nesse mar de personagens-super enfrentando inimigos-super, em tudo diferentes dos personagens de HQ da minha infância e juventude. Justamente por isso resolvi compartilhar com meu amigo Ozy e todos os que leem este blog as minhas lembranças do universo dos quadrinhos das décadas de 1950 e 1960 (creio ter ouvido o rugido de um tiranossauro faminto!).
As histórias em quadrinhos entraram em minha vida a partir do momento em que fui alfabetizado. Na época havia uma conversa idiota de que criança que lê quadrinhos não se acostumará com a leitura de livros (mal sabiam os defensores dessa tese que isso se concretizaria primeiro com a televisão, jogos eletrônicos e depois com as redes sociais!).Para mim esse sempre foi um preconceito ridículo, pois eu traçava livros com o mesmo prazer que lia as HQ em que conseguia por as mãos.
Éramos muito pobres, pois meu pai estava quebrado e pendurado em agiotas. Por isso, livros e HQs eram lidos só quando comprados por tios e tias. A sorte é que morávamos com oito irmãos solteiros de minha mãe. Dessa fase eu me lembro dos personagens Pato Donald e Mickey, cada qual com sua “tchurma” de apoio. Um pouco mais tarde, já com uns dez anos, comecei a ler as tirinhas publicadas diariamente no jornal O Globo que meu avô comprava. Foi aí que tive contato com uma penca de personagens hoje esquecidos (a maioria, pelo menos).
Uma vez meu irmão deu um show de erudição e memória ao me mandar por e-mail a relação completa de todos eles. Infelizmente, como não nos falamos mais, não posso pedir sua ajuda para escrever este post. Mas, até onde consegui me lembrar, seriam essas algumas das tiras publicadas: Águia Negra, Big Ben Bolt, Brucutu, Buck Rogers, Dick Tracy, Fantasma, Ferdinando Buscapé, Flash Gordon, Jim Gordon, Mandrake, Nick Holmes, O Reizinho, Pafúncio, Pinduca, Popeye, Steve Canyon, Steve Roper, Super Homem, Tarzan, Terry e os Piratas e Zorro (o Cavaleiro Solitário).
Quais desses mereceriam destaque hoje? Lembro-me de ter lido com muito prazer as histórias de Brucutu, Fantasma, Ferdinando Buscapé e Mandrake. Com algum prazer as tiras do detetive Dick Tracy, Flash Gordon, Popeye, Super Homem e Tarzan. Mais velho um pouco, já na adolescência, divertia-me com o humor meio non sense do casal novo-rico Pafúncio e Marocas, pois as figuras dos quadros pendurados nas paredes de sua mansão saiam da moldura e eu achava essa uma ótima ideia, uma espécie de humor paralelo, mais ou menos como no caso do mini-robô Lampadinha do Professor Pardal.
As tiras das histórias Big Ben Bolt, Jim Gordon, Nick Holmes, Steve Canyon, Steve Roper, Terry e os Piratas eram constrangedoramente sem graça para mim, pelo simples motivo de seus personagens serem humanos demais, ou melhor, ter enredos muito semelhantes, sem mágicas, sem truques, sem caricatura, sem magia, enfim. Se o editor da seção colocasse a HQ do ex-boxeador Big Ben com o título do detetive Nick Holmes quase não mudaria nada em termos de estética e de traço. Poderia também incluir nesse pacote o herói mascarado Águia Negra com seu elmo e malha de aço de inspiração medieval e até mesmo o caubói Zorro, o amigo do índio Tonto.
Antes de continuar nessa seara, vou fechar as lembranças com mais alguns personagens das décadas de 1950 e início de 1960 que tiveram suas revistas individuais. Lembro-me de ter lido Batman, Capitão Marvel (bem melhor que Batman), o divertido Homem de Borracha (outra HQ caricatural), as geniais histórias da Luluzinha e Bolinha (que só soube apreciar depois de casado), as infantis (mas com boas histórias) Super Mouse, Pimentinha e Gato Félix.
Creio que no início da década de 1960 resolveram lançar simultaneamente uma penca de revistas para atender segmentos bastante específicos. Para crianças bem novas saíram Brasinha, Gasparzinho, Riquinho, Bolota e Brotoeja (minha irmã lia). Acho que foi nessa época que também saíram revistas de autores brasileiros: Pererê (do Ziraldo), Aventuras do Anjo e Jerônimo (o herói do sertão), além das internacionais Charlie Chan e Don Chicote. Lembro-me ainda de Jim das Selvas e Príncipe Valente (magnificamente desenhada), duas tiras que não consigo encaixar em lugar nenhum, embora pense que o mais provável foi terem sido também publicadas no jornal O Globo.
O fato é que tirando o Super-Homem, o Capitão Marvel e o hilário Homem de Borracha não havia a profusão de super-heróis de hoje em dia. Os heróis e vilões não eram dotados de super poderes e tinham feições monotonamente semelhantes. Essa padronização de traços é que sempre me afastou de HQs com temática de aventura, mesmo que o personagem fosse um dos raros super-heróis disponíveis. O que eu sempre curti e até hoje curto são os anti-heróis (ou sub-heróis) é o traço caricatural, a releitura do cotidiano, a crítica aos costumes, a ironia e o non sense das histórias e personagens. Daí o meu interesse por histórias com pegada de humor - e consequente desinteresse pelas aventuras mirabolantes de super-heróis de corpos sarados e expressões faciais de desenhos de publicidade. É isso.
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acho que a maioria que vc leu era direcionada a crianças
ResponderExcluiro mercado nessa época não se preocupava com jovens adultos
isso mudou e hoje há quadrinhos com temáticas pra todas as idades, basta procurar
por exemplo, obras desse cara: https://pt.wikipedia.org/wiki/Will_Eisner
super-herois são legais, mas são apenas um pouco do que essa midia pode oferecer hoje em dia
Engraçado, eu tenho uma percepção totalmente oposta à sua. Para mim, as HQs eram preferencialmente destinadas a adultos. O que acontecia é que os desenhistas e roteiristas tinham uma pegada mais de humor, um humor com sutilezas e citações que uma criança não entendia. Além disso, muitos desenhos eram mais caricaturais, distantes da "perfeição" dos traços que reproduziam fielmente o corpo humano. Você vai me obrigar a fazer um post sobre isso (que bom!). Quanto ao Will Eisner, eu conheço, mas só vim a ler depois de adulto.
Excluiracho q vc está certo e eu errado
ExcluirNão sou tão radical assim! A questão é que eu vivi aquela época. Aguarde o(s) post(s) sobre isso.
Excluir"É isso". E acho que (nada conheço desse universo de heróis, perto da galera do Ozy) os produtores estão percebendo que a figura do anti-herói é possível de ser colocada no mesmo patamar que a do herói. E sem precisar ser algo muito mirabolante. Uma vez assisti One Punch-Man e ri demais com ele. Tosco e filosófico. Bom demais. Já viu?
ResponderExcluirO nome "anti-herói" é mais provocação. Na verdade, eles eram "heróis" sem super poderes, sem aquela magnificência que foi surgindo nesse universo. Quanto ao filme, só posso dizer que "inguinoro o contiúdo", como dizia um caipira do distrito onde meu pai nasceu.
ExcluirOne Punch-Man é o melhor!!! Tô até agora esperando a netflix pôr a segunda temporada, mas nada ainda.
ExcluirCurioso você ter publicado esta postagem a respeito de seu desconhecimento do conteúdo que lê no Ozy. Até eu, que li quadrinhos por décadas, em sinto meio perdido por lá. Disse curioso, porque acabo de colocar uma postagem justamente sobre isso. Do meu jeito, é claro.
ResponderExcluirVou conferir. Mas aquilo lá no Ozy é conversa de pós doutorado!
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