Fui
assinante da revista VEJA durante alguns anos. Sempre esperava ansioso sua
entrega aos sábados. Aos poucos, fui percebendo que a situação do grupo Abril
não era muito boa, pois a entrega ficou meio zoneada. Além disso, venderam
vários títulos de revistas e, para piorar, a VEJA começou a emagrecer muito.
Acredito que essa situação foi provocada (parcialmente, pelo menos) pelo
governo Dilma, alvo de frequentes e pertinentes críticas. Com isso, a
propaganda governamental secou. Fico tentado a pensar que pode também ter
havido pressões sobre agências de publicidade com contratos com o governo, pois
a quantidade de publicidade de empresas particulares (o oxigênio da imprensa)
caiu barbaramente. Além disso, vários colaboradores craquérrimos foram saindo,
etc.
Diante desse quadro, agravado por uma falta crescente de grana, resolvi não renovar minha assinatura da revista. Mas, enquanto ainda era assinante, copiei vários textos e entrevistas bacanérrimas que enviava por e-mail para filhos e alguns amigos. Uma delas é uma entrevista com o poeta Ferreira Gullar que já tinha sido objeto de um post publicado em 06/12/2016. Graças a um comentário de meu amigo Marreta, resolvi transcrever mais alguns trechos dessa entrevista, não só como homenagem ao poeta maranhense, como também à sempre excelente revista VEJA. Olhaí.
Diante desse quadro, agravado por uma falta crescente de grana, resolvi não renovar minha assinatura da revista. Mas, enquanto ainda era assinante, copiei vários textos e entrevistas bacanérrimas que enviava por e-mail para filhos e alguns amigos. Uma delas é uma entrevista com o poeta Ferreira Gullar que já tinha sido objeto de um post publicado em 06/12/2016. Graças a um comentário de meu amigo Marreta, resolvi transcrever mais alguns trechos dessa entrevista, não só como homenagem ao poeta maranhense, como também à sempre excelente revista VEJA. Olhaí.
UMA VISÃO CRÍTICA DAS COISAS
O poeta diz que o socialismo não faz mais
sentido, recusa o rótulo de direitista e ataca: “Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém era. Agora que dá prêmio,
todo mundo é”
Um dos maiores poetas brasileiros de todos os
tempos, Ferreira Gullar, 82 anos, foi militante do Partido Comunista Brasileiro
e, exilado pela ditadura militar, viveu na União Soviética, no Chile e na
Argentina.
Desiludiu-se do socialismo em todas as suas
formas e hoje acha o capitalismo “invencível”.
É autor de versos clássicos “À vida falta uma parte / seria o lado de
fora / para que se visse passar / ao mesmo tempo que passa / e no final fosse
apenas / um tempo de que se acorda / não um sono sem resposta. / À vida falta
uma porta”.
Gullar teve dois filhos afligidos pela
esquizofrenia. Um deles morreu. O poeta narra o drama familiar e faz a defesa
da internação em hospitais psiquiátricos dos doentes em fase aguda. Sobre seu
ofício, diz: “Tem de haver espanto, não
se faz poesia a frio”.
(...)
Qual a sua visão do governo Dilma Rousseff?
Dilma é
uma mulher honesta, não rouba, não tem a característica da demagogia. Mas ela
foi posta no poder pelo Lula. Assim, não tem autoridade moral para dizer não a
ele. Nesse aspecto, é prisioneira dele.
Como o senhor avalia a perspectiva de
condenação dos réus do mensalão?
O
julgamento não vai alterar o curso da história brasileira de uma hora para a
outra. Mas o que o Supremo está fazendo é muito importante. É uma coisa
altamente positiva para a sociedade. Punir corruptos, pessoas que se
aproveitaram de posições dentro do governo, é uma chama de esperança.
O senhor se identifica com algum partido
político atual?
Eu fui
do Partido Comunista, mas era moderado. Nunca defendi a luta armada. A luta
armada só ajudou mesmo a justificar a ação da linha dura militar, que queria
aniquilar seus oponentes. Quando fui preso, em 1968, fui classificado como
prisioneiro de guerra. O argumento dos militares era, e é, irrespondível: quem
pega em armas quer matar, então deve estar preparado para morrer.
O senhor condena quem pegou em armas para
lutar contra o regime militar?
Quem
aderiu à luta armada foram pessoas generosas, íntegras, tanto que algumas
sacrificaram sua vida. Mas por um equívoco. Você tem de ter uma visão critica
das coisas, não pode ficar eternamente se deixando levar por revolta, por
ressentimentos. A melhor coisa para o inimigo é o outro perder a cabeça. Lutar
contra quem está lúcido é mais difícil do que lutar contra um desvairado.
(...)
Como é seu método para fazer poesia?
Já
fiquei doze anos sem publicar um livro. Meu último saiu há onze anos. Poesia
não nasce pela vontade da gente, ela nasce do espanto, alguma coisa da vida que
eu vejo e que não sabia. Só escrevo assim. Estou na praia, lembro do meu filho
que morreu. Ele via aquele mar, aquela paisagem. Hoje estou vendo por ele. Aí
começo um poema… Os mortos veem o mundo pelos olhos dos vivos. Não dá para
escrever um poema sobre qualquer coisa.
O mundo
aparentemente está explicado, mas não está. Viver em um mundo sem explicação
alguma ia deixar todo mundo louco. Mas nenhuma explicação explica tudo, nem
poderia. Então de vez em quando o não explicado se revela, e é isso que faz
nascer a poesia. Só aquilo que não se sabe pode ser poesia.
A idade é uma aliada ou uma inimiga do poeta?
Com o
avanço da idade, diminuem a vontade e a inspiração. A gente passa a se espantar
menos. Tem poeta que não se espanta mais, mas insiste em continuar escrevendo,
não quer se dar por vencido. Então ele começa a escrever bobagens ou coisas sem
a mesma qualidade das que produzia antes. Saber fazer ele sabe, mas é só
técnica, falta alguma coisa. Não se faz poesia a frio. Isso não vai acontecer
comigo. Sem o espanto, eu não faço.
Escrever
só para fazer de conta, não faço. Eu vou morrer. O poeta que tem dentro de mim
também. Tudo acaba um dia. Quando o poeta dentro de mim morrer, não escrevo
mais. Não vou forçar a barra. Isso não vai acontecer. Toda vez que publico um
livro, a sensação que tenho é de que aquele é o definitivo. Escrever um poema
para mim é uma grande felicidade. Se não acontecer, não aconteceu.
Olha, o senhor cavou fundo, fiquei orgulhoso, vou voltar para ler mais calma, e discutir alguns pontos. Costumo ler a VEJA quase todo domingo, embora ultimamente esteja cada mais vez difícil, dada a qualidade da revista caindo em alguns pontos. Por coincidência, essa entrevista foi citada na semana passada em um Pingos nos Is que eu assistia, pelo Augusto Nunes, em especial a frase “Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém era. Agora que dá prêmio, todo mundo é”.
ResponderExcluirDesde o início do blog fui publicando textos da VEJA que me impressionavam de forma mais acentuada. Um deles (na verdade, parte do texto completo), publicado na primeira infância do Blogson, está neste link: https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2014/10/a-ironia-e-elitista-sergio-rodrigues.html
ResponderExcluirEu costumo republicar alguns do Guzzo:
Excluirhttps://ozymandiasrealista.blogspot.com/2017/12/um-pais-de-chatos.html