Tudo o que me surpreende,
encanta, fascina ou atrai eu gosto de transcrever no Blogson, para que os 2,3
leitores que o acessam possam também tirar algum proveito dessa leitura. Esse é
o caso do artigo que recebi, do qual copiei apenas um trecho, para não tirar o
prazer de sua leitura na íntegra, no local onde foi publicado.
Depois de comentar com meu
filho um artigo da revista VEJA sobre o desemprego de pessoas com formação
universitária - significativa e estranhamente superior ao das pessoas sem
diploma - ele me enviou um texto interessantíssimo, que tem alguns pontos de
contato com o artigo da revista. Para quem se
interessar, o link é esse (excelente leitura, excelente site):
Só para concluir esta
apresentação, preciso dizer que os últimos onze anos de minha vida profissional
foram gastos com trabalhos do tipo abordado nesse texto. O efeito que isso me
causou talvez explique muitos dos estados depressivos que às vezes me afligem e
os pesadelos que teimam em me fazer acordar com um sentimento muito ruim de
tristeza e melancolia. Vê aí.
Em 1930, John
Maynard Keynes previu que até o final do século a tecnologia teria avançado o
suficiente para que países como a Grã-Bretanha ou os Estados Unidos
implementassem a semana de trabalho de 15 horas. Existem muitas razões para
acreditar que ele estava certo e no entanto isso não aconteceu. Ao contrário, a
tecnologia foi sendo configurada de maneira a nos fazer trabalhar mais. No
intuito de alcançar este objetivo, trabalhos efetivamente inúteis tiveram de
ser criados. Exércitos de pessoas, na Europa e na América do Norte em
particular, passaram vidas inteiras realizando tarefas que eles no fundo
acreditavam serem desnecessárias. O dano moral e espiritual deste fato é
profundo. É uma marca em nossa alma coletiva. No entanto, quase ninguém fala
sobre isso.
Por que a utopia
prometida por Keynes nunca se materializou? A resposta mais comum hoje é que
ele não visualizou o aumento maciço do consumismo. Dada a escolha entre
menos horas de trabalho ou mais brinquedos e prazeres, escolhemos os últimos. Isto
pode parecer um bom conto moralista, mas um pouco de reflexão nos revela que
não é bem assim. Sim, nós temos testemunhado a criação de uma variedade
infinita de novos empregos e de novas indústrias desde os anos 20, mas muito
poucas não tem a ver com a produção e distribuição de sushi, iPhones ou tênis
extravagantes.
Quais são esses
novos postos de trabalho precisamente? Um relatório recente comparando o
emprego nos Estados Unidos entre 1910 e 2000, nos dá uma boa ideia. No decorrer
do último século, o número de “trabalhadores braçais” na indústria e no setor
agrícola diminuiu drasticamente. Ao mesmo tempo, empregos como de gerentes,
assistentes, vendedores e outros cresceram de um quarto para três quartos do
emprego total. Em outras palavras, trabalhos produtivos foram largamente
automatizados como previsto (ainda que você leve em consideração os
trabalhadores da industria de maneira global, incluindo China e Índia, a
porcentagem é muito menor do que costumava ser).
Mas em vez de
permitir uma redução maciça da jornada de trabalho, para que a população
mundial tivesse a oportunidade de correr atrás seus próprios projetos,
prazeres, visões e ideias, temos visto um crescimento não só do setor de
“serviços”, como do setor administrativo, incluindo a criação de novas
indústrias como a de serviços financeiros ou telemarketing, ou a expansão sem
precedentes de setores como direito corporativo, administração da saúde e
acadêmica, recursos humanos e relações públicas. Esses números ainda não são
suficientes para refletir esse contingente de pessoas cujo trabalho é prover
apoio administrativo, técnico ou de segurança, pois existe toda uma cadeia de
indústrias auxiliares (de petshops a pizzarias 24h) que só existem porque todo
mundo está gastando muito tempo trabalhando nessa “nova” indústria.
Estes são os que
proponho chamar de “empregos de merda.” (...)