sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

MAIS UMA HISTÓRIA DO DIGÃO

A ONÇA

Na época em que escrevi os quinze textos originais sobre meu amigo Pintão (ou “Digão”, o apelido falso que usei para contar seus casos mirabolantes), talvez tenha achado boba ou irrelevante essa lembrança, mas, hoje, passado tanto tempo, seu finalzinho faz valer a pena contá-la, principalmente pelos pontos em comum com o texto recente em que eu lembrava as histórias inventadas por meu pai, de tão boa aceitação. 

Antes, um comentário: como eu consigo lembrar bobagens como essa, de forma quase fotográfica? A resposta eu mesmo encontrei muito tempo atrás: eu guardo tudo o que é inútil e esqueço tudo o que realmente importa. Isso é literalmente a verdade! Além disso, minha memória principal é mais visual que tudo, pois lembro-me até da posição e expressões da pessoa com quem conversei. Mas nunca consigo guardar nomes (não é mesmo, Renato?). Agora, chega de enrolação.



Não sei mais por qual motivo meu querido amigo contou esse caso. Na época, seu filho Du, era estagiário de engenharia na empresa onde trabalhávamos. E é com ele ainda criança que surgiu o caso da onça.

O Pintão disse que estava contando histórias para seu(s?) filho(s?) quando resolveu inventar uma caçada de onça. Com cinco ou seis anos, o Du logo se empolgou. A partir de agora, vou tentar reproduzir a descrição do “Digão" para seu filho, tal como nos contou.

- Eu estava na floresta caçando, quando apareceu na minha frente uma onça. Eu peguei a espingarda, mirei e... "pá"!

- Matou ela!

- Não, a espingarda falhou. Ela veio para cima de mim. Peguei então um pedaço de pau e bati na cabeça dela!... mas o pau quebrou.

(O Du foi ficando inquieto com aquela situação, mas o pai continuou, veemente).

- Aí eu peguei minha faca e enfiei nela!

- Ela morreu?

- Não... a faca entortou!

- E o que você fez???

(Nesse momento da história, com o Du preocupadíssimo e de olhos arregalados, o Pintão comentou conosco que não sabia mais o que inventar. Só não podia reproduzir a piada, dizendo que a onça o teria comido. E saiu o fecho “empolgante”):

- Quando ela pulou em mim, eu a agarrei pelo pescoço e nós rolamos pelo chão, mas dei uma gravata com tanta força que ela acabou morrendo sem ar. Então eu peguei a onça pelo rabo, rodei, rodei e joguei ela lá longe!

(a reação empolgadíssima do filho pequeno foi hilária):

- EITA PAI FEDAPUTA!!!!!

Nesse ponto, meu amigo encerrou a historinha com um comentário bem a seu estilo. Rindo, disse:

- Acho que foi o maior elogio que recebi na minha vida!

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