terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

MARCHA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS - CARLOS LYRA & VINÍCIUS DE MORAES

Pois é, “acabou nosso carnaval” e isso sempre me provoca alguma melancolia. Talvez por saber que terei de esperar um ano para viver emoções e sentimentos exclusivos dessa festa. Dizendo assim, até parece que eu me esbaldo no carnaval, mas não é verdade.

Quase entrando na adolescência, a minha diversão era jogar sangue do diabo nos moleques conhecidos e nas pessoas que passavam.  Esse “sangue” é uma mistura de amoníaco e fenolftaleína que mancha a roupa onde é jogada. Quem não conhece se assusta, mas a mancha desaparece rapidinho. Por isso,  a terça-feira trazia consigo a certeza de que essa brincadeira só poderia repetir-se no próximo carnaval.

Um dia, esse desejo de sacanear as pessoas passou. Eu tinha entrado na adolescência. Meu irmão e mentor falou para irmos  à matinê carnavalesca do clube furreca que havia perto da casa de minha avó. Como era muito tímido (e feio; e magricela; e bobo) ficava na roda que se formava no salão, observando os casais de jovens que brincavam no centro, logo substituídos por nova dupla, até que uma menina vestida de índia americana me puxou para o meio da roda. A experiência durou uns dois minutos, tempo suficiente para que eu me apaixonasse pela primeira vez. Mas o carnaval acabou e eu passei quase um ano sonhando com aquela menina misteriosa. Quando, por acaso, descobri onde morava, percebi também que não era tão linda como tinha imaginado e que a paixão tinha acabado.

Para mim, a alegria e descontração do  carnaval nunca surgiram instantaneamente, nunca houve uma chave "liga-desliga". Especialmente naquela fase de “cachorro que caiu do caminhão de mudança”, iam sendo alimentadas aos poucos, atingindo o ápice justamente na terça-feira (quando já era tarde demais). E aí batia aquela melancoliazinha e, claro, a solidão do dia a dia. 
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Hoje é terça-feira, sou casado com a mulher da minha vida - a menina mais linda que já conheci (e foi no carnaval!), mas ainda bate aquela melancolia ao pensar que poderia ter aproveitado mais, que deveria ter despregado meus pés do chão, que deveria ter me despido da timidez congênita, ter vestido uma fantasia idiota, que deveria ter me permitido mais descontração, enfim. E sobra a certeza de que agora é tarde, que só no ano que vem.


Há uma música que mesmo não sendo de carnaval, reproduz perfeitamente essa sensação. Alguns poderão dizer que é uma música de protesto ou profética; foda-se. Para mim é uma música que evoca as sensações que sempre senti no final de todos os carnavais.  A melodia foi composta pelo Carlos Lyra e a letra é do velho e bom Vinícius de Moraes. E é para esses dois craques que eu presto minha reverência. O título é “Marcha da Quarta-feira de Cinzas”, cuja letra transcrevo a seguir. E quem quiser ouvir uma música realmente linda pode seguir este link:




MARCHA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar


Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz


3 comentários:

  1. Caprichou no texto einh, JB?! Gosto de tom descontraído ficou bem legal. Vou esperar vc contar a história do seu amor de carnaval. E a música é bacana mesmo, gostei da parte "Porque são tantas coisas azuis
    E há tão grandes promessas de luz
    Tanto amor para amar de que a gente nem sabe", bonito.
    "J"

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    Respostas
    1. O Vinicius tinha a manha. E a história já foi contada. O título é "Conhece a história da princesas e do sapo?" e está na seção "Memória"

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    2. Para facilitar, aí vai o link
      http://blogsoncrusoe.blogspot.com.br/2015/02/conhece-historia-da-princesa-e-do-sapo.html

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