terça-feira, 12 de maio de 2015

GUARANI F(I)M

No dia 1º de maio de 2015 a Rádio Guarani FM, de Belo Horizonte, encerrou suas transmissões. Passou de efe eme para efe i eme (muito ruim!). Pertencia ao grupo Diários Associados e sua programação era voltada "para as classes A e B". Para mim, era também voltada para gente mais velha, assim como eu. Sua frequência foi vendida ou sei lá o que para uma rede de emissoras evangélicas. Algum problema nisso? Nenhum, a não ser o fato de que era uma das minhas preferidas para escutar no rádio do carro.

A Guarani, tinha uma programação mais elitizada, com programas como “Um toque de clássico” ou “momento jazz” (esqueci o nome correto), tocava muita MPB, Beatles e sucessos internacionais mais antigos. Funk, axé, pagode e sertanejo, nem pensar. Por isso mesmo era uma das emissoras pré-programadas no rádio do nosso carro. A ironia dessa história é que os criacionistas fizeram valer a sina evolutiva, a de que só os mais fortes e mais aptos sobrevivem.

Tempos atrás, depois de uma reforma gigante em nossa casa, resolvemos plantar grama no quintal. Compramos a grama e chamamos um jardineiro para plantá-la. Depois de dois anos de muito entulho e materiais de construção, o quintal ficou uma beleza.

Pouco tempo depois, talvez de sementes trazidas pelo vento ou por passarinhos, começaram a aparecer aqui e ali algumas espécies de capim. Comecei a arrancar o que via, mas acabei desistindo da ideia. Perguntei ao jardineiro o que poderia ser feito. Disse-me que por ser mais resistente, o capim acabaria expulsando ou matando a grama toda. Disse-me ainda que sempre seria preciso arrancar as mudas indesejadas ou trocar a grama da área invadida. Olha só, as observações e estudos do Darwin sendo replicadas em nossa casa!

Pois bem, essa gororoba serviu apenas para fazer a seguinte imagem: a Rádio Guarani era a grama delicada que foi vencida e substituída pelo capim gospel. É óbvio que se houve um comprador, alguém queria ou precisava vendê-la. O que me incomoda é o fato de hoje a maioria das emissoras FM ser controlada por igrejas evangélicas, com suas pregações alucinadas e músicas de louvação a Deus.

Ah, ia me esquecendo; desde 1º de maio, dia do início das transmissões da nova emissora, arranquei o capim gospel do meu rádio, ou melhor, excluí a frequência da velha e boa Guarani da lista de rádios pré-programadas. O problema agora é achar alguma coisa que seja audível, porque ficar o tempo todo ouvindo alguém falar no “versículo bla bla bla” ou músicas que são um verdadeiro pé no saco, sem chance!  

Sinceramente, se é para ouvir músicas de louvação, prefiro o Gilberto Gil cantando “Louvação”, de sua autoria.

2 comentários:

  1. Lamentável a morte dessas rádios voltadas para, como você disse, as classes A e B. E não necessariamente para as classes A e B econômicas, porque o que tem de novo rico idiota e imbecil hoje em dia que só ouve sertanejo universitário e pancadão não tá escrito. Eu diria que são rádios voltadas para as classes A e B do bom gosto musical. Aqui em Ribeirão, há muito tempo, havia a Regional FM, com programação muito similar à que você citou, até que um belo dia, era um sábado, eu me lembro bem, acordei e liguei um antigo rádio-gravador (lembra deles) que havia no criado-mudo do meu quarto. Qual não foi minha surpresa ao ser bombardeado por um sertanejo brabo. A Regional FM manteve o nome, mas também foi comprada por uma cooperativa de açúcar e álcool e mudou radicalmente sua programação. E foram bem umas duas décadas sem nada que prestasse no dial do rádio. Por sorte, há uns 7 ou 8 anos, uma filial da Rádio USP se instalou por aqui e voltamos a ter programação de qualidade.
    Meus pesâmes pela Guarani FM, sinceramente.

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    1. Há uns dois dias, conversei com um jornalista aposentado que trabalhou n'O ESTADO DE MINAS, jornal que faz parte dos Diários Associados, e ele me disse que a venda foi motivada por grana (falta de) e má gestão. Esse é um dos defeitos do capitalismo (mesmo assim, continuo totalmente a favor), o "darwinismo" econômico, onde o mais capaz passa o rodo no "fracote".

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