segunda-feira, 4 de maio de 2015

ENTÃO QUERES SER UM ESCRITOR? - CHARLES BUKOWSKI

Antes de descobrir o blog “A Marreta do Azarão”, eu nunca tinha lido nada do Bukowski. Aliás, “Bukowski” era para mim como que um ruído, um som estranho ouvido em algum lugar, mas sem jamais chamar a atenção. Aparentemente, o Marreta (mesmo sendo ateu) idolatra e adora esse sujeito. Como o Azarão é o primeiro dos 2,3 leitores do Blogson, resolvi descobrir alguma coisa desse Bukowski. Na Wikipédia encontrei isso:

Henry Charles Bukowski Jr. (nascido Heinrich Karl Bukowski) foi um poeta, contista e romancista estadunidense nascido na Alemanha. Sua obra de caráter (inicialmente) obsceno e estilo totalmente coloquial, com descrições de trabalhos braçais, porres e relacionamentos baratos, fascinaram gerações que buscavam uma obra com a qual pudessem se identificar.

Bukowski sonhou a vida inteira em ser reconhecido pelo seu trabalho como escritor. De estilo agressivo e inconformado e, na maioria das vezes, ébrio, sentava em sua máquina de escrever e, com uma sutileza surpreendente, deixava fluir seus pensamentos sem censura alguma. Bukowski vivia em um mundo atormentado e distorcido, totalmente fora dos padrões impostos pela sociedade de sua época. O escritor nunca fez questão de esconder que seus trabalhos eram, quase sempre, autobiográficos. E sua falta de discrição era tão grande, que durante toda vida teve de lidar com a quebra de laços de amizade. Ele citava, sem qualquer preocupação, nomes e, quando muito inspirado, fazia duras críticas às pessoas que o cercavam. Repulsa, nojo, ódio, amor, paixão e melancolia. Esses são alguns dos sentimentos que mais inspiraram Charles Bukowski, que passou a vida nos becos dos Estados Unidos, na composição de toda sua obra. Cada poesia, cada romance e cada conto do escritor traz um pouco da vida do "Velho Safado", como ficou conhecido no mundo inteiro.

Continuando minha gororoba, aí está a chave para entendimento do Azarão: em muitos de seus textos o estilo é raivoso, colérico e... obsceno. Algum problema? Para mim, nenhum, já que ele escreve muito bem. A única diferença entre nós é que, embora gostemos de poesia, eu prefiro um estilo mais lírico, menos farpado, menos obsceno. O jogo elegante de palavras, a imagem genialmente sacada me atraem mais do que sentimentos visceralmente expostos. Questão de gosto, lógico.

Mas estou falando muito. Mesmo assim, preciso completar o raciocínio que me levou a este post. Os textos de mais sucesso (padrão Blogson, lógico) que divulgo no blog são justamente aqueles mais pessoais, autobiográficos, em que deixo a emoção fluir sem autocensura, de forma sincera, verdadeira. Creio que foi isso que o Bukowski disse no poema abaixo - minha reverência de hoje.

se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.

se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.

se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.

não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
— devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.

quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.

não há outra alternativa.
e nunca houve.

(Tradução: Manuel A. Domingos)

3 comentários:

  1. Nunca leu nada do velho Buk? Há vários livros de contos e crônicas do velho safado publicados pela editora L&PM, todos com preços bem legais, uma vez que são de bolso. Algumas boas dicas : Notas de um velho safado; Fabulário Geral do Delírio Cotidiano (1 e 2), Numa Fria e Ao Sul de Lugar Nenhum.

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    1. Acredite se quiser, só li alguma coisa dele agora, na internet (graças à citação frequente do Marreta). Antes disso, só conhecia de nome. Como Rimbaud, por exemplo, que nunca li. Às vezes brinco que sou semi-analfabeto ou ignorante, mas é quase isso mesmo. Li pra caramba na juventude, mas minha tia não comprava livros de poesia. Na fase adulta, reduzi praticamente a zero as leituras, pois tinha que trabalhar, ajudar a cuidar dos filhos, esse tipo de coisa. Agora, depois de aposentado, é que voltei embalado. Estou lendo quatro livros simultaneamente, mas nenhum de poesia. Minhas preferências atuais são história e biografias. Às vezes cismo de reler livros que já li, etc. Mas gosto pra caramba de poesia. Não necessariamente na linha do Bukowski. Sei lá, sou meio antigo (ou careta). Então, o uso aparentemente abusivo de palavras obscenas me deixa meio impaciente. O que eu curto mesmo é a elegância das imagens e metáforas que alguns gênios utilizam. O paradoxal dessa história é que eu gosto pra caramba das músicas dos Raimundos (da fase Rodolfo).

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    2. Esses livros dele que citei não são de poesia, são contos e crônicas, acho que você gostará.

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