Antes de descobrir
o blog “A Marreta do Azarão”, eu nunca tinha lido nada do Bukowski.
Aliás, “Bukowski” era para mim como que um ruído, um som estranho ouvido em
algum lugar, mas sem jamais chamar a atenção. Aparentemente, o Marreta (mesmo
sendo ateu) idolatra e adora esse sujeito. Como o Azarão é o
primeiro dos 2,3 leitores do Blogson, resolvi descobrir alguma coisa desse
Bukowski. Na Wikipédia encontrei isso:
Henry
Charles Bukowski Jr. (nascido Heinrich Karl Bukowski) foi
um poeta, contista e romancista estadunidense nascido
na Alemanha. Sua obra de caráter (inicialmente) obsceno e estilo
totalmente coloquial, com descrições de trabalhos braçais, porres e relacionamentos
baratos, fascinaram gerações que buscavam uma obra com a qual pudessem se
identificar.
Bukowski
sonhou a vida inteira em ser reconhecido pelo seu trabalho como escritor. De
estilo agressivo e inconformado e, na maioria das vezes, ébrio, sentava em sua
máquina de escrever e, com uma sutileza surpreendente, deixava fluir seus
pensamentos sem censura alguma. Bukowski vivia em um mundo
atormentado e distorcido, totalmente fora dos padrões impostos pela sociedade
de sua época. O escritor nunca fez questão de esconder que seus trabalhos eram,
quase sempre, autobiográficos. E sua falta de discrição era tão grande, que
durante toda vida teve de lidar com a quebra de laços de amizade. Ele citava,
sem qualquer preocupação, nomes e, quando muito inspirado, fazia duras críticas
às pessoas que o cercavam. Repulsa, nojo, ódio, amor, paixão e melancolia.
Esses são alguns dos sentimentos que mais inspiraram Charles Bukowski, que
passou a vida nos becos dos Estados Unidos, na composição de toda sua obra.
Cada poesia, cada romance e cada conto do escritor traz um pouco da vida do
"Velho Safado", como ficou conhecido no mundo inteiro.
Continuando
minha gororoba, aí está a chave para entendimento do Azarão: em muitos de seus
textos o estilo é raivoso, colérico e... obsceno. Algum problema? Para mim,
nenhum, já que ele escreve muito bem. A única diferença entre nós é que, embora
gostemos de poesia, eu prefiro um estilo mais lírico, menos farpado, menos
obsceno. O jogo elegante de palavras, a imagem genialmente sacada me atraem
mais do que sentimentos visceralmente expostos. Questão de gosto, lógico.
Mas
estou falando muito. Mesmo assim, preciso completar o raciocínio que me levou a
este post. Os textos de mais sucesso (padrão Blogson, lógico) que divulgo no
blog são justamente aqueles mais pessoais, autobiográficos, em que deixo a
emoção fluir sem autocensura, de forma sincera, verdadeira. Creio que foi isso
que o Bukowski disse no poema abaixo - minha reverência de hoje.
se
não sai de ti a explodir
apesar
de tudo,
não
o faças.
a
menos que saia sem perguntar do teu
coração,
da tua cabeça, da tua boca
das
tuas entranhas,
não
o faças.
se
tens que estar horas sentado
a
olhar para um ecrã de computador
ou
curvado sobre a tua
máquina
de escrever
procurando
as palavras,
não
o faças.
se
o fazes por dinheiro ou
fama,
não
o faças.
se
o fazes para teres
mulheres
na tua cama,
não
o faças.
se
tens que te sentar e
reescrever
uma e outra vez,
não
o faças.
se
dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não
o faças.
se
tentas escrever como outros escreveram,
não
o faças.
se
tens que esperar para que saia de ti
a
gritar,
então
espera pacientemente.
se
nunca sair de ti a gritar,
faz
outra coisa.
se
tens que o ler primeiro à tua mulher
ou
namorada ou namorado
ou
pais ou a quem quer que seja,
não
estás preparado.
não
sejas como muitos escritores,
não
sejas como milhares de
pessoas
que se consideram escritores,
não
sejas chato nem aborrecido e
pedante,
não te consumas com auto-
—
devoção.
as
bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado
até
adormecer
com
os da tua espécie.
não
sejas mais um.
não
o faças.
a
menos que saia da
tua
alma como um míssil,
a
menos que o estar parado
te
leve à loucura ou
ao
suicídio ou homicídio,
não
o faças.
a
menos que o sol dentro de ti
te
queime as tripas,
não
o faças.
quando
chegar mesmo a altura,
e
se foste escolhido,
vai
acontecer
por
si só e continuará a acontecer
até
que tu morras ou morra em ti.
não
há outra alternativa.
e
nunca houve.
(Tradução:
Manuel A. Domingos)
Nunca leu nada do velho Buk? Há vários livros de contos e crônicas do velho safado publicados pela editora L&PM, todos com preços bem legais, uma vez que são de bolso. Algumas boas dicas : Notas de um velho safado; Fabulário Geral do Delírio Cotidiano (1 e 2), Numa Fria e Ao Sul de Lugar Nenhum.
ResponderExcluirAcredite se quiser, só li alguma coisa dele agora, na internet (graças à citação frequente do Marreta). Antes disso, só conhecia de nome. Como Rimbaud, por exemplo, que nunca li. Às vezes brinco que sou semi-analfabeto ou ignorante, mas é quase isso mesmo. Li pra caramba na juventude, mas minha tia não comprava livros de poesia. Na fase adulta, reduzi praticamente a zero as leituras, pois tinha que trabalhar, ajudar a cuidar dos filhos, esse tipo de coisa. Agora, depois de aposentado, é que voltei embalado. Estou lendo quatro livros simultaneamente, mas nenhum de poesia. Minhas preferências atuais são história e biografias. Às vezes cismo de reler livros que já li, etc. Mas gosto pra caramba de poesia. Não necessariamente na linha do Bukowski. Sei lá, sou meio antigo (ou careta). Então, o uso aparentemente abusivo de palavras obscenas me deixa meio impaciente. O que eu curto mesmo é a elegância das imagens e metáforas que alguns gênios utilizam. O paradoxal dessa história é que eu gosto pra caramba das músicas dos Raimundos (da fase Rodolfo).
ExcluirEsses livros dele que citei não são de poesia, são contos e crônicas, acho que você gostará.
Excluir