domingo, 18 de maio de 2025

O FIM DO MUNDO CHEGOU

 
Aqui em BH, existe um apresentador de telejornal local muito simpático, já mais velho, que, ao noticiar fatos bizarros ou inacreditáveis, às vezes comentava com voz pausada e meio sorriso no rosto: “Minha mãe diz que o mundo já acabou, mas ninguém acredita”. Ou então, ao final de uma daquelas notícias de azedar o fígado, e sem mover o corpo, olhava diretamente para a câmera à sua direita (ou esquerda) e dizia: “Ah, nem!
 
É essa a sensação que tenho quando leio certas notícias que parecem saídas de um programa de humor. Bebês reborn são desse tipo. Você, que lê atentamente este blog desconjuntado enquanto segura uma fatia de pizza marguerita em uma das mãos, sabe do que estou falando?
 
Precisei consultar a internet - a mãe dos muito burros e pátria das fake news -, para também aprender que porra é essa. Muito bem (ou muito mal): bebê reborn é um boneco com traços hiper-realistas que começou a ser vendido em 2002. Mas é pior que o boneco assassino Chuck, pois faz com que adultos adquiram comportamentos de deficientes mentais.
 
Aqui no Brasil, seus proprietários têm provocado mais risos do que preocupação. Mas, mesmo achando graça na total falta de senso de ridículo de alguns dos donos de reborn, receio que a humanidade esteja com viagem marcada para a insanidade. Basta lembrar de um presidente estrangeiro que cogitou criar um resort num país destruído pela guerra e um reality show em que imigrantes competiriam entre si por cidadania americana. Se um presidente pensa nessas sandices, o que se pode dizer das pessoas comuns, intoxicadas por imagens manipuladas e notícias falsas disseminadas nas redes sociais?
 
Mas, como cantou o Belchior, “deixando a profundidade de lado” – pois a vida é breve –, o bom é rir das notícias da insensatez e do ridículo dos donos de bebês reborn (esse é o nome da coisa):

- Ao ser questionada por uma mulher se poderia solicitar pensão mensal do ex-marido “diante dos altos custos para manter o ‘filho’”, a advogada Fernanda Sanchez foi curta e grossa: “Criança é criança, pet é pet. Você pode não aceitar, mas bebê reborn é uma boneca.”
- Outro advogado, cujo nome infelizmente não sei, publicou em suas redes sociais que ter bebê reborn não dá direito a pedidos de pensão alimentícia nem previdenciária.
- Depois que uma mulher levou um bebê reborn ao posto de saúde, alegando que “a coisa” estava com febre, o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL-MG) propôs proibir o atendimento de reborns em hospitais. Sensatamente, comentou: “É alarmante ver o quanto as pessoas se sentem solitárias e desconectadas, buscando fuga da realidade e tentando suprir seus vazios com esse tipo de brinquedo de madame. (...) Quando isso se transforma em uma fuga emocional, criando uma realidade paralela que sobrecarrega os nossos serviços públicos, alguém precisa dar um basta.”
- O padre Chrystian Shankar publicou em suas redes sociais o seguinte aviso:
“Não estou realizando batizados para bonecas reborn ‘recém-nascidas’.
Nem atendendo ‘mães’ de boneca reborn que buscam por catequese.
Nem celebrando Missa de Primeira Comunhão para crianças reborn.
Nem oração de libertação para bebê possuído por um espírito reborn.
E, por fim, nem missa de 7º dia para reborn que arriou a bateria.”
E ainda completou: “Essas situações devem ser encaminhadas ao psicólogo, ao psiquiatra ou, em último caso, ao fabricante da boneca. Sem mais!”
-Já o deputado federal Zacharias Calil (União Brasil – GO) propõe multa para quem usar bonecos simulando crianças com o objetivo de obter benefícios como filas preferenciais.
- A Prefeitura de Curitiba informou, em suas redes sociais, que passageiros com bebês reborn não têm direito a assentos preferenciais nos ônibus da cidade. “Mãe de bebê reborn não tem preferência”, diz o aviso. Ainda em tom descontraído, a publicação destaca: “Os reborns são fofos, mas não garantem lugar no (assento) amarelinho.”
- E, para terminar, esta notícia (infelizmente, a reportagem onde a encontrei não traz mais detalhes): casal disputa na Justiça a guarda de uma reborn e o controle de um perfil no Instagram que gera lucros com a exposição da boneca.
 
Não sei se a gíria “rebordosa”, usada para indicar a ressaca provocada pelo consumo de álcool ou substâncias “só um pouquinho mais ilícitas”, ainda existe, mas acho que, depois de ler essas maluquices, estou também com rebordosa — ou melhor, reborndosa. Ah, nem!

6 comentários:

  1. Bom dia:- O mundo ainda não acabou. Mas que está gravemente doente, na minha opinião, é um fato indesmentível..
    ..
    “” Tenha um domingo feliz, em Paz e Amor ““
    .

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  2. Jotabê de Deus!!!
    Obrigado e Bravíssimo
    por essa matéria.
    Li pro meu marido
    que pediu pra eu
    lhe dar os PARABENS!
    Vc externou o que ele
    pensa a respeito.
    Mas vou voltar para
    comentar de fato.
    Bjins
    CatiahôAlc.

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    1. Bom que gostou. Acabei de programar para amanhã (0h00) um texto divertido (melhor que o meu) que o Chat GPT produziu a meu pedido sobre essa piração.

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  3. Eu fiz ontem um comentário aqui mas parece que ele virou pó...Essa nova modinha é a pá de cal em quem achava que o ser humano tinha jeito.

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    1. O "cero mano" não tem jeito, já perdi a esperança. Mas esses bonecos apenas sinalizam que a humanidade está doente - ou, pelo menos, parte dela. E a doença é emocional, mental.

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