sábado, 3 de maio de 2025

AVINAGRADO


Tenho uma cunhada que é assistente social. Mesmo já aposentada continua com aquela característica que parece própria da profissão: super comunicativa, sempre tentando resolver os problemas de gente mais humilde, sempre propondo soluções que ninguém pediu. Justamente por isso, quando comecei a fazer parte da turma sexy – sexyagenária –, passei a provocá-la dizendo que essa conversa de “melhor idade” é coisa de gente hipócrita ou assistente social. Sua reação mais elegante era um – “Vá à merda!”.
 
Mas a verdade incontestável é que um idoso ou idosa não estão mais na “melhor idade”, já passaram dela. E querer passar um paninho nessa situação é, no mínimo, ofensa à inteligência dos velhinhos ou prova de algum retardamento mental. Já disse isso e vou repetir (falta de assunto é foda):

A partir dos sessenta anos – ou até antes – o(a) infeliz está da seguinte forma: tudo o que deveria aumentar ou manter-se, diminui. Por outro lado, o que deveria diminuir ou manter-se, aumenta. A pressão arterial, a glicose, a perda de memória e a barriga aumentam. Diminui a resistência, o sono, a audição, a visão, a disposição e o tônus muscular. E por falar em tônus, aliado a tudo isso, há ainda o efeito da força gravitacional (salve, Newton!) sobre o corpo.

Com a perda de tônus muscular, tudo despenca – as pálpebras caem, as bochechas, os seios, as bundas, as pelancas, as papadas e até os cabelos. Isso, sem falar na ereção, pois, quando ainda existe (acreditem, ainda existe!!), a coisa fica como as bandeiras de prédios públicos em dias de luto oficial: a meio pau...
 
Pois é, eu conseguia ser mais “engraxadinho” no início do Blogson. Mas a coisa realmente fica feia quando além desses defeitos surgidos pelo uso da máquina por mais tempo, surge a demência. Isso, numa boa, ninguém merece!
 
Li certa vez uma declaração comovente do ex-Monty Python Terry Gillian sobre a demência e morte de Terry Jones, também ele ex-integrante daquele hilariante grupo inglês. Segundo ele, o amigo teria se cansado de viver e ido embora, deixando apenas o corpo para trás.
 
É exatamente isso que acontece com quem sofre demência. O Alzheimer é apenas uma das variantes — e o processo é irreversível. Usando um verso do Ivan Lins: “Você foi saindo de mim devagar e pra sempre, de uma forma sincera, definitivamente.” Serve para quem cuida e também para quem está começando a sair de si.
 
E é isso que eu tenho percebido quando levo minha mulher para fazer um tratamento de oxigenoterapia. Dia desses, ela já estava dentro da câmara hiperbárica quando chegou um casal, ele deitado em uma maca. Não dei muita atenção, até ouvir alguém dizer o nome do paciente: Malber.

Ué, eu tive um colega com esse nome incomum! Aproximei-me dele, perguntei o sobrenome e vi que era ele mesmo! Jovial e bem-humorado quando o conheci, muito diferente da pessoa que via agora deitado à minha frente. Por eu já estar aposentado há dezesseis anos seria natural que talvez não me reconhecesse, mas respondeu meio evasivamente quando disse meu maravilhoso sobrenome (Botelho). A reação foi chocha: – “Ah, sim, Botelho”.
 
Perguntei à sua esposa o que tinha acontecido e, entre outras coisas, disse-me que está com Alzheimer ainda no início. Aquilo me deixou abalado, por ser ele apenas um ano mais velho que eu. E já está "indo embora"!
 
Quanto tempo demorará essa viagem? Ninguém sabe, apenas lembro das palavras do ex-presidente Ronald Reagan ao anunciar que estava sofrendo dessa doença: "Agora começa a jornada para o ocaso da minha vida...” 

Então, é isso que eu queria dizer.

Ah, não gostou deste final sem sal? Então anota aí: A melhor idade é aquela compreendida entre os vinte e os quarenta anos. Aos vinte você já se libertou dos traumas da infância e da insegurança da adolescência. Aos quarenta seu corpo ainda está zero bala, com tudo em cima, sem as surpresinhas que começam a surgir a partir da meia-idade. Se você, estimado leitor, querida leitora, já passou dessa fase, só lamento. E é só isso que me ocorre dizer, pois não tenho nenhuma conclusão a tirar nem outro comentário a fazer sobre este assunto meio avinagrado, que deixa um gosto ruim na boca. Mas nem tudo na vida tem gosto de leite com toddy (gelado, por favor), não é mesmo? 

10 comentários:

  1. Bom dia:- Existem pessoas que nascem com o dom da bondade dentro delas. Bem hajam.
    .
    “” Feliz Fim de Semana ““
    .

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  2. Crônica baixo astral da porra....vô embora.




    voltei.

    Sabe, daqui a um mês eu me tornarei um sexy...60 aninhos!!!! Mas com carinha e corpinho de 59, diga-se.

    "melhor idade" é o pior eufemismo que existe. Porém, hoje em dia não se fazem mais velhos como antigamente. No início do século passado, 50 já era velhice decrépita...

    O avanço da medicina, das medicações, dos exercícios...tudo isso podem dar um suporte para um boa velhice. "Boa velhice" também tem cheiro de eufemismo.

    Sinceramente, estou melhor hoje do que com 40, acredite se quiser. Tenho um histórico não muito auspicioso dos meus anos de juventude, dos 23 aos 37 que não foram legais. Depois eu conto.

    Procuro ter uma alimentação equilibrada. Não bebo álcool, refrigerante, salgadinhos, embutidos, cachorro-quente, essas coisas. Exagero na proteína e nas boas gorduras. Faço treinos quase todos os dias, musculação, força e aeróbico - e meu filho tem que fazer comigo, senão não tem mesada...

    Calculo que se eu não tiver nenhuma doença fatal ou crônica nos próximos anos, poderia ter uma..."boa velhice".

    Minha mãe cultivou um alzaheimer durante 11 anos. Foi doloroso vê-la indo embora aos poucos. Meu pai, que a idolatrava, parece que não aguentou o baque e foi embora dois anos depois. Ambos tinham 77 e 79 anos por ocasião da morte.

    Enfim. É isso que a vida nos dá. Não dá pra saber o quem vem ali na esquina. Estamos nas mãos de eventos que se encadeiam de forma causal que não sabemos onde vai parar.

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    1. Eu também procuro manter uma alimentação saudável (torresmo, feijoada, biscoito docem, salgadinhos, só coisa light)

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    2. ora, tem vovô por aí com mais de 100 que sempre comeu muita gordura e carnes vermelhas e estão ainda vivos. O avô da minha esposa foi um exemplo, morreu aos 102 e sempre comeu de tudo e fumou muito. Tudo bem que teve um enfarte aos 70 mas se recuperou de boa. Quando veio morar aqui com a filha e já chegava aos 98, protestava contra a filha por regular sua alimentação. Sei lá, mas acho que esses tem algum diferencial genético, não é possível.

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    3. Eu gosto de tudo isso, doces, salgados, carne vermelha...mas hoje em dia tenho que maneirar pois sofro de gastrite.

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    4. Às vezes eu tenho azia e queimação no estômago, mas em vez de omeprazol eu encho a pança de leite, biscoitos, etc. Coisa de idiota, né?

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    5. Acho que a genética é o ponto chave. Meu avô nunca comeu carne de boi, só de porco. Morreu atropelado com 72 anos (indo ou vindo da casa da segunda mulher), mas um de seus irmãos morreu com 103 anos. Minha tia mais velha morreu com 104 anos.

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    6. sim, é coisa de idiota ..hahhh
      mas até se for aquele biscoito maizena, rico em amido, pode até dar uma aliviada na queimação...rs

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    7. Um pacote consumido com leite gelado.

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