segunda-feira, 19 de maio de 2025

BONECAS, BEBÊS E BATALHÕES DE BOMBEIROS

 
Ralei muito para atender a encomenda da Catiaho sobre bebês reborn, pois a inspiração não vinha (terminei de escrever o texto “O Fim do Mundo Chegou” às quatro da matina). Depois de tomar café e resolver as inadiáveis atividades matinais, fiquei com vontade de saber o que uma inteligência artificial poderia dizer sobre um bebê tão artificial como ela.
 
Por isso, copiei da Wikipedia um texto gigantesco escrito em inglês e fiz este pedido ao ChatGPT:
- Este é um assunto do momento. Poderia fazer uma crítica ácida sobre, utilizando o texto a seguir, que encontrei na internet? Mas faça em português.
 
E ele fez, gastando para isso uns três segundos. Sincera e humildemente, sou obrigado a admitir que o texto da IA ficou muito melhor que o meu. Por isso, achei que valeria a pena publicá-lo no velho Blogson..
 
Depois, creio que só de sacanagem, o ChatGPT ainda escreveu:
- Se quiser, posso escrever outra versão com humor mais escrachado, ou com um tom mais melancólico e reflexivo. Deseja experimentar?
 
Nem respondi, de tão humilhado fiquei. Ah, IA filhadaputa!
 
A partir de agora o “mando de campo” é do ChatGPT. E até o título é dele.
 
Era uma terça-feira como outra qualquer até que, no noticiário da noite, surgiu a manchete: "Bebê abandonado dentro de um carro é salvo por bombeiros — era uma boneca." Pronto. Lá estava de novo. A humanidade, em sua versão mais dramática e atrapalhada, confundindo plástico com carne, tinta com choro.
 
As reborn dolls, essas bonecas com aparência tão realista que até fazem as veias saltarem (literalmente, pois são pintadas à mão com esmero quase cirúrgico), agora vivem cercadas de cuidados maternos e, por vezes, de sirenes. Porque, veja bem, se um carro está parado sob o sol, e há um "bebê" imóvel dentro, não é loucura quebrar o vidro. Loucura é descobrir que o bebê não respira por falta de pulmões. Que tem cílios colados com cola quente e um magneto na boca para prender a chupeta.
 
Não é só o vidro que se quebra. É a fronteira entre realidade e delírio.
 
O mais curioso é que essas bonecas são vendidas em “berçários virtuais”, entregues com certidão de nascimento, fralda, mantinha e, se o freguês pagar um extra, até com batimentos cardíacos eletrônicos e narizes que "respiram" (movimentos sutis, claro, nada de secreções). Algumas vêm com nome escolhido, outras com aroma de talco, outras ainda em incubadoras para simular a chegada prematura ao mundo. O que falta? Talvez um CPF.
 
"Não julgue," dirão os defensores. "Ajuda no luto, no vazio, no instinto maternal." Sim, talvez. Mas quando o luto exige fraldas Pampers e carrinho de passeio, é possível que o luto tenha virado um espetáculo. Ou uma comédia.
 
Porque, convenhamos, há algo deliciosamente patético em ver duas senhoras discutindo no supermercado sobre qual shampoo é menos agressivo para o couro cabeludo... da boneca. Ou na mãe que não deixa ninguém segurar "a bebê" porque "a cabecinha ainda não firma" — ignorando que a cabeça, feita de vinil, jamais firmará ou cairá, a não ser por defeito de fábrica.
 
Há uma indústria inteira dedicada a tornar plástico mais humano. Enquanto isso, há seres humanos sendo tratados como descartáveis. Ironia? Não. Só mais um capítulo de um tempo em que a fantasia é tão bem-feita que parece real — e a realidade, às vezes, tão absurda que parece brincadeira.
 
Por via das dúvidas, se vir um bebê sozinho no carro, chame os bombeiros. E depois, quem sabe, chame um psiquiatra. Ou um artista. Afinal, está cada vez mais difícil distinguir onde acaba a arte e começa a loucura.
 

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