Um dos programas
que eu e minha mulher mais gostamos de assistir na TV paga é o “Show de Graham Norton”, transmitido no Brasil pelo canal Film & Arts. Para quem não conhece, é
um programa inglês de entrevistas tipo “Jô
Onze e Meia”. A diferença é que quatro a cinco celebridades aparecem
simultaneamente, interagindo entre si e com o apresentador à medida que o
programa se desenrola.
Todos que ali
estão têm algum livro, show, peça teatral ou filme recém-lançado ou prestes a
sair. Outro diferencial é que a equipe do programa desentranha episódios, fotos
e cenas antigas de filmes dos convidados, todos comentados com o humor
afiadíssimo do apresentador.
Gostamos tanto
desse programa que não nos importamos de ver duas ou três vezes o mesmo
episódio, pois há situações absurdamente hilárias e inesperadas. Essa
inexplicável repetição geralmente acontece com os programas da fase
pré-pandemia. Por isso, programas de Natal são exibidos em junho, programas de
novembro são exibidos em dezembro, etc.
E é aí que eu
queria chegar. Comecei a notar que em alguns episódios o apresentador e
convidados estavam usando um tipo de broche ou bottom lembrando uma flor ou
coisa parecida: uma maçã ou circulo vermelho, um núcleo preto e uma ou duas folhas
verdes. Aquilo nos intrigou e minha mulher, excelente pesquisadora na internet,
descobriu em um blog de que se tratava. Aspas a seguir, para um post publicado
há oito anos:
Você deve ter notado que desde o final de outubro a
maioria dos ingleses usa uma papoula vermelha na lapela, mas o que significa e
por que a usam?
Bem, essa é uma flor de papoula vermelha
(English Poppy), usada na lapela como uma homenagem aos veteranos do
exército. Eles têm feito isso desde a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Uma papoula vermelha foi escolhida como uma
homenagem porque era a flor que crescia nos campos franceses onde ocorreu a
Primeira Guerra Mundial e muitos dos soldados ingleses morreram.
Na verdade, a tradição vem de um poema de John McCrae,
intitulado "Nos campos de Flandres". Reza a história que as
tropas avançaram pelos campos recentemente semeados com papoulas e que, à
medida que os soldados caminhavam, faziam com que as papoulas desabrochassem,
cobrindo os campos franceses de vermelho. E de alguma forma simulava o
sangue de soldados que morreram na guerra.
Ao ler esse texto,
interessei-me pelo poema e em saber quem seria o autor. E descobri mais isto:
O Tenente-Coronel John McCrae foi um poeta, médico,
escritor, artista e soldado canadense durante a Primeira Guerra Mundial. Em
abril de 1915, McCrae estava estacionado nas trincheiras perto de Ypres,
Bélgica, em uma área conhecida como Flandres, durante a sangrenta Segunda
Batalha de Ypres. No meio da trágica guerra, o amigo de McCrae, o tenente
Alexis Helmer, de 22 anos, foi morto por fogo de artilharia e enterrado em uma
cova improvisada.
No dia seguinte, McCrae, após ver o campo de
túmulos improvisados florescendo com papoulas selvagens, escreveu seu famoso
poema “In Flanders Fields”, que seria o penúltimo poema que ele escreveria.
Claro que eu não
perderia a oportunidade de publicar esse poema no Blogson (mesmo que mal
traduzido). E, já sabendo que era o penúltimo, logicamente, também não deixaria de publicar o último poema
escrito pelo médico, soldado e poeta, morto em 1918 em consequência de uma
pneumonia. A seguir, os textos originais dos poemas e sua tradução “revisada”
por mim. Espero que gostem.
IN FLANDERS FIELDS
In Flanders fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.
We are the Dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved and were loved, and now we lie,
In Flanders fields.
Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders fields
NOS CAMPOS DE FLANDRES
Nos campos de Flandres, as papoulas explodem
Entre as cruzes, fileira após fileira,
Isso marca o nosso lugar; e no céu
As cotovias, ainda cantando bravamente, voam
Quase não ouvidas entre as armas abaixo.
Nós somos os Mortos. Poucos dias atrás
Nós vivemos, sentimos o amanhecer, vimos o brilho
do pôr do sol,
Amamos e fomos amados, e agora jazemos
Nos campos de Flandres.
Assumam nossa briga com o inimigo:
Para vocês de mãos falhas nós jogamos
A tocha; seja vossa para mantê-la ao alto
Se vocês quebrarem a fé com nós que morremos
Nós não dormiremos, embora as papoulas cresçam
Nos campos de Flandres
THE ANXIOUS DEAD
O guns, fall silent till the dead men hear
Above their heads the legions pressing on:
(These fought their fight in time of bitter fear,
And died not knowing how the day had gone.)
O flashing muzzles, pause, and let them see
The coming dawn that streaks the sky afar;
Then let your mighty chorus witness be
To them, and Caesar, that we still make war.
Tell them, O guns, that we have heard their call,
That we have sworn, and will not turn aside,
That we will onward till we win or fall,
That we will keep the faith for which they died.
Bid them be patient, and some day, anon,
They shall feel earth enwrapt in silence deep;
Shall greet, in wonderment, the quiet dawn,
And in content may turn them to their sleep.
OS MORTOS ANSIOSOS
Ó armas, fiquem em silêncio até que os homens
mortos ouçam
Acima de suas cabeças, as legiões avançam:
(Esses lutaram em tempo de medo amargo,
E morreram sem saber como o dia tinha passado.)
Ó focinhos piscantes, façam uma pausa e os deixem ver
O amanhecer que se aproxima e que raia o céu ao
longe;
Então deixem seu poderoso coro testemunhar
Para eles, e César, que ainda fazemos guerra.
Digam-lhes, ó armas, que ouvimos seu chamado,
Que juramos, e não nos desviaremos,
Que seguiremos em frente até vencer ou cair,
Que manteremos a fé pela qual eles morreram.
Peçam-lhes que sejam pacientes e, algum dia, em
breve,
Eles sentirão a terra envolvida em profundo
silêncio;
Devem saudar, com admiração, o amanhecer tranquilo,
E isso pode fazê-los adormecer.
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