domingo, 23 de janeiro de 2022

CELEBRANDO AS PALAVRAS

 
Por mais que eu tenha desejado acreditar em outra coisa, sou um sujeito mediano. Ou medíocre, como ironizou meu falecido amigo Pintão. Mediano nos gostos, nas crenças, nos preconceitos, em tudo ou quase tudo igual à maioria alfabetizada deste país. Mas sou egocêntrico e vaidoso. Justamente por isso, pela associação do egocentrismo com a mediocridade, sempre acreditei que ao falar do meu próprio umbigo, dos meus grilos, raivas, medos e temores eu provavelmente estaria falando também dos sentimentos do brasileiro médio.
 
Mas, ao contrário da maioria das pessoas, da maioria silenciosa, daqueles que jamais dão o braço a torcer ou que se recusam a pensar em suas próprias limitações e defeitos (fazendo lembrar a ironia contida no poema de Fernando Pessoa/Álvaro de Campos - “Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho”), eu sempre falei de mim e de meus defeitos, um permanente strip tease moral e comportamental.
 
Agindo assim, eu sempre imaginei, tive a veleidade de achar que isso poderia ser útil a algumas pessoas que acessam ou acessaram o blog, por fornecer pontos de contato com a vida de cada um. Não como professor, mas como simples aluno.
 
E esse foi o motivo de publicar o post “Pode me chamar de Sigmund”, um convite subliminar para que as pessoas escrevam suas histórias, contem suas lembranças, reflitam sobre si mesmas. E os trechos transcritos de uma reportagem sobre esse tema corroboravam essa ideia.
 
Mas nem tudo é perfeito, pois o post mencionado recebeu o comentário mais desconcertante e incisivo que já foi feito aqui no blog: “Falar sobre o papel da escrita, estender-se sobre o porquê escrever, é, indubitavelmente, falta de assunto e de ideias para se escrever. Quem tem o que falar, escreve; que não tem, escreve sobre não ter”.
 
Apesar da aspereza das palavras, acreditem, gostei demais. E por estes motivos: mesmo que não integralmente, concordo com o que foi dito. Além do mais, de acordo com cláusula pétrea do blog, resposta grande vira post (antídoto para a falta de assunto). E para finalizar, curiosa e coincidentemente, hoje, Terceiro Domingo do Tempo Comum, é o “dia dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus”.
 
Os ateus podem desconsiderar a expressão “de Deus”. Mesmo assim, fica a sugestão para que o dia de hoje e todos os demais sejam dedicados à celebração, reflexão e divulgação das palavras. Apenas não devem se prestar à divulgação de fake news ou discursos de ódio. Que sejam palavras tolas, palavras vãs, inúteis, piegas, pueris, pouco importa. Basta que sejam úteis para quem as disse.

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