sábado, 8 de janeiro de 2022

URSO BIPOLAR

 
Meu coração se aperta de tristeza e angústia todas as vezes que leio ou ouço falar sobre espécies ameaçadas de extinção. Pode ser alguma identificação inconsciente, pois li há muito tempo (antes do Jurassic Park) que as pessoas idosas sentiriam uma afinidade maior com espécies extintas, justamente por estarem elas próprias mais perto da extinção. Pode ser, pode ser...
 
Para mim é inaceitável que os humanos sejam responsáveis diretos pela extinção de espécies animais e vegetais, em nome do progresso. Foda-se o progresso! Uma propaganda do WWF – World Wildlife Fund que me marcou muito dizia “Extinção é para sempre”. E é essa consciência que, voltando ao início, faz meu coração se apertar de dor e angústia.
 
Estou dizendo tudo isso por causa de uma piada. Verdade! Dia desses, assistindo a um episódio da divertidíssima série “The Big Bang Theory”, ouvi uma expressão que me fez rolar de rir. Durante uma rodada de um jogo bizarro criado por um dos personagens, uma carta é jogada na mesa, com a identificação “Urso bipolar”.

Na hora já fiquei pensando em  como usar esse jogo de palavras absolutamente genial. Talvez em alguma historinha ou diálogo envolvendo três ursos polares, onde um deles comentaria com o colega sobre a magreza do terceiro urso. E a sequência seria algo nessa linha:
- Ele está magro assim porque em metade do tempo ele é vegano.
-Vegano? Um urso polar carnívoro, vegano?
-Esquenta não, ele sempre foi meio bipolar.
 
Bolada essa piada horrível, saí à procura de imagens para montar a história, mas me dei mal. Vi a foto de um urso polar magérrimo, provavelmente pela crescente dificuldade para obter seu alimento e pela redução do gelo onde vive e caça, além de notícias sobre sua provável extinção em futuro não muito distante justamente pelo degelo acelerado de seu habitat. Essa imagem me impactou muito, talvez por sempre me sentir meio urso, um urso hibernando. E ligeiramente bipolar.
 
E me lembrei da frase do WWF. Aí não teve conserto, acabou a graça, acabou a piada. É assustador pensar que você pertence a uma espécie que é um tipo gigante de formiga cortadeira, um bando de gafanhotos anabolizados, uma super colônia de cupins hipertrofiados, que vai deixando a Terra arrasada, o solo, as águas e o ar cada vez mais poluídos e a fauna selvagem cada vez mais frágil, desprotegida e ameaçada de se transformar apenas em animais empalhados ou imagens de documentários antigos (como o lobo da tasmânia, por exemplo).

Quando a Terra atingir níveis insuportáveis de calor, de poluição do meio ambiente, de superpopulação, de escassez de água e de alimentos eu já estarei “dormindo profundamente”, alheio ao desespero, à violência crescente, ao pega pra capar generalizado, ao holocausto mundial de pessoas e animais, ao verdadeiro Apocalipse. Mas, talvez algum de meus descendentes ainda vagueie pela Terra desejando nunca ter nascido. E pensar em tudo isso me deixa muito triste, muito, muito triste.

 

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