sábado, 22 de janeiro de 2022

PODE ME CHAMAR DE SIGMUND


Como já disse outras vezes (sou meio repetitivo), o velho Blogson foi aos poucos se transformando em uma espécie de “blogoterapia”, um lugar de desabafos, onde eu exibi todo tipo de preconceitos, erros e burradas que cometi ao longo da vida. Sinceramente, nunca vi problema em (re)admitir meus erros e culpas, pois só os idiotas não aceitam que erram ou que erraram.
 
E o motivo dessa transformação do blog em instrumento de autoanálise é o fato de ter-me atirado no velho Blogson sem nenhuma rede de proteção, sem filtro quase nenhum. A cada espatifada que eu dava no chão surgiam peças do mosaico que fui montando de mim mesmo. E o que começou como uma brincadeira, um passatempo para um idoso aposentado acabou se transformando em uma terapia gratuita, uma blogoterapia de longa duração que me permitiu ver com bastante nitidez quem eu realmente sou hoje, quem eu fui e o que fiz para chegar até este momento.
 
E por que estou me repetindo? Hoje li uma reportagem (cujo link encontra-se no final deste texto) que fala justamente do papel terapêutico da escrita, de como o “exercício de botar para fora pensamentos e emoções abre a possibilidade de perceber características pessoais e refletir sobre si mesmo”. A seguir, transcrevo alguns trechos que realçam essa ideia.
 
Para Mary Yoko Okamoto, professora de Psicologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) no campus de Assis, no caso de processos mais profundos, escrever não significa que aquela questão vai se resolver, mas é um primeiro passo. "A escrita, sim, pode ajudar. Num primeiro momento, como uma fonte de reflexão para perceber algumas questões. A pessoa geralmente faz uma imersão nela mesma e isso vem à tona. Ela pode escrever e depois, relendo o material, se dar conta de algumas coisas que estão lá no conteúdo. Outra coisa é que tipo de modificação vem a partir daí."
 
A escrita é usada como recurso em terapias, por exemplo, para o tratamento de traumas. Na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), o Projeto Escreva-se é inspirado numa técnica de Yale, universidade americana. São estratégias de intervenção autoguiada, sem mediação, com tarefas de escrita", explica o professor da PUC-RS Angelo Brandelli Costa.
 
Ele ressalta que os participantes precisam seguir o modelo proposto pelo método. "Não é pegar um diário e escrever. Embora não tenha um profissional de saúde acompanhando, é parecido com a psicoterapia", afirma Costa.
 
"Não importa se vai ser uma frase ou cinco páginas. Independentemente do volume de texto, existem evidências de que esse processo melhora a saúde mental, apenas com o fato de a pessoa tentar botar de uma forma organizada a situação traumática, endereçado a alguém ou a si mesma", diz.
 
A escrita tem uma função instrumental em terapias tradicionais, explica Costa. "Na psicanálise, há várias técnicas projetivas. Quando Freud analisa os sonhos, está analisando as narrativas", explica Costa. Um diário também pode servir para a pessoa lembrar do que acontecia com ela no momento em que se sentiu de determinada maneira. "Algumas pessoas conseguem se expressar muito bem com a fala. Outras desenham, outras escrevem."
 
A professora pontua que escrever não é para todo mundo. "Tem gente que tem essa maneira de expressão. Para outras pessoas, pode ser mais acessível a música, a pintura ou a fotografia. São as formas de linguagem de cada um."
 
Tendo criado um blog originalmente destinado a desovar as piadas infames, besteiras e idiotices que mandava para por e-mail para alguns amigos, fico feliz em constatar que – por puro acaso – eu estava correto em utilizá-lo também como “Muro das Lamentações” ou, em outras palavras, um híbrido de terapeuta e terapia, uma “blogoterapia”.
 
Se o blog fosse uma pessoa, talvez pudesse dizer:
- Meu nome é Blogson Crusoe, mas pode me chamar de Sigmund. Freud, naturalmente.
 
https://www.terra.com.br/noticias/coronavirus/na-ponta-do-lapis-como-a-escrita-pode-ajudar-no-autoconhecimento,26c270fe4ef7b237415fcd63c07a384dkw3z1h8t.html
 

 

  

Um comentário:

  1. Falar sobre o papel da escrita, estender-se sobre o porquê escrever, é, indubitavelmente, falta de assunto e de ideias para se escrever. Quem tem o que falar, escreve; que não tem, escreve sobre não ter.
    Falo por mim mesmo.

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