Nunca me arrependi por não ter estudado Letras. Me arrependi de não ter
estudado Psicologia ou Economia em lugar de Engenharia. Na verdade,
arrependo-me de não ter estudado, pois fui um aluno medalha de ouro em
irresponsabilidade. A melhor e mais sincera definição que já fiz de mim mesmo é
esta: Sinto-me
como se fosse o resultado de um projeto ambicioso que não deu certo, seja por
defeito de concepção, seja por erro de dimensionamento, talvez pela má
qualidade dos materiais empregados ou por falhas no processo produtivo ou, até
mesmo, por vícios de utilização.
Mesmo sabendo
que agora é tarde para me deleitar com o choro derramado (ou seria chorar pelo leite derramado?) uma coisa
eu sempre soube: jamais estudaria Letras. Por isso, tudo o que eu sei ou não
sei sobre literatura eu aprendi “tocando
de ouvido”, jamais lendo a “partitura”.
E crítica literária é bem isso, você precisa saber ler partitura, conhecer a teoria para dar sua opinião..
Esta
introdução tosca é só para falar de Thiago de Mello, poeta amazonense cuja obra
só conheci agora, depois de sua morte. Os literatos, os intelectuais (se lerem
este blog) poderiam colocar as mãos no rosto para exibir seu espanto e horror
diante de minha ignorância, reproduzindo assim o quadro “O grito”, do pintor Edvard Munch. O que posso dizer é que literatura sempre foi prazer para mim, nunca objeto de estudo.
Já tinha
ouvido falar de Thiago de Mello, mas nunca tive paciência ou interesse em ler
seus poemas longos e engajados, pois embora goste muito de poesia, seu efeito
em mim tem de ser como um soco na cara, alguma coisa que me pega de surpresa, me
derruba, me fascina, me encanta e me faz reproduzir mentalmente a frase da música
do Milton&Tunai: “como não fui eu que fiz?”
(agora o leitor está entendendo o motivo de eu dizer que nunca pensei em
estudar Letras; era uma defesa prévia, quase como em uma partida de xadrez).
Um poema
mais longo ou que aborde questões sociais nunca será para mim um soco na cara.
Mas o cara era muito bom. Em algum momento disse uma frase que aparentemente
reproduz os sentimentos de todos os que se arriscam a rabiscar alguns versos: "Escrevo
sobre o que me comove, o que instiga minha sensibilidade ou minha inteligência.
O que me alegra ou me dói."
E como
homenagem tardia a esse poeta, escolhi para reproduzir aqui no velho Blogson o
poema “As ensinanças da dúvida”. Salve,
Thiago de Mello!
Tive um chão (mas já faz tempo)
todo feito de certezas
tão duras como lajedos.
Agora (o tempo é que fez)
tenho um caminho de barro
umedecido de dúvidas.
Mas nele (devagar vou)
me cresce funda a certeza
de que vale a pena o amor
Tive um chão (mas já faz tempo)
todo feito de certezas
tão duras como lajedos.
Agora (o tempo é que fez)
tenho um caminho de barro
umedecido de dúvidas.
Mas nele (devagar vou)
me cresce funda a certeza
de que vale a pena o amor
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