quinta-feira, 30 de novembro de 2017

SMARTPHONE

Voltei do cardiologista com a receita de um novo medicamento (mais um!), pois os exames detectaram que fico com arritmia a partir de determinado nível de esforço físico. Bacana! Mais um aplicativo trazido pela idade.

A piada que define a velhice como sendo a “idade do condor” (com dor aqui, com dor ali, etc.), apesar de verdadeira e bem sacada é pouco abrangente e, venhamos e convenhamos, já está quase tão gasta quanto a frase “é pavê ou pra comê?”, que muitas pessoas utilizam como se fosse a coisa mais original do mundo.

Por isso, do alto dos meus sessenta e sete anos (talvez devesse dizer “do baixo”), resolvi dar uma melhorada, fazer um upgrade nesse conceito. Afinal, eu tenho a força! (não, isso é coisa do desenho do He-Man). Reiniciando, eu tenho a experiência, a expertise nessa área (é chique demais usar palavras em inglês!).

A ideia é a seguinte: para mim, a velhice lembra um pouco um smartphone, pois já vem cheia de “aplicativos” (mesmo que você não queira usá-los!). Esses “aplicativos” são os seguintes: vista cansada, calvície, perda progressiva de audição, dor nas articulações, barriga obscena, insônia e irritabilidade. Devo ter esquecido alguns, pois a perda de memória é outro desses aplicativos. Sem falar nos que surgem provocados pela ação da gravidade no corpo. A bem da verdade, mais em algumas partes que em outras, se entendem o que quero dizer. Aliás, deve ser essa a explicação de tantos senhores apresentarem uma expressão circunspecta, triste, grave. É o efeito da gravidade, lógico.

Por tudo isso que foi dito (devo ter esquecido alguma coisa!), por todos os aplicativos que traz consigo, a velhice pode mesmo ser comparada a um smart de grife, talvez até mesmo a um iPhone. Mas, por seus efeitos indesejados, talvez seja melhor chamá-la de Ai Phone.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

VALOR RELATIVO

Hoje recebi no Facebook um daqueles posts que lembram cometas, pois, apesar de antigos, periodicamente entram de novo no “sistema solar”.  O post relacionava a fortuna dos telepastores mais badalados. Fui conferir os dados na internet e descobri que são de 2013. Sem problema, pois teriam sido extraídos de uma reportagem da revista Forbes, transcrita pelo portal G1.

Segundo a reportagem, a “fortuna de líderes evangélicos chamou atenção da Forbes, que adora listas de bi e milionários. A revista americana Forbes – sinônimo de listas das pessoas mais ricas do mundo – debruçou-se sobre a fortuna dos ‘multimilionários’ líderes evangélicos brasileiros. Para a Forbes, a indústria da fé é um ‘negócio altamente lucrativo’ no Brasil, liderada pelo chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo(...) ‘A religião sempre foi um negócio rentável. E se acontecer de você ser um pregador evangélico brasileiro, as chances de ganhar na loteria celestial são realmente muito altas hoje em dia’, diz a matéria

E aí vem esta lista:
                        Pastor / Igreja                                                           Fortuna
Edir Macedo (Igreja Universal do Reino de Deus)                   US$950 milhões
Valdemiro Santiago (Igreja Mundial do Poder de Deus)          US$220 milhões
Silas Malafaia (Igreja Assembleia de Deus)                             Us$150 milhões
R. R. Soares (Igreja Internacional da Graça de Deus)             US$125 milhões
Estevam e Sonia Hernandes (Igreja Renascer em Cristo)       US$  65 milhões

É muita grana! Segundo o post, o Valdemiro teria entrado com processo contra a divulgação dessas informações. Imagino que o real motivo do boiadeiro ter pensado nisso pode ser a humilhação imposta a todos pelo Edir Mais Cedo (“Deus ajuda a quem cedo madruga”). Porque, fazendo as contas, um Edir Macedo vale 4,3 Valdemiros! (ou 6,3 Malafaias; ou 7,6 R.R. Soares; ou 14,6 Hernandes).

É nessas horas que a beleza da matemática se manifesta (por isso, não consigo entender por que tanta gente detesta essa ciência. Serve para tanta coisa! Até mesmo para fazer piadas sem nenhuma graça).

Por exemplo, se você jogar os valores relativos do Edir e do Valdemiro em uma equação matemática, descobrirá que o resultado é exato. Olha só:

4,3 x 0 = 1 x 0. Perfeito!


terça-feira, 28 de novembro de 2017

ODE AO POLITICAMENTE CORRETO

Às vezes eu penso que a internet é como uma arena onde gladiadores de todo tipo se enfrentam. Algumas pessoas são tão agressivas que poderiam ser comparadas às feras que degustavam os cristãos no Coliseu. E tome reprovações de todo tipo a todo tipo de comportamento possível. “Ah, você é contra isso assim assim”? “Filho da puta!”, “Idiota!”, “Fascista!”, “Comunista!”, “Bunda Mole!”, “Banguela!”, “Peidorreiro!” (o menu pode ser bastante variado).

Mas creio que nada se compara ao embate entre Esquerda e Direita. A coisa é tão intensa que às vezes eu penso que a qualquer hora o tradicional fígado acebolado com jiló do Mercado Central será disputado na palitada, palito a palito, garfada a garfada, tantas são as pessoas que querem comer o fígado dos simpatizantes da ”agremiação” adversária.

Uma coisa, entretanto, tem me incomodado muito: aparentemente, tudo o que pode ser relacionado à Direita é “ilegal, imoral ou engorda”. Bom, é quase isso. Querem um exemplo? Ouvi hoje no rádio que a expressão “mi mi mi” é “criação da direita racista”. Agora fodeu! Fiquei sem saber o que pensar (a bem da verdade, tenho ficado muito sem saber o que pensar, mas acho que é coisa da idade). Pelo jeito, um eleitor do Lula jamais poderá fazer um deboche usando essa expressão. Como sou um cara da conciliação e do entendimento, sugiro que usem qualquer uma das seis outras notas musicais. Talvez dê certo.

Outro exemplo da má vontade com aqueles que valorizam o esforço individual e o mérito é o comportamento politicamente correto. O Millôr Fernandes foi brilhante (como sempre) quando disse isso em uma entrevista: "estamos nos aproximando perigosamente da neo-ditadura americana - a mais estúpida da história, tendendo a ficar violenta - a do politicamente correto. Mexe com tudo - cigarro, trepadas, segurança (o cinto), as piadas, as etnias. O cidadão americano hoje se auto-policia tanto quanto o cidadão soviético se policiava no stalinismo e o alemão no nazismo. (...) Os débeis lá de cima - de um lado e de outro - não percebem que quando um negro está sendo tratado com cuidado, é porque o outro o está colocando como inferior, no respeito, e ele está se colocando como inferior, na exigência". Quem disse isso foi o Millôr Fernandes!

Sem sacanagem, eu ODEIO essa expressão! Sempre disse que só não sou 100% politicamente incorreto por desprezar todo tipo de radicalismo (não se assustem, eu sou especialista em auto-citação sem pudor). Além do mais, apesar de ser monoglota, acredito que essa expressão importada é mal traduzida. Em português e em inglês existe a palavra drama (com uma pronúncia parecida com "drêma"). Vira e mexe, em algum programa legendado, eu ouço e leio essa palavra, mas o assunto tratado não se encaixa bem no meu conceito de "drama".

A mesma sensação eu tenho em relação ao famigerado "politicamente correto". Essa é uma expressão infeliz que me dá azia. Sei não, mas tenho uma desconfiança que deve haver alguma sutileza na forma original, não captada por quem a traduziu. Por mim, mudaria essa expressão para "comportamento socialmente desejável". Acabaria dando na mesma merda, mas seria mais inteligível. Mesmo que continuasse tão detestável e castrador quanto a versão original.

Mas agora estou meio cabreiro, pois li que “o discurso politicamente incorreto é, em oposição ao chamado politicamente correto, uma forma de expressão que procura banalizar os preconceitos sociais sem receios de nenhuma ordem. Em geral, confunde-se com opiniões de direita, mas pode ser também expressão de simples preconceitos cotidianos”.

Pô, já nem se pode mais ser politicamente incorreto em paz! Vacilou, já tem alguém te aplicando o carimbo de “Direita”, já fica com o rótulo de “fascista”. Falando em rótulo, os semideuses da internet, aqueles que se julgam donos da verdade absoluta usam tantos rótulos diferentes que até lembram lojas especializadas em cervejas artesanais.

Mas voltemos ao tema principal. Lógico que não posso ser politicamente correto, pois sendo de Direita já serei rotulado de idiota, fascista e capaz das maiores vilanias, tais como derrubar o sorvete de uma criança ou desenhar bigode no retrato da Gleise.

OK, admito que sou de Direita, mas uma Direita light, sem glúten e sem adição de açúcar. Centro-direita, entendeu? Por isso, como sou um sujeito da paz, não quero que me confundam com um bolsonarista juramentado (quase ia escrevendo “jumentado”, mas percebi a tempo).

Sendo essa minha intenção, resolvi aderir às praticas corretas. Por isso, resolvi propor novos parâmetros para o que o Washington Olivetto definiu como “politicamente saudável” (o cara é muito bom). Poderíamos começar estabelecendo um protocolo para “práticas sexualmente corretas”. O documento (tamanho médio, normal) estabeleceria que todas são corretas - até mesmo a abstinência, que é a tara sexual mais esquisita, segundo o Millôr.

Outra opção seria o comportamento soporiferamente correto. O contrário disso seria a situação em que o sujeito adormece no ônibus e começa a roncar alto, a babar pelo canto da boca ou, no extremo, a usar o ombro do vizinho como travesseiro. Isso, logicamente, seria intolerável.

Mais um exemplo civilizatório a ser observado: comportamento flatulentamente correto. O cidadão que preza esse valor evitará ao máximo peidar em público, especialmente se for dado a sons de corneta. Em elevadores, ambientes fechados e ônibus cheios em dias chuvosos, então, nem pensar! Jamais poderá aliviar-se se houver o menor risco de exalar odor de gambá molhado ou em estado adiantado de putrefação. Nada denuncia mais um sujeito flatulentamente incorreto que a expressão de cachorro-que-peidou-na-igreja estampada (ou “estampida”) em seu rosto.

E por aí vai. Falando um pouco mais sério, eu gostaria que a classe política brasileira adotasse comportamentos politicamente corretos, mas aí já é querer demais, não é mesmo? Talvez algum de meus "amigos de Facebook" se espante com minha falta de modos. Paciência. Como já disse em outra ocasião, o politicamente incorreto e o escrachado andam sempre de mãos dadas na minha mente. Mas os dois são heterossexuais.


sábado, 25 de novembro de 2017

RAÇÃO PARA PINTO

A cada dia que passa fico mais fã do deputado presidiário, o velho e bom Celso Jacob, pois ele é a personificação, a materialização do que tenho dito ultimamente – a realidade pode ser ainda mais louca que a mais delirante ficção.

Afinal, não bastasse ter sido condenado pelo STF (a suprema instância) a cumprir pena de sete anos por crime de falsificação de documento público e continuar exercendo impunemente seu mandato no Congresso, resolveu escangalhar de vez o limite entre o delírio e a realidade, ao tentar entrar na cadeia com queijo e biscoitos na cueca.

Pataquipareu!!! Um presidiário que continua deputado! Flagrado com queijo e biscoitos na cueca! É demais para minha cabeça...

Só falta agora ele tentar ficar livre da punição que recebeu, dizendo algo assim:
-Doutor, alivia aí, é só um queijinho, só uns biscoitinhos quebrados!

Aí o responsável pela revista poderia retrucar assim:
- O senhor está querendo insinuar que isso é ração pra pinto? 

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

DEU BANDEIRA

O fodástico designer gráfico Hans Donner propôs uma alteração nos dizeres centrais da bandeira brasileira, acrescentando a palavra “AMOR” ao texto original, que ficaria assim: “AMOR, ORDEM E PROGRESSO”.

Achei bacanérrima a sugestão, mas, já que é um símbolo, acredito que nossa bandeira precisa passar por uma fase civilizatória intermediária. Minha proposta é, num primeiro momento, mudar para este modelo:


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

COMENTANDO AS RECENTES - 047 (GLÓRIA)

Às vésperas do Dia da Consciência Negra, a repórter Glória Maria publicou no Instagram uma frase atribuída ao ator americano Morgan Freeman, que diz o seguinte: "O dia em que pararmos de nos preocupar com Consciência Negra, Amarela, ou Branca e nos preocuparmos com Consciência Humana, o racismo desaparece”.Ótima frase, mesmo que não dê para saber se corresponde à realidade. Mesmo assim, cutucou todos os que têm "aquela velha opinião formada sobre tudo". O resultado é que só faltou ser crucificada,  tantas foram as críticas e reações negativas.    

O Millôr Fernandes ensinou que "livre pensar é só pensar". E a Glória Maria demonstrou ter essa qualidade cada vez mais rara hoje em dia: ela pensa! Sua reação às críticas foi um texto claro, lúcido e perfeito. A transcrição de suas palavras no Blogson só dignifica e valoriza este blog indigente, este blog da solidão ampliada. Não preciso comentar nada, pois o texto diz tudo o que eu penso e sinto. Bora lá.

Pra todos que não concordam com este pensamento do Morgan Freeman: não concordar é um direito de vocês! Mas pretender que todos pensem igual é no mínimo prepotente! Eu concordo totalmente com ele! Pra começar, ele não é brasileiro e não está citando o dia da Consciência Negra. Uma conquista nossa! Está falando de algo muito maior. Humanidade! Eu e ele também nascemos negros e pobres e conquistamos nosso espaço com muita luta é trabalho! Não somos privilegiados. Somos pessoas que nunca aceitaram o lugar reservado pra nós num mundo branco! Algum de vocês conhece a minha história e a dele? Se contentam em tirar conclusões e emitir opiniões equivocadas em redes sociais! Nós estudamos, lutamos, resistimos e combatemos todo tipo de discriminação! O preconceito racial é marca nas nossas vidas! Mas não tenho que mudar minhas ideias por imposição de quem quer que seja! Apagar este post???? Nunca!!!! Quem não concorda com ele ok! Acho triste mas entendam. As cabeças e os sentimentos graças a Deus não são iguais! Como lutar contra a desigualdade se não aceitamos as diferenças? Queridos vivam suas vidas e nos deixe viver a nossa! Temos que tentar sempre encontrar nosso próprio caminho! Sem criticar e condenar o dos outros! Cada um precisa combater o racismo da maneira que achar melhor! Lembrando sempre do direito e da opinião do outro!sou negra e me orgulho . Mas não sigo cartilhas . Minhas dores raciais conheci e combati sozinha! Sem rede social para exibir minhas frustrações! Tenho direito e dever de colocar o que penso num espaço que é meu! Não imponho e não aceito que me digam como devo viver ou pensar! 

FALTA DECORO

Quando eu era criança, minha mãe, ao ver um menino fazendo birra, dizia que o birrento estava “precisando de couro”. O curioso nessa história é que ela nunca nos bateu. Quando passávamos muito dos limites, um tapa no braço ou um beliscão resolviam o assunto. Hoje em dia os pais não podem corrigir os filhos pelo método Braille (usando a mão), mas algumas pessoas demonstram que deveriam ter sido exempladas na infância, para aprender a ter vergonha na cara.

Pertence a esse grupo (ou "bando" ou "quadrilha") a maioria dos parlamentares brasileiros. Aparentemente, nunca receberam educação nem um corretivo adequado de seus pais; usando as palavras de minha mãe, sempre precisaram “de couro”. Cresceram, foram eleitos e deu nisso que vemos atualmente. Porque hoje em dia, o artigo mais em falta no Congresso é decoro parlamentar (entenderam agora onde eu queria chegar?).

Mas não foi sempre assim. Em 1949 cassaram um deputado por quebra de decoro parlamentar. O motivo da cassação – dá até pena do coitado – foi ter sido fotografado fazendo pose, vestido de fraque e cueca samba-canção (gigantesca). Deveria ter sido cassado pelo ridículo da indumentária, nunca pela falta de decoro. Mas foi cassado, talvez porque os parlamentares da época possuíam um mínimo de vergonha na cara, prezavam e respeitavam o tal decoro parlamentar.

O tempo passou, a decência dos homens públicos caiu de moda e descobriu-se outra serventia para a cueca, depois de um assessor “paralamentar” de um deputado petista (só tem honesto no PT!) ser preso com US$100 mil dentro de sua “underwear”. Pensem bem, cem mil dólares equivalem a 325.000 paus em moeda brasileira. Creio que ninguém nunca imaginou que caberia tanto pau dentro de uma mesma cueca!

E agora, para arregaçar de vez a moral pública (entidade abstrata tão improvável quanto a existência de fadas e duendes), temos um deputado presidiário. O velho e bom Celso Jacob, do PMDB-RJ, mesmo condenado definitivamente pelo STF (a suprema instância) a cumprir pena de sete anos por crime de falsificação de documento público e dispensa de licitação, continua deputado, continua a exercer o seu mandato em Brasília, continua a receber auxílio-moradia, mesmo tendo que dormir na Papuda.

Segundo a revista VEJA, o "inocente" dorme em uma cela de 12 metros quadrados (pequena!) na ala dos “vulneráveis”. Mas, como pode alguém com “direito a foro privilegiado” ficar na ala dos “vulneráveis”? Mais invulnerável que ele só mesmo o Aécio e o Temer!

A reportagem informa ainda que toma banho (quente) no Congresso (na Papuda é banho frio), toma café e almoça do bom e do melhor no restaurante do Congresso e fica no celular o tempo todo (na Papuda não pode). Filé! E Suas Excelências não cassam o “desinfeliz”! Por isso, ao sair do presídio-dormitório para “trabalhar” e lembrar que foi condenado mas não foi cassado, poderá sorrir com ironia e dizer algo assim: “-Tomou, Papuda?

Em 02 de novembro o site UOL também publicou uma reportagem sobre as “dificuldades” desse deputado. O que mais chamou minha atenção foram estas informações (o grifo é meu): 
Mais de cinco meses depois da condenação, já transitada em julgado, a Mesa Diretora da Câmara e partidos com representação na Casa ignoram a decisão do STF. Embora a Constituição preveja que o peemedebista deve perder o mandato por ter sido condenado, a direção da Casa e os partidos, inclusive os da oposição, não apresentaram até agora no Conselho de Ética pedido de cassação do parlamentar.
O artigo 55 da Constituição estabelece que perde o mandato o deputado ou senador que "sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado". A perda, porém, não é automática após a condenação.
Para que o processo de cassação seja aberto, a Mesa Diretora da Câmara ou algum partido com representante no Congresso deve apresentar o pedido. A palavra final é do plenário, por maioria absoluta da Casa --257 deputados, no caso.

Antigamente, ser fotografado de cuecas era inadmissível, não podia, mas, hoje em dia, fraudar licitação é considerado normal (ou norma)? Como diria a finada Hebe Camargo cerrando os dentes: “- Gracinha!

A esculhambação, o corporativismo e a falta de vergonha na cara atingiram níveis tão altos no aquário onde vivem Suas Excelências que o cumprimento da lei magna tornou-se irrelevante para eles. Se fossem ainda crianças estariam precisando de couro. A falta de bom senso, decência e decoro dos nobres parlamentares faz com que mereçam uma boa surra, mesmo que seja só nas urnas. Aliás, essa é a única resposta que merecem receber da população.



domingo, 19 de novembro de 2017

MATEMÁTICA APLICADA

Uma vez eu recebi um e-mail profissional, que tinha no final a seguinte frase: “nós somos o resultado de nossas escolhas”. Na época, fiquei muito impressionado, mas depois descobri que é uma frase bem na linha daquela que diz que “o homem é filho do menino”.

Neste fim de semana, por não ter nada com que me preocupar (afinal, os parlamentares estavam gozando o feriadão de 15 de novembro!) nem nada que me ajudasse a passar o tempo - nem mesmo uma unha encravada ou dente siso - lembrei-me dessa frase e fiquei por ali pensando sobre as escolhas que fiz ao longo da vida e em que resultaram (não há um lugar específico para “ali”, isto é só um artifício para engordar um pouco o texto).

Depois de muito matutar sobre o assunto (uns 2,3 minutos), cheguei à conclusão de que deveria fazer uma releitura da frase inicial. No meu caso, ela ficaria assim: “eu sou o resultado da soma das minhas escolhas”.

Acho até que ficou bacana, mas tem um problema nesta história: ao fazer a soma das minhas escolhas descobri que essa operação é algébrica e, pior, o resultado que encontrei foi zero. Matemática filha da puta!

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

PATRULHEIRO TODDY

Quando eu era criança (o asteroide responsável pela extinção dos dinossauros ainda não tinha caído na Terra), revistas em quadrinhos e filmes de faroeste eram a coisa mais comum que existia. Incomuns ou raras eram as casas que possuíam televisores. Por conta disso, criou-se até a expressão “televizinho” para indicar os amigos e moradores mais desinibidos e sem noção que, confortavelmente acomodados nos sofás e cadeiras do feliz proprietário desse aparelho, assistiam a programação noturna da única emissora que existia em BH. No caso, a TV Itacolomi, dos Diários Associados.

A casa de minha avó onde morávamos não tinha televisão. Em compensação, no barracão (edícula) construído na lateral da casa, morava minha tia, recém-casada. E ela possuía. O resultado é que no final da década de 1950 e início de 1960 eu era freguês dos seriados em preto e branco passados à tarde e início da noite: Rin Tin Tin, Papai Sabe Tudo, O Último dos Moicanos, Maverick, Bat Masterson, Ivanhoé, Aventura Submarina, Os Intocáveis, Além da Imaginação e Patrulheiros Toddy

Posso ter-me confundido ou esquecido de algum, mas essas séries estão no Big Bang da televisão brasileira. Batman (zás! pow!), O Agente da Uncle, Zorro (o do hilário Sargento Garcia), Agente 86, Perdidos no Espaço, Jornada nas Estrelas, Família Adams, Bonanza e outros jurássicos foram exibidos quando eu já era “grande”, ou melhor, quando já estava às voltas com minha insegurança, medos e dramas da adolescência.

Recentemente, lembrei-me de um desses antigões, mais especificamente dos “Patrulheiros Toddy”. Eu estava no final da infância quando esse seriado foi exibido em BH. Os heróis eram os Texas Rangers americanos, sempre às voltas com algum criminoso e exibindo aquele chapelão ridículo, do tipo que o dono da Igreja Mundial e os cantores sertanejos gostam de usar. Muito bem.

Nos intervalos de cada episódio desse seriado, obviamente patrocinado pelo achocolatado que dava nome ao programa, entrava um ator brasileiro vestido de patrulheiro, tendo ao lado um ou dois meninos vestidos da mesma forma. Aquilo para mim era o máximo, pois eu sonhava (sonho irrealizado) ser também um patrulheiro Toddy. Os potes desse achocolatado vinham com pequenos brinquedos tipo estrela de xerife, essas coisas. Certamente devo ter implorado para minha mãe comprar um, para poder ganhar aquela estrela “fantástica”. Mas não me lembro de ter ganhado ou não, pois creio que nem todos os potes traziam esse brinquedo. Bela sacanagem!

Anos depois, já casado ou namorando, descobri que um dos conhecidos da família de minha mulher havia sido um dos patrulheirinhos que me causaram tanta inveja. É engraçado dar-me conta de que nunca conversei sobre isso com ele, apesar de ter utilizado seus serviços de contador por breve tempo. Só pode ter sido ato falho ou inveja recalcada!

Mas alguém pode estar se perguntando por que resolvi escarafunchar a memória para extrair essa bobagem. O primeiro motivo é que eu gosto de contar casos (mesmo que já não tenha muita coisa para contar), como bem sabem os dois leitores do Blogson. O segundo motivo não tem nada de nostalgia. Na verdade, vem acontecendo já há algum tempo, pois estou falando de patrulhamento, ou melhor, dos diversos tipos de patrulhamento que viraram moda no país.

Aliás, pensando bem, "patrulhas" cujo papel era perseguir e punir os diferentes, os independentes sempre existiram. Fariseus da Bíblia, Guarda Vermelha, Inquisição, Comando de Caça aos Comunistas, Guarda Bolivariana, Ku Klux Klan, milícias de todo tipo, etc. Caçar e queimar bruxas literal ou metaforicamente falando sempre foi sua missão e razão de existir. E depois ainda dizem que a espécie humana é gregária. Boa para criar presentes de grego, isso sim!  Mas hoje em dia a coisa ficou pior, graças à visibilidade que esses grupos ganharam nas redes sociais da internet.

“Redes sociais”, pensando bem, é um nome super adequado, pois a “pesca” é feita de forma indiscriminada, predatória, descartando-se as espécies que não interessam. Assim como na pesca de peixes, o que menos importa é preservar ou respeitar a integridade do descarte. Este papo está meio idiota e pouco consistente, mas o que eu estou tentando dizer é o seguinte: a ideia do Grande Irmão, do Big Brother é (na bem sacada observação do Marreta) uma coisa já ultrapassada, modesta, pouco ambiciosa, pois o que existe hoje é a Grande Irmandade, sempre pronta a devorar os independentes, os que não pensam ou seguem suas crenças e ideais.

A Grande Irmandade dos atores e famosos que se autointitulam intelectuais, por exemplo, é pródiga em perseguir e condenar os colegas considerados "de Direita", como se fossem os leprosos bíblicos dos dias de hoje. Curiosamente, nos Estados Unidos já houve um movimento semelhante, só que no sentido inverso, quando os considerados "comunistas" eram proibidos de trabalhar. Prova de que a Intolerância não precisa de ideologia ou religião para vicejar, para se manifestar e atacar.

Eu me entristeço ao observar o avanço do comportamento classificado como "politicamente correto", sinal que a humanidade está ficando a cada dia mais mal humorada, cada dia menos capaz de rir de si mesma. Ninguém poderia ser julgado e perseguido por ter  pensamentos racistas, sexistas, homofóbicos ou iconoclastas. E daí? Se esse comportamento não traz prejuízo real a ninguém, qual é o problema de alguém ter esse tipo de pensamentos e externar isso em sua vida privada?

Eu sou católico praticante (apesar de ter lido "Sapiens"), mas já fiz e já ri muito de piadas sobre religião, Jesus, etc. Da mesma forma, sou radicalmente contra o machismo, o racismo e a homofobia, mas já rolei de rir com piadas sobre isso. E ri justamente porque são piadas. E foram contadas sem a presença dos que poderiam ofender-se com elas.

Uma vez criei a expressão "Síndrome da Divindade Adquirida" (que era também uma piada) para indicar o comportamento de pessoas que acreditam que o mundo é ou deveria ser "à sua imagem e semelhança", segundo suas crenças. Os fundamentalistas religiosos são particularmente bons nisso, mas não há verdades absolutas, não há certezas absolutas. Por isso, divirto-me quando vejo no rosto de conhecidos e pessoas próximas expressões de perplexidade e espanto provocados por algum comentário que faço.

Hoje em dia, quando o comportamento politicamente correto vai aos poucos se transformando em epidemia - ou até pandemia - vejo pessoas que lembram o Giordano Bruno ao defender de forma intransigente sua independência intelectual, não se importando com as eventuais consequências. Esse é o caso de meu amigo virtual Marreta, que viu seu blog “colocado na fogueira”, mas não se intimidou nem se rendeu.

Eu, particularmente, me identifico mais com o Galileu Galilei, que para não sentir sua pele pururucar, viu-se obrigado a renunciar publicamente à sua descoberta de que a Terra não era o centro do Universo. Por isso, segundo a lenda (lenda mesmo), teria murmurado algo como "apesar disso, ela se move". Eu me vejo assim. Sigo e respeito convenções, por mais idiotas que as considere, mas sigo. Por dentro, entretanto, sou livre. E enquanto não inventarem um rastreador de pensamentos politicamente incorretos, continuarei livre, nunca patrulhando nada nem ninguém, pois só uma vez, só uma vez na vida eu quis ser patrulheiro. Patrulheiro Toddy.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

COMENTANDO AS RECENTES - 046 (LEILÃO)

Em 16/11/2017 o portal G1 divulgou esta notícia:

“A casa de leilões Christie's leiloou, na quarta-feira (15), por US$ 450,3 milhões, um quadro pintado por Leonardo da Vinci há cinco séculos, ‘Salvator Mundi’, a única obra do artista italiano mantida em coleções privadas.O quadro, que chegou a fazer parte da coleção do Rei Carlos I da Inglaterra, acabou nas mãos de um bilionário russo, que o comprou em 2013 por US$ 127,5 milhões”.

O único comentário que me ocorre é este: “Jesus Cristo, isso tudo?” Ou melhor, “Jesus, Christie's, isso tudo?”


domingo, 12 de novembro de 2017

CRENÇAS E CONVICÇÕES


VOO CEGO

Para mim, a Realidade é sempre mais divertida que a ficção mais delirante. A prova disso é a história que ouvi depois de publicar o post “Plantão Médico”. O “causo”, acontecido há muitos anos, é o seguinte:

Já mais idoso, um médico ortopedista continuava a operar normalmente, até que começou a perder a visão. Mal comparando, seria como um pintor ou fotógrafo que começasse a enxergar menos a cada dia. Ou, em caso extremo, como o Beethoven com sua surdez progressiva. Como exercer sua profissão, como fazer o que gostava de fazer? Porque, imagino, ele devia amar sua profissão, talvez acima de quase tudo - e, principalmente, - acima do bom senso. Porque continuou a fazer cirurgias simples, mesmo não enxergando quase nada.

Para isso contava com a ajuda de residentes (médicos já formados, mas ainda fazendo especialização em ortopedia). Com a ajuda desses jovens médicos e graças à imensa experiência adquirida, ia só no “piloto automático”, num autêntico “voo por instrumentos”. Apalpava o local da cirurgia, identificava o tendão ou coisa semelhante, e orientava o residente: “- Corta!”.

O corte (ou incisão) era então feito e, provavelmente, examinado por ele graças a um método “braille-cirúrgico”. Vinha nova orientação: “- Corta!”.

E assim a cirurgia ia se desenrolando. Mas às vezes acontecia de o residente alertar:

- Doutor, isso aí é o nervo!
- Então não corta! Então não corta!

Em outra ocasião, diante de uma situação que se prenunciava mais complexa, o residente que iria auxiliar na cirurgia teve uma atitude extremada: pegou alguns biscoitos e os esmagou em volta da cama do paciente que seria operado. Em seguida, procurou o cirurgião e deu a notícia:

- Doutor, não vai ser possível fazer a cirurgia hoje!
- Por que não?
- O paciente se alimentou.
- Quem deixou o paciente comer?
- Ah, não sei não, mas a cama dele está cheia de farelo de biscoito...

E a cirurgia foi remarcada para outro dia, sendo realizada por outro médico. Nesse caso, os "dedos" do paciente e o “anel” do residente de bom senso ficaram preservados.

sábado, 11 de novembro de 2017

"MORO ONDE NÃO MORA NINGUÉM"


PLANTÃO MÉDICO

No início da década de 1980, creio que em 1982, a empresa onde trabalhava estava passando por graves problemas financeiros, chegando a atrasar o pagamento dos salários dos funcionários por até quatro meses. Tive a sorte de arranjar um trabalho como autônomo, um bico, que me permitiu sobreviver a esse período. Graças a esse serviço, tive a oportunidade de conhecer um senhor já idoso e gente fina, pai de meu contratante.

Graças a meu comportamento amistoso e paciente eu sempre fui o rei dos velhinhos e das velhinhas, enganados pela falsa atenção que sempre dediquei a eles, ouvindo seus comentários, rindo de seus casos, elogiando aqui e ali, enfim: um autêntico puxa-saco da terceira idade. E eles me adoravam (hoje eu sou um deles).

Graças a esse comportamento, sempre que nos encontrávamos, ficávamos conversando um pouco, no estilo “o senhor fala e eu escuto”. Um dia esse senhor resolveu me contar sobre um acidente que sofreu, mas a descrição foi tão vívida e entusiasmada que eu literalmente chorei de rir. Mas chorei mesmo, ainda que pedisse desculpas por isso. A história é a seguinte:

Um dia, e apesar da idade, subiu em uma escada de madeira para trocar uma lâmpada queimada de uma luminária instalada na fachada de sua casa. A lâmpada fica a uns quatro ou cinco metros do chão. Encostou a escada na parede e começou a subir. Mas a escada era velha e a madeira ressecada. Ao chegar perto da lâmpada, o barulho de madeira rachando indicou que uma das pernas da escada estava quebrando. Pior, a parte ainda apoiada no chão exibia  um formato de estaca, pronta a perfurar alguma parte de seu corpo. Tudo isso, claro, percebido em frações de segundo. Não pensou duas vezes: já começando a cair, bateu as mãos na parede empurrando-se para longe a estaca, mas já em queda livre. Só teve tempo de girar o corpo e tentar proteger a cabeça, estendendo os braços para amortecer a queda. A queda de quatro ou cinco metros teve como resultado uma fratura exposta em um dos braços, com os pedaços do osso trespassando músculos e pele.

Foi levado imediatamente a um hospital ortopédico ou coisa parecida. Não sei o motivo, mas parece que a anestesia foi apenas local. E essa foi a parte em que eu quase mijei de tanto rir. Disse ele que primeiro começaram a puxar seu braço para colocar os pedaços de osso no lugar, no mesmo alinhamento. Aquilo já foi uma tortura pois, sei lá, doía pra burro ou era uma visão de filme de terror. Como fratura em idoso (descobri isso recentemente) não “cola” só na base do gesso, a solução é utilizar pinos metálicos para unir e fixar as partes.

O médico, de forma ríspida, pediu a furadeira. Creio que nem começou a funcionar, pois estava queimada. “Que merda, nada funciona aqui!!!”, disse o médico, irritado, deixando-a de lado. Pediu a pua manual (isso mesmo, pua). Não sei o que aconteceu, se não havia broca compatível ou se a existente estava gasta. Só sei que não resolveu. O médico, já putíssimo, atirou-a longe com um espumante “Puta que pariu!!!!!”.

- “Me dá a marreta aí!”, ordenou às enfermeiras. Posicionou o pino metálico no lugar devido e desceu porrada. Nessa altura da narrativa eu já não me aguentava mais de tanto rir, aquele riso nervoso e espasmódico de quem ouve a descrição de uma tragédia surreal. Foi aí que Seu Mário (creio que era esse seu nome) arrematou o caso, reproduzindo o diálogo com o médico:

- Doutor, o senhor tem certeza de que isso é humano?

- Ah, Seu Mário, aqui é o lugar onde os filhos choram e as mães não escutam!

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

QUER QUE MODELE?

É inacreditavelmente "real" o Trump de cera do Museu Madame Toussaud. Olhaí mais uma imagem.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

JAMBOS E ROSAS BRANCAS

Dona Vanda casou-se com o último solteiro dos sete irmãos de meu sogro. Talvez por isso mesmo, sempre tenha morado na casa original da família. Não parecia ter sido bonita na juventude e creio ter-se casado mais velha, pois seu marido esperou aposentar-se para casar, tendo morrido quando o segundo filho tinha apenas dois anos. Talvez por isso, condenada a criar sozinha o casal de filhos, tornou-se seca, sem vaidade.

Era uma pessoa que fazia  com que eu me lembrasse das irmãs de meu pai, pois, embora gentil e atenciosa, parecia ser muito sistemática (jogou fora todas as fotos que tinha do marido) e - posso estar enganado - avessa a efusões, festas e badalações. Não ia aos aniversários e casamentos da família - ou raramente ia. Mas essa pode ser apenas minha percepção, pois tive pouquíssimo contato com ela.

Lembrei-me dela ontem, quando nosso filho trouxe da casa da namorada uma vasilha cheia de jabuticabas. Na casa em que Dona Vanda morava existiam pés de jabuticaba, jambo, goiaba, maracujá doce e outras frutas que o progresso foi fazendo sumir dos quintais, ao transformar os antigos quintais em apartamentos ou áreas de lazer de prédios construídos no lugar.

Não faz muito tempo, talvez um ano ou dois, ligou para nossa casa e disse para que eu fosse lá pegar alguns jambos que tinha colhido, pois ficara sabendo que minha mulher adora jambo, uma fruta difícil de ser encontrada hoje em dia. Resmunguei um pouco, mas lá fui eu. Recebeu-me com sua alegria contida, perguntou por minha família, obrigou-me a tomar café com biscoitos, entregou-me uma sacola cheia de perfumadíssimos jambos, deu três mudas de maracujá doce, outra sacola com mini pepinos e disse para voltar para pegar mais coisas. Não fui.

Outro dia ficamos sabendo que Dona Vanda tinha morrido. Fomos ao seu enterro e à missa de sétimo dia. Ao final da missa, seus filhos Alexandre e Rita tiveram um gesto de extrema delicadeza ao entregar a cada um dos presentes uma mensagem e uma rosa branca. Na hora, lembrando-me da forma como fui tratado por ela, tive a sensação que aquela flor tinha tudo a ver com a tia de minha mulher.  Metaforicamente falando, ela não exibia a exuberância de uma rosa vermelha, mas tinha a delicadeza e a discrição de uma rosa branca. E era como o jambo, seca mas doce e de trato muito agradável.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

SÍNDROME DA CARTOMANTE

Imagino que todo mundo já teve uma vez na vida aquela sensação de déjà vu, aquela incômoda estranheza de já ter visto determinada cena ou situação antes, apesar dela estar acontecendo ali, naquela hora, naquele instante. Esse desconforto talvez devesse ser chamado de “Síndrome da Cartomante”. Já tive essas sensações várias vezes. Lembro-me que uma delas provocou um gigantesco desconforto, pois eu via o que iria acontecer algumas frações de segundo antes do fato real, como se estivesse assistindo a pré-estreia de um filme que seria exibido comercialmente dali a alguns segundos. Foi tão forte a sensação que resolvi “abortar” o futuro imediato que vislumbrava: fiz alguma coisa diferente do que “sabia” que aconteceria, mudei propositalmente meu comportamento, saí do lugar, sei lá.

Muito bem. Outra coisa que ocorre comigo é um tipo de coincidência ou pensamento premonitório quando surge a ideia de escrever sobre determinado assunto para postar no blog. Embora rara, é uma coincidência que já aconteceu pelo menos duas vezes desde a criação do Blogson. A primeira vez, se não me engano, ocorreu com meu amigo virtual Marreta. Eu estava ainda nos processos mentais iniciais sobre algum assunto, quando ele já chegou com um texto prontinho e bacanaço sobre o mesmo tema. Como nossos estilos são bem diferentes, imagino que tenha terminado minha gororoba e divulgado no blog. Mas, sinceramente, não consigo me lembrar qual assunto em comum era esse.

A outra coincidência ocorreu esta semana. Como minha inspiração está atravessando um período de deserto, verdadeiro Saara sem oásis, tive a ideia de começar a escrever textos como se fossem cartas endereçadas a alguém não identificado, falando do dia a dia, das ansiedades, raivas, medos, frustrações, hipocondrias (eu sou tão hipocondríaco que já falo logo no plural). Seria quase uma espécie de diário. E só não comecei por uma superstição antiga.

Quando os primeiros filhos eram ainda pequenos, diziam e faziam coisas que me deixavam boquiaberto e encantado. Por isso, resolvi registrar esses casos em um diário. Foi quando surgiu, espontaneamente e sem aviso prévio, a superstição de que se eu registrasse esses casos alguém muito próximo morreria. Resultado: nunca consegui chegar nem perto de um caderno de capa dura que iria utilizar para essa finalidade. Com isso, lembranças deliciosas e engraçadas perderam-se.

Bueno, estava nesse vai não vai quando li na VEJA uma reportagem sobre escritores que tiveram seus diários (e correspondências) publicados. Aí fiquei puto. Já não bastava não ter assunto? Já não bastava não ter conseguido vencer uma superstição jurássica? Precisava ainda dar a impressão de estar plagiando escritores consagrados ao registrar meus não-assuntos? Agora preciso encontrar outros temas (ou não-assuntos diferentes). Foda! 

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

VOADORA

Cada vez mais eu tenho menos paciência para falar de coisas sérias, de política, etc. O texto a seguir é resultado de um bate-boca amistoso que tive com um amigo petista ou coisa parecida. E tudo começou com um comentário que ele fez sobre o tema de uma reportagem que compartilhou no Facebook. Aí, não resisti à tentação de dar nele uma voadora (virtual, lógico). E saiu isso.

Depois de uma reportagem com os homens mais ricos do mundo (Bill Gates e companhia limitada), resolveram fazer uma com os brasileiros bilionários. Segundo a reportagem, a fortuna dos seis mais ricos é maior que a renda de cem milhões dos brasileiros mais pobres. Uma coisa com que ninguém parece se preocupar é COMO esses caras ficaram ricos. Vou dar uma dica: talento, talento, talento, dedicação, dedicação, dedicação, trabalho, trabalho, trabalho (pra caralho!).

Dando nomes aos boys: Beto Sicupira (Ambev), Um dos irmãos Marinho (Globo), Jorge Lehmann (Ambev) Joseph Safra (Banco Safra), Eduardo Saverin (Facebook) e Marcel Telles (Ambev). O Saverin foi um dos fundadores do Facebook, que começou como uma empresinha de merda. Os pais do Safra já tinham uma graninha quando chegaram ao Brasil, mas foi aqui que o Joseph cresceu. O Beto Sicupira era FUNCIONÁRIO de um banquinho cujo dono era o Lehmann. Idem o Marcel Telles. Esses dois caras ralaram pra burro (o pessoal da Ambev trabalhava até 16 horas por dia), tanto que viraram sócios. Ficaram ricos, bilionários, graças ao talento e tino para negócios.

O que isso tem com a ver com 100 milhões de pessoas? Nada. Lamento a situação de miséria dos 100 milhões, mas não posso deixar de elogiar o MÉRITO, a INTELIGÊNCIA e a DEDICAÇÃO de quem fez fortuna graças ao próprio trabalho. O Ricardo, da Ricardo Eletro, começou do zero, o Sílvio Santos começou do zero. Ganhar rios de dinheiro não é imoral se for merecido. O Neymar ganha rios de dinheiro enquanto a maioria dos jogadores uma merda. Culpa do Neymar? O nome disso é MÉRITO.

Não sou de esquerda (tá na cara), mas desprezo quem é da direita radical. Sou independente, de centro. E fã das pessoas que mereceram ter o dinheiro que têm. Sou também radicalmente contra a corrupção, o que não invalida nem conflita com minha admiração pelo talento e pelo mérito.

Como disse o poeta Ferreira Gullar, a Natureza não é justa (no sentido de que não dá mole aos menos capazes). Quer mais um exemplo sobre mérito? Eu passei no vestibular em 27º lugar, entre aproximadamente 3000 candidatos às 500 vagas do curso. Ao me formar, fiquei entre os últimos alunos, a escória. Vagabundei, não estudei, enrolei e deu nisso. Culpa de quem? Minha, óbvio.

Para ilustrar este raciocínio, preciso contar duas histórias com enredos aparentemente semelhantes, mas de resultados distintos: quando eu nasci, meu pai tinha quebrado e nós morávamos em um barracão nos fundos da casa de minha avó. O "nós" éramos eu, meu irmão e nossos pais, todos em um único quarto. Com exceção de quatro anos de ginásio em um colégio tipo boate, sempre estudei em escola pública (que não era esse lixo que existe hoje). Meu pai sempre dizia que a única coisa que podia nos deixar era estudo.

Alguém poderá pensar que o pouco que consegui foi graças à minha boa sorte. Talvez tenha tido um pouco, pois meu pai nunca nos obrigou a trabalhar enquanto estivéssemos estudando. Neste caso, sou obrigado a concordar que essa talvez não seja a realidade da maioria dos jovens. O único problema é que se nós não trabalhávamos para poder estudar, a única coisa que realmente fazíamos era coçar saco e vagabundar.

Mas existe uma história muito mais bonita: Um de nossos filhos resolveu estudar medicina, apesar de ter estudado a vida toda em escola pública (da ruim). Como esse era seu sonho e meta, fez quatro vestibulares para entrar na UFMG, estudou seis anos de curso normal e mais quatro de especialização. Daqui uns anos, se ele estiver rachando de ganhar dinheiro, alguém mal informado poderá até dizer que teve sorte. Eu direi que teve a sorte de perseverar e ralar muito e o mérito de ter conseguido isso apesar de todas as  dificuldades enfrentadas.
.
Uma coisa que os revoltados da esquerda de plantão se esquecem é que todo deputado, todo senador, todo tesoureiro de partido, todo ídolo e líder de massas teve (ou tem) o mérito de se destacar no meio da mediocridade dos simpatizantes desse ou aquele partido, dessa ou aquela ideologia, porque mérito é o que faz alguém sair da planície onde a maioria das pessoas vive, mesmo que o vitorioso seja um crápula.

Estou pouco me lixando para qual forma de governo deve prevalecer, qual a ideologia a adotar, que modelo de Estado deve ser escolhido.  Desde que um novo modelo não seja autoritário, desde que não seja contra a plena liberdade de expressão, desde que não compactue e aceite a corrupção como meio para atingir os fins que deseja, desde que gaste apenas o que tem e pode gastar, podemos DISCUTIR esse outro modelo. Para isso, não precisamos reinventar a roda, podemos ver o que dá certo no mundo OCIDENTAL e copiar ou adaptar o que deu certo e está funcionando em outros países. Sugeriria copiar ou adaptar o que tem sido feito no Canadá, Suécia, Austrália, Alemanha, etc. Mas será que os órfãos, os despeitados, os desalojados, os rancorosos de plantão concordam com isso?

domingo, 5 de novembro de 2017

OH, NÃO!

Este é um post na linha do recente “Pobre mas limpinho”. Na falta do que fazer, na ausência de novas ideias, em virtude do Saara mental dos últimos tempos, acabo sempre pensando em mexer na estrutura do Blogson, a fim de torná-lo mais palatável e atraente para um público que nunca existirá (alguém duvida disso?). Obviamente, isso acaba sendo apenas um onanismo mental, apenas mais um.

A última ideia de gênio é criar mais uma seção (pois é...), destinada exclusivamente aos posts cujo título começa com “comentando as...”. Ao migrar para a nova seção uma penca de textos e comentários de vida útil efêmera simplificaria o acesso às demais seções onde eles hoje se abrigam. Cheguei a pensar em três títulos, dois deles relacionados à vontade patológica de pagar mico propositalmente.  O mais sério seria “Efemeridades”, o segundo “Zefemeridades” e o terceiro (meu predileto pelo som mais legal - apesar de “tecnicamente” errado), “Zefemérides”. Mas aí me lembrei da finada seção “Vintage” e resolvi ressuscitá-la.

Afinal, se até o Blogson saiu da tumba, por que uma seção humildezinha não poderia fazer o mesmo? Por isso, a partir de agora, os posts com comentários serão encontrados exclusivamente na ressuscitada “Vintage”. E se encontrar algum outro com jeitão de efêmero, meto-lhe o pé na bunda e o despacho para lá.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

POBRE, MAS LIMPINHO

Para abrigar os mais de mil textos e imagens postados desde sua criação (contando com este, exatos 1.100), o Blogson chegou a ter quinze "seções". Dessas, uma foi extinta e removida e três estão definitivamente inativas. A que foi removida servia para republicar posts com baixíssima visualização (estamos falando do padrão Blogson, certo?). “Baixíssima”, no caso, seria algo até cinco visualizações. Por ser apenas picaretagem, foi removida. Hoje existem onze "ativas". Mesmo que esse "ativas" - graças à atual falta de assunto - lembre mais um vulcão dorminhoco (mas ainda "em atividade").

Imagino que além de mim, ninguém mais se interesse por este tipo de informação. Sinal que há gente normal "na linha". Tempos atrás, cheguei a comentar que estava pensando em criar um novo blog. Dizendo de forma mais clara, minha intenção era criar um blog 100% autoral, atemporal na medida do possível, com textos revisados ao nível molecular e desenhos talvez reproduzidos em mesa digitalizadora (se eu aprendesse a mexer com essa merda).

Sabe o que isso significaria para mim? Diversão, passatempo, vaidade e desejo de deixar uma "obra" (já viu que sempre estou de olho na posteridade, né?) mais bem acabada (porque, sinceramente, eu gosto da maioria das coisas que produzi!). Mas, acima de tudo, uma trabalheira do caralho.

Com essa ideia de jerico na cabeça, eu transformaria o velho Blogson em caderno de rascunho, oficina de carpintaria ou cozinha, enquanto o novo blog seria a edição final (sugestivo!), loja de móveis ou salão de restaurante. Só não mudariam as piadas sem graça, a falta de noção e o estilo tosco e coloquial. Ou seja, seria "mais do mesmo", mas de banho tomado.

Parece maluquice? Claro que parece, pois realmente era, mas eu não tenho mesmo mais nada para fazer nem a dizer. Cheguei até a pensar em algumas frases-tema: "O blog da presunção exacerbada", por exemplo. Outra, muito boa (infelizmente, de autor desconhecido), poderia refletir a qualidade "literária" dos posts: "Nós é pobre mas é limpinho".

Felizmente, desisti definitivamente dessa maluquice, pois seria um trabalho insano escolher, revisar e postar no novo blog as mais de mil tranqueiras que o Blogson armazena. Mas deixo esta ideia como sugestão para outros blogueiros.

O Marreta, por exemplo, poderia reunir apenas seus contos e poesias em um blog que tivesse o título "Contos e Poemas Libertinos", uma mistura dos "Contos Libertinos" do Marquês de Sade com os Poemas religiosos e alguns libertinos”, do Manuel Bandeira. Se gostou, deixo claro que fica desobrigado de me pagar royalties por título tão bem engendrado. Se não gostou, paciência.

CORRENTES

Este texto surgiu na minha mente e nem eu mesmo sei o que quis dizer com ele.

Curtas e grossas são as correntes.
Os elos, pesados e maciços como ferro
Não magoam punhos ou tornozelos
Mas a alma de quem não consegue afastar-se
de sua miserabilidade.

Quem ouve falar disso assusta-se com notícias de correntes
Horrorizam-se.
Em sua fria e contida civilidade
não percebem que também estão acorrentados.

Suas correntes são compridas, leves e flexíveis
as pulseiras e tornozeleiras têm variadas cores e modelos.
Também estão presos a seus temores, crenças e preconceitos.
Também estão acorrentados

Mas não percebem.

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4