quinta-feira, 9 de novembro de 2017

JAMBOS E ROSAS BRANCAS

Dona Vanda casou-se com o último solteiro dos sete irmãos de meu sogro. Talvez por isso mesmo, sempre tenha morado na casa original da família. Não parecia ter sido bonita na juventude e creio ter-se casado mais velha, pois seu marido esperou aposentar-se para casar, tendo morrido quando o segundo filho tinha apenas dois anos. Talvez por isso, condenada a criar sozinha o casal de filhos, tornou-se seca, sem vaidade.

Era uma pessoa que fazia  com que eu me lembrasse das irmãs de meu pai, pois, embora gentil e atenciosa, parecia ser muito sistemática (jogou fora todas as fotos que tinha do marido) e - posso estar enganado - avessa a efusões, festas e badalações. Não ia aos aniversários e casamentos da família - ou raramente ia. Mas essa pode ser apenas minha percepção, pois tive pouquíssimo contato com ela.

Lembrei-me dela ontem, quando nosso filho trouxe da casa da namorada uma vasilha cheia de jabuticabas. Na casa em que Dona Vanda morava existiam pés de jabuticaba, jambo, goiaba, maracujá doce e outras frutas que o progresso foi fazendo sumir dos quintais, ao transformar os antigos quintais em apartamentos ou áreas de lazer de prédios construídos no lugar.

Não faz muito tempo, talvez um ano ou dois, ligou para nossa casa e disse para que eu fosse lá pegar alguns jambos que tinha colhido, pois ficara sabendo que minha mulher adora jambo, uma fruta difícil de ser encontrada hoje em dia. Resmunguei um pouco, mas lá fui eu. Recebeu-me com sua alegria contida, perguntou por minha família, obrigou-me a tomar café com biscoitos, entregou-me uma sacola cheia de perfumadíssimos jambos, deu três mudas de maracujá doce, outra sacola com mini pepinos e disse para voltar para pegar mais coisas. Não fui.

Outro dia ficamos sabendo que Dona Vanda tinha morrido. Fomos ao seu enterro e à missa de sétimo dia. Ao final da missa, seus filhos Alexandre e Rita tiveram um gesto de extrema delicadeza ao entregar a cada um dos presentes uma mensagem e uma rosa branca. Na hora, lembrando-me da forma como fui tratado por ela, tive a sensação que aquela flor tinha tudo a ver com a tia de minha mulher.  Metaforicamente falando, ela não exibia a exuberância de uma rosa vermelha, mas tinha a delicadeza e a discrição de uma rosa branca. E era como o jambo, seca mas doce e de trato muito agradável.

12 comentários:

  1. Bom, já disse isso antes e o repito, a sua especialidade, seu ponto forte, são as memórias, os textos são muito bons mesmo.
    Só uma dúvida, uma vez que você é mineiro, assim como minha esposa : esse jambo de que fala é aquele de casca amarela e praticamente oco, sem polpa, ou aquele vermelho, também chamado de jambo-da-índia, que tem o formato aproximado de uma pera, é vermelho por fora, branco e carnudíssimo por dentro?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gente só eu que não conheço jambo amarelo? Só sabia do rosa e do vermelho.
      "J"

      Excluir
    2. sem problema, pois eu não conheço o vermelho (ou rosa).

      Excluir
    3. pois é, acho que em Minas não tem do vermelho. deu o que fazer pra eu convencer minha esposa de que aquilo é jambo; na verdade, acho que até hoje ela não se convenceu.

      Excluir
    4. Eu já nasci sabendo que Jambo oficial era vermelho, até porque tem aquela história de morena cor de jambo e tals e tals. Aqui tem muito, no verão as flores rosa chá chovem e fazem imensos tapetes nas ruas. O cheiro é tão doce quanto o sabor e atraí morcegos e pencas de moleques. Já o amarelo por aqui nunca nem ouvi dizer, me pareceu mesmo um tipo caju desses de fazer cachaça. O rosa,JB, é um outro tipo mesmo, é meio sem graça e pequeno.
      "J"

      Excluir
    5. Gosto muito da cultura mineira, tanto que me casei com uma, mas quando o assunto é jambo, desculpe-me, vocês estão por fora : jambo é o vermelho, é o carmim, é o encarnado, como bem disse a Jota, que acha o jambo-rosa, só por ser pequeno, meio sem graça.
      Aliás, falando em morena jambo, e prestando aqui minha solidariedade a William Waack, existem também as "morenas" jambolão, as morenas "jambuticabas". Pãaãããããta que o pariu!!!!

      Excluir
    6. "Jambuticaba" foi um trocadilho para Jotabê nenhum botar defeito! Mas é sério, para mim, esses outros tipos são que nem caviar: "nunca vi, não comi, só ouço falar".

      Excluir
    7. Aliás, percebi agora que JamBo e JaButicaba são as frutas mais JB que existem. Fui.

      Excluir
    8. Frutas JB...
      depois dessa, dou-me por vencido, rendo-me, de vez, à sua sabedoria.
      e fim de papo.

      Excluir
    9. Rapaz exatamente por ser casada com um mineiro que eu te digo que de Minas mesmo eu gosto é de queijo. #pas pra combinar com minhas sincera solidariedade ao William Waack.
      PS: Moreno é o nome do meu cachorro e pequeno ninguém merece mesmo.
      "J"

      Excluir

OURO DE TOLOS

  Algumas das minhas matérias-primas favoritas para publicar no Blogson sempre foram frases inteligentes ditas por personalidades famosas, i...