Às vezes eu penso que a internet é como uma arena
onde gladiadores de todo tipo se enfrentam. Algumas pessoas são tão agressivas que poderiam
ser comparadas às feras que degustavam os cristãos no Coliseu. E tome reprovações
de todo tipo a todo tipo de comportamento possível. “Ah, você é contra isso assim assim”? “Filho da puta!”, “Idiota!”, “Fascista!”,
“Comunista!”, “Bunda Mole!”, “Banguela!”, “Peidorreiro!” (o menu pode ser bastante
variado).
Mas creio que nada se compara ao embate entre
Esquerda e Direita. A coisa é tão intensa que às vezes eu penso que a qualquer
hora o tradicional fígado acebolado com jiló do Mercado Central será disputado
na palitada, palito a palito, garfada a garfada, tantas são as pessoas que
querem comer o fígado dos
simpatizantes da ”agremiação” adversária.
Uma coisa, entretanto, tem me incomodado
muito: aparentemente, tudo o que pode ser relacionado à Direita é “ilegal, imoral ou engorda”. Bom, é quase
isso. Querem um exemplo? Ouvi hoje no rádio que a expressão “mi mi mi” é “criação da direita racista”. Agora fodeu! Fiquei sem saber o que
pensar (a bem da verdade, tenho ficado muito sem saber o que pensar, mas acho
que é coisa da idade). Pelo jeito, um eleitor do Lula jamais poderá fazer um deboche usando essa expressão. Como sou um cara da conciliação e do entendimento, sugiro
que usem qualquer uma das seis outras notas musicais. Talvez dê certo.
Outro exemplo da má vontade com aqueles que
valorizam o esforço individual e o mérito é o comportamento politicamente correto. O Millôr Fernandes foi
brilhante (como sempre) quando disse isso em uma entrevista: "estamos nos aproximando perigosamente da
neo-ditadura americana - a mais estúpida da história, tendendo a ficar violenta
- a do politicamente correto. Mexe com tudo - cigarro, trepadas, segurança (o
cinto), as piadas, as etnias. O cidadão americano hoje se auto-policia tanto
quanto o cidadão soviético se policiava no stalinismo e o alemão no nazismo.
(...) Os débeis lá de cima - de um lado e de outro - não percebem que quando um
negro está sendo tratado com cuidado, é porque o outro o está colocando como
inferior, no respeito, e ele está se colocando como inferior, na exigência".
Quem disse isso foi o Millôr Fernandes!
Sem sacanagem, eu ODEIO essa expressão! Sempre
disse que só não sou 100% politicamente incorreto por desprezar todo tipo de
radicalismo (não se assustem, eu sou especialista em auto-citação sem pudor).
Além do mais, apesar de ser monoglota, acredito que essa expressão importada é mal traduzida. Em
português e em inglês existe a palavra drama (com
uma pronúncia parecida com "drêma").
Vira e mexe, em algum programa legendado, eu ouço e leio essa palavra, mas o
assunto tratado não se encaixa bem no meu conceito de "drama".
A mesma sensação eu tenho em relação ao
famigerado "politicamente
correto". Essa é uma expressão infeliz que me dá azia. Sei não,
mas tenho uma desconfiança que deve haver alguma sutileza na forma original,
não captada por quem a traduziu. Por mim, mudaria essa expressão para
"comportamento socialmente desejável".
Acabaria dando na mesma merda, mas seria mais inteligível. Mesmo que continuasse
tão detestável e castrador quanto a versão original.
Mas agora estou meio cabreiro, pois li que “o discurso politicamente incorreto é,
em oposição ao chamado politicamente correto, uma forma de expressão que
procura banalizar os preconceitos sociais sem receios de nenhuma ordem. Em
geral, confunde-se com opiniões de direita, mas pode ser também
expressão de simples preconceitos cotidianos”.
Pô, já nem se pode mais ser politicamente
incorreto em paz! Vacilou, já tem alguém te aplicando o carimbo de “Direita”,
já fica com o rótulo de “fascista”.
Falando em rótulo, os semideuses da internet, aqueles que se julgam donos da verdade absoluta usam tantos
rótulos diferentes que até lembram lojas especializadas em cervejas artesanais.
Mas voltemos ao tema principal. Lógico que
não posso ser politicamente correto, pois sendo de Direita já serei rotulado de
idiota, fascista e capaz das maiores vilanias, tais como derrubar o sorvete de
uma criança ou desenhar bigode no retrato da Gleise.
OK, admito que sou de Direita, mas uma
Direita light, sem glúten e sem adição de açúcar. Centro-direita, entendeu? Por
isso, como sou um sujeito da paz, não quero que me confundam com um
bolsonarista juramentado (quase ia escrevendo “jumentado”, mas percebi a
tempo).
Sendo essa minha intenção, resolvi aderir às
praticas corretas. Por isso, resolvi propor novos parâmetros para o que o Washington
Olivetto definiu como “politicamente
saudável” (o cara é muito bom). Poderíamos começar estabelecendo um
protocolo para “práticas sexualmente
corretas”. O documento (tamanho médio, normal) estabeleceria que todas são corretas - até mesmo a abstinência, que é a tara
sexual mais esquisita, segundo o Millôr.
Outra opção seria o comportamento soporiferamente correto. O contrário disso seria a
situação em que o sujeito adormece no ônibus e começa a roncar alto, a babar
pelo canto da boca ou, no extremo, a usar o ombro do vizinho como travesseiro.
Isso, logicamente, seria intolerável.
Mais um exemplo civilizatório a ser observado: comportamento flatulentamente correto. O
cidadão que preza esse valor evitará ao máximo peidar em público, especialmente
se for dado a sons de corneta. Em elevadores, ambientes fechados e ônibus cheios
em dias chuvosos, então, nem pensar! Jamais poderá aliviar-se se houver o menor
risco de exalar odor de gambá molhado ou em estado adiantado de putrefação. Nada
denuncia mais um sujeito flatulentamente
incorreto que a expressão de cachorro-que-peidou-na-igreja
estampada (ou “estampida”) em seu
rosto.
E por aí vai. Falando um pouco mais sério, eu gostaria que
a classe política brasileira adotasse comportamentos politicamente corretos,
mas aí já é querer demais, não é mesmo? Talvez algum de meus "amigos de Facebook" se
espante com minha falta de modos. Paciência. Como já disse em outra ocasião, o politicamente incorreto e o escrachado
andam sempre de mãos dadas na minha mente. Mas os dois são heterossexuais.
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