terça-feira, 7 de novembro de 2017

SÍNDROME DA CARTOMANTE

Imagino que todo mundo já teve uma vez na vida aquela sensação de déjà vu, aquela incômoda estranheza de já ter visto determinada cena ou situação antes, apesar dela estar acontecendo ali, naquela hora, naquele instante. Esse desconforto talvez devesse ser chamado de “Síndrome da Cartomante”. Já tive essas sensações várias vezes. Lembro-me que uma delas provocou um gigantesco desconforto, pois eu via o que iria acontecer algumas frações de segundo antes do fato real, como se estivesse assistindo a pré-estreia de um filme que seria exibido comercialmente dali a alguns segundos. Foi tão forte a sensação que resolvi “abortar” o futuro imediato que vislumbrava: fiz alguma coisa diferente do que “sabia” que aconteceria, mudei propositalmente meu comportamento, saí do lugar, sei lá.

Muito bem. Outra coisa que ocorre comigo é um tipo de coincidência ou pensamento premonitório quando surge a ideia de escrever sobre determinado assunto para postar no blog. Embora rara, é uma coincidência que já aconteceu pelo menos duas vezes desde a criação do Blogson. A primeira vez, se não me engano, ocorreu com meu amigo virtual Marreta. Eu estava ainda nos processos mentais iniciais sobre algum assunto, quando ele já chegou com um texto prontinho e bacanaço sobre o mesmo tema. Como nossos estilos são bem diferentes, imagino que tenha terminado minha gororoba e divulgado no blog. Mas, sinceramente, não consigo me lembrar qual assunto em comum era esse.

A outra coincidência ocorreu esta semana. Como minha inspiração está atravessando um período de deserto, verdadeiro Saara sem oásis, tive a ideia de começar a escrever textos como se fossem cartas endereçadas a alguém não identificado, falando do dia a dia, das ansiedades, raivas, medos, frustrações, hipocondrias (eu sou tão hipocondríaco que já falo logo no plural). Seria quase uma espécie de diário. E só não comecei por uma superstição antiga.

Quando os primeiros filhos eram ainda pequenos, diziam e faziam coisas que me deixavam boquiaberto e encantado. Por isso, resolvi registrar esses casos em um diário. Foi quando surgiu, espontaneamente e sem aviso prévio, a superstição de que se eu registrasse esses casos alguém muito próximo morreria. Resultado: nunca consegui chegar nem perto de um caderno de capa dura que iria utilizar para essa finalidade. Com isso, lembranças deliciosas e engraçadas perderam-se.

Bueno, estava nesse vai não vai quando li na VEJA uma reportagem sobre escritores que tiveram seus diários (e correspondências) publicados. Aí fiquei puto. Já não bastava não ter assunto? Já não bastava não ter conseguido vencer uma superstição jurássica? Precisava ainda dar a impressão de estar plagiando escritores consagrados ao registrar meus não-assuntos? Agora preciso encontrar outros temas (ou não-assuntos diferentes). Foda! 

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