Quando eu era criança, minha mãe, ao ver um
menino fazendo birra, dizia que o birrento estava “precisando de couro”. O curioso nessa história é que ela nunca nos
bateu. Quando passávamos muito dos limites, um tapa no braço ou um beliscão
resolviam o assunto. Hoje em dia os pais não podem corrigir os filhos pelo método Braille (usando a mão), mas
algumas pessoas demonstram que deveriam ter sido exempladas na infância, para
aprender a ter vergonha na cara.
Pertence a esse grupo (ou "bando" ou "quadrilha")
a maioria dos parlamentares brasileiros. Aparentemente, nunca receberam
educação nem um corretivo adequado de seus pais; usando as palavras de minha mãe, sempre precisaram “de couro”.
Cresceram, foram eleitos e deu nisso que vemos atualmente. Porque hoje em dia,
o artigo mais em falta no Congresso é decoro
parlamentar (entenderam agora onde eu queria chegar?).
Mas não foi sempre assim. Em 1949 cassaram um
deputado por quebra de decoro parlamentar. O motivo da cassação – dá até pena
do coitado – foi ter sido fotografado fazendo pose, vestido de fraque e cueca
samba-canção (gigantesca). Deveria ter sido cassado pelo ridículo da
indumentária, nunca pela falta de decoro. Mas foi cassado, talvez porque os parlamentares da época possuíam um mínimo de vergonha na cara, prezavam
e respeitavam o tal decoro parlamentar.
O tempo passou, a decência dos homens
públicos caiu de moda e descobriu-se outra serventia para a cueca, depois de um
assessor “paralamentar” de um
deputado petista (só tem honesto no PT!) ser preso com US$100 mil dentro de sua “underwear”.
Pensem bem, cem mil dólares equivalem a 325.000 paus em moeda brasileira. Creio que ninguém nunca imaginou que caberia tanto pau dentro de uma mesma cueca!
E agora, para arregaçar de
vez a moral pública (entidade abstrata tão improvável quanto a existência de
fadas e duendes), temos um deputado presidiário. O velho e bom Celso Jacob, do PMDB-RJ,
mesmo condenado definitivamente pelo STF (a suprema instância) a cumprir pena
de sete anos por crime
de falsificação de documento público e dispensa de licitação, continua
deputado, continua a exercer o seu mandato em Brasília, continua a receber
auxílio-moradia, mesmo tendo que dormir na Papuda.
Segundo a revista VEJA, o "inocente" dorme em uma cela de 12 metros quadrados (pequena!) na ala dos “vulneráveis”. Mas, como pode alguém com “direito a foro privilegiado” ficar na
ala dos “vulneráveis”? Mais
invulnerável que ele só mesmo o Aécio e o Temer!
A reportagem informa ainda que toma banho (quente) no Congresso (na Papuda é banho frio), toma café e almoça do bom e do melhor no restaurante do Congresso e fica no celular o tempo todo (na Papuda não pode). Filé! E Suas Excelências não cassam o “desinfeliz”! Por isso, ao sair do presídio-dormitório para “trabalhar” e lembrar que foi condenado mas não foi cassado, poderá sorrir com ironia e dizer algo assim: “-Tomou, Papuda?”
A reportagem informa ainda que toma banho (quente) no Congresso (na Papuda é banho frio), toma café e almoça do bom e do melhor no restaurante do Congresso e fica no celular o tempo todo (na Papuda não pode). Filé! E Suas Excelências não cassam o “desinfeliz”! Por isso, ao sair do presídio-dormitório para “trabalhar” e lembrar que foi condenado mas não foi cassado, poderá sorrir com ironia e dizer algo assim: “-Tomou, Papuda?”
Em 02 de novembro o site UOL também publicou uma reportagem sobre
as “dificuldades” desse deputado. O que mais chamou minha atenção foram estas informações
(o grifo é meu):
Mais de cinco meses depois da condenação, já transitada em
julgado, a Mesa Diretora da Câmara e partidos com representação na Casa ignoram
a decisão do STF. Embora a Constituição preveja que o peemedebista deve perder
o mandato por ter sido condenado, a direção da Casa e os partidos, inclusive
os da oposição, não apresentaram até agora no Conselho de Ética pedido de
cassação do parlamentar.
O artigo 55 da Constituição estabelece que perde o mandato
o deputado ou senador que "sofrer condenação criminal em sentença
transitada em julgado". A perda, porém, não é automática após a
condenação.
Para que o processo de cassação seja aberto, a Mesa Diretora
da Câmara ou algum partido com representante no Congresso deve apresentar o
pedido. A palavra final é do plenário, por maioria absoluta da Casa --257 deputados, no caso.
Antigamente, ser fotografado de cuecas era inadmissível, não podia, mas, hoje em dia, fraudar licitação é considerado normal (ou norma)? Como diria a finada Hebe Camargo cerrando os
dentes: “- Gracinha!”
A esculhambação, o corporativismo e a falta de vergonha na
cara atingiram níveis tão altos no aquário onde vivem Suas Excelências que o
cumprimento da lei magna tornou-se irrelevante para eles. Se fossem ainda crianças estariam
precisando de couro. A falta de bom senso, decência e decoro dos nobres parlamentares
faz com que mereçam uma boa surra, mesmo que seja só nas urnas. Aliás, essa é a única
resposta que merecem receber da população.
voltou ao modelo antigo?
ResponderExcluirgosto mais desse, do clássico, mas já tinha me habituado ao outro, também.
também gosto mais desse. Sei lá, me parece mais didático, ideal para uns leitores que pretendo atingir (parentes, gente mais idosa, etc.)
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