segunda-feira, 31 de julho de 2017

INGENTE NECESSIDADE

Creio que a característica principal dos textos do Blogson é o fato de eu ter necessidade quase patológica de explicar, de me explicar. Lembrando a piada, se ouvir de alguém a pergunta “Como vai?”, eu explico. Se vacilar, já nas primeiras linhas do que escrevo já dou um spoiler do que pretendo dizer (aprendi esta palavra recentemente).

Pronto!, sem perceber, já expliquei o uso da palavra “spoiler”, que nem sei se usei corretamente. E este é o tema de hoje. O mau uso que faço das palavras e regras da língua portuguesa. Talvez seja uma deficiência antiga, existente desde sempre, só agora percebida com mais nitidez. E esta é a percepção: estou escrevendo mal, cada vez pior. Sabia que tinha algumas deficiências nunca sanadas, mas agora isso ficou muito claro para mim.

Sempre me sinto acuado (com o cu na parede), intimidado quando leio palavras e expressões sofisticadas, cultas, "difíceis", utilizadas por alguns conhecidos (ainda bem que são poucos!). Me pego pensando onde o sacana aprendeu aquilo, como pode ter vocabulário tão rico, que livros leu e o que estudou para ter uma linguagem tão refinada. Refletindo sobre isso (em frente ao espelho), cheguei à conclusão que sou mesmo um caipira, um bronco, um ignorante, e que isso não é piada. 

Sempre fiquei encabulado com o domínio que algumas pessoas têm de palavras sofisticadas e de significado ignorado para mim. Quando isso acontece, voo (ou vou) ao dicionário para tentar entender o que foi dito. Alguns exemplos: "ingente necessidade material", "tautológico", "serôdio". Como pode alguém pode usar palavras tão..., tão cultas assim?

Pior, tenho notado que estou cada vez mais com dificuldade de escrever de forma correta, pois o que antes eu via como “uso de linguagem coloquial”, hoje enxergo como prova de ignorância – que parece estar crescendo, ampliando (ou o correto seria dizer “se ampliando”?). Sinceramente, estou cada vez mais confuso com a formulação correta de expressões que uso mais frequentemente (ou “de uso mais amiúde”. Estaria certo isso?).

Parece que estou brincando (ou “pareço estar brincando”?), mas tenho tido dúvidas constrangedoras sobre  (a respeito) a grafia de palavras e construções do tipo "deixei-me ficar" (ou seria "me deixei ficar"?). O pior de tudo isso é que não se trata de piada, é sofrimento real. Tão real, que sempre escrevo em Word, clicando em seguida na opção "Revisão" do aplicativo. Na maioria das vezes em que aparece aquele sublinhado verde, acato obedientemente a sugestão. Mas, quando discordo da revisão, até crio nova frase, só para não correr o risco de passar (ou me passar?) por idiota.

Resumindo, o "arroz com feijão" que eu imaginava ser "biscoito fino" está cada dia pior, mais sem tempero. Como ensinou (transcreveu) Mário de Andrade, "quando urubu está de azar, o de baixo caga no de cima". Por isso, este texto tão explicadinho não poderia terminar sem que eu mencionasse a atual falta de assunto e de inspiração. Pedindo licença a meu amigo virtual Marreta, a "paumolescência" criativa está tão forte que não há viagra cerebral que dê jeito (alguns maledicentes podem completar dizendo que não é só no cérebro que isto está acontecendo, mas responderei a essa provocação como os advogados: há controvérsias, entende?).

Bom, se você quer saber como termina este drama waldiquesoriano (que foi? Cada um tem o drama shakespeariano que merece!), só lendo a segunda parte, que ainda não está pronta.


3 comentários:

  1. Esperando a parte II
    "J"

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    1. Você se surpreenderá com a parte III (não significa que ficará maravilhada).

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  2. próclise, ênclise, pontuação, regência verbal, plural do infinitivo etc etc etc... Também me mordo e remordo com tais dúvidas. Muitas vezes também reescrevo frases das quais tenho certeza da construção, abrindo mão de outras que seriam, talvez, mais elegantes. Parece até uma velha piada sobre o eterno Vicente Mateus. Diz que Vicente Mateus mandou que sua secretária preenchesse um cheque no valor de 60 mil cruzeiros, cruzados, sei lá. A secretária, tão iletrada quanto ele, perguntou : mas seo Mateus 60 é com um "s" ou com dois "esses". No que Mateus pensou um pouco e desfez o nó górdio : faz logo dois de trinta.

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MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4