segunda-feira, 10 de julho de 2017

ANÁLISE LITERÁRIA

Quando cursava o segundo grau, tive algumas aulas sobre análise literária. Se não me engano, essas aulas focaram o poema “Ismália”, de Alphonsus de Guimaraens. E foram tantos os sentidos ocultos, tantas as elucubrações feitas pela professora, que fiquei com a sensação de que essa “análise” era uma coisa meio fantasiosa, algo como a tentativa de “encontrar cabelo em ovo”.

Lembrei-me disso ao buscar na internet subsídios para comentar a letra da música “Vai Passar”, do Chico Buarque. Já adianto que a intenção não é fazer a análise literária desse fabuloso samba. O que me interessava era ler comentários sobre sua origem e sua associação com o fim do regime militar, mas encontrei tantas “análises” diferentes, tantos significados e associações ocultas, que encheriam de orgulho e surpresa o próprio autor. Talvez até pensasse algo como “Ué, eu nem imaginava ser tão foda assim!

Pois bem, deixei as várias fábulações para lá e resolvi me concentrar apenas nos versos que invadiram minha mente outro dia. Sem muita frescura e sem nenhuma análise literária maluca, são estes os versos que têm feito cócegas no meu cérebro:

“Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações”.

Coitado do Chico, nunca imaginou que seria tão presciente assim! Nunca imaginou que os versos escritos para celebrar o fim da ditadura militar serviriam tão bem para definir a "página infeliz da nossa história" que foram os anos Lula e Dilma. 

Mesmo que o Chico Buarque seja petista, mesmo que apoie (ou não) a ditadura cubana, mesmo que seja de esquerda (e eu estou pouco me lixando para isso, pois é direito dele ser ou acreditar no que quiser), não deixa de ser divertido usar esses mesmos versos para comentar os mensalões e os petrolõesAcho que ele devia estudar análise literária.

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