quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

PRÊMIO NOBEL

Tudo começou por termos ido a um aniversário em um reduto petista, ou melhor, de eleitores da Dilma. Papo vai, papo vem, a certa altura, sem que eu me desse conta, estava envolvido em uma conversa sobre a qualidade do ensino praticado hoje em escolas públicas. Entre outras coisas, comentei que, tempos atrás, tive a sensação de que meus filhos estavam aprisionados pela escola (pública) em que estudavam, pois percebi que a perspectiva de vê-los passar no vestibular era muito pequena, tão baixa era a qualidade da educação por eles recebida. Esse colégio era literalmente (ou quase isso) uma zona! E eu não tinha dinheiro pra colocá-los em escola particular.

Contei também de meu diálogo com o diretor a respeito do “ensino plural”, maluquice ali adotada, que não reprovava ninguém. Esse diretor ficou sorrindo meio constrangido quando lhe disse que o colégio que dirigia estava em total sintonia com as conquistas proporcionadas pela evolução da informática e que era um exemplo de aplicação da realidade virtual. E antes que ele me perguntasse por que, expliquei que em seu colégio estava implantado o ensino virtual, pois os professores fingiam que ensinavam, os alunos fingiam que aprendiam e os pais fingiam que acreditavam nessa merda.

Contei de minha infância mega pobre e de como tinha conseguido o que temos hoje (que não é muito) graças a um ensino de alta qualidade que existiu em algumas escolas públicas, estando a minha nesse grupo. Comentei sobre a necessidade de meter a cara nos estudos para conseguir ter alguma coisa na vida.

Estava nessa “doutrinação” do bem, quando um adolescente que escutava nossa conversa, comentou que seu professor de filosofia teria colocado a seguinte questão para a classe: o que é mais importante, ter ou ser? Não vou reproduzir o que pensei que diria a esse professor se o encontrasse, porque este é um blog que se dá ao respeito. Mas fiquei surpreso, pois não sabia que hoje se ensina filosofia no segundo grau!

Aqui cabe uma pergunta: e matemática, português, biologia, história ainda são matérias da grade de ensino?  A propósito disso, perguntei uma vez a meu filho mais novo (que fez o primeiro e segundo graus só em escola pública) se ele tinha estudado limite e derivada no colégio. A resposta foi que nunca ouviu falar disso.

Pois bem, no dia seguinte a essa conversa desanimadora, comecei a pensar o que leva um país como este nosso a nunca ter ganho um prêmio Nobel em todo o período de existência dessa premiação. E aí mergulhei no site www.nobelprize.org para ver se achava alguma pista.

Descobri, por exemplo, que entre 1901 e 2014 os prêmios Nobel e de Ciências Econômicas foram concedidos 567 vezes para 889 pessoas e organizações. A curiosidade é que o prêmio de Economia, criado em 1968, não é considerado um Nobel legítimo, pois não faz parte da lista de premiações imaginadas por Alfred Nobel.

Para um portador de TOC como eu, as listas dos ganhadores são um verdadeiro filé. É claro que não vou transcrevê-las, mas essas informações me deixaram matutando. E como sou o rei da teoria “miojo” (aquela que fica pronta em três minutos...), resolvi registrar esses pensamentos, verdadeiros papo cabeça. Vamos lá.

É óbvio que ninguém ganha o Nobel sem merecê-lo, mas eu dividiria essa premiação em três tipos que, à falta de palavras mais adequadas, chamarei de prêmios “Solitário”, “Solidário” e “Coletivo”.

Vamos começar pelo Nobel de Literatura. Em 114 anos de premiação, só em quatro deles o prêmio foi dividido entre dois autores. Curiosamente, em sete anos não houve premiação. Quatro desses anos, sintomaticamente, correspondem à pauleira da Segunda Guerra.

Outra curiosidade é que dos 111 laureados, 77 são de países da Europa (só a França tem onze). Isso me parece coerente com a cultura humanista que imagino ser valorizada naquele continente.

Para ganhar esse prêmio, o autor depende única e exclusivamente de sua  criatividade e inspiração. Por isso eu o imaginei como prêmio solitário, pois não há relação direta entre ele e o estágio de desenvolvimento do país  escolhido. Se não fosse assim, não haveria autores de Madagascar ou da Ilha de Guadalupe, por exemplo. O que entristece é saber que dos quatro premiados na América do Sul, nenhum é do Brasil.

O que chamei de prêmio “solidário” é, lógico, o da Paz. Certamente esse prêmio está muito relacionado à questão dos conflitos armados em áreas conflagradas por rebeliões, guerras e congêneres ou ao devotamento de alguns a causas humanitárias. Já foram concedidas 103 premiações. Pelo menos dezessete delas foram dadas a líderes políticos (Obama, Mandela, Arafat, etc.).

Os prêmios Nobel que eu chamei de “Coletivos” são os restantes: Física, Química, Medicina e o prêmio de Ciências Econômicas. Agora é que vem a viagem na maionese: todos os ganhadores são top de linha quando se avalia o mérito de cada um, pois só há expoente em suas categorias, só feras. Então, porque essa bobagem de Coletivo?

Porque, para mim, os cientistas e pesquisadores que são contemplados precisam de um ambiente que favoreça e seja receptivo às pesquisas que realizam. Não basta apenas ser mega inteligente, pois recursos financeiros, instalações adequadas, equipamentos de ponta são fundamentais. E, acima de tudo, mesmo que não mensurável, também uma sociedade que valoriza o conhecimento, o mérito e o ensino de alta qualidade.

Resumindo: a menos que um gênio nascido aqui trabalhe e pesquise em um dos centros de excelência tecnológica existentes na Europa ou nos EUA, essa premiação continuará a ser por um bom tempo muita areia para o caminhãozinho brasileiro.

Então, voltando ao tal professor de filosofia, se ele quisesse um Nobel, só poderia tentar o da Paz ou o de Literatura. Porque o que faz o mundo avançar (para o bem e para o mal) é o conhecimento técnico de ponta e sua aplicação posterior ao dia a dia. Filósofos, sociólogos e outros profissionais da área de humanas podem explicar e interpretar o impacto das novas conquistas tecnológicas, mas nunca contribuirão diretamente para aumentar a produção de alimentos, por exemplo.

Para finalizar, mais alguns tira-gostos (ou curiosidades):
- Em 1972, Dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, chegou a ser indicado para o Nobel da Paz, mas, por considerá-lo comunista, o governo Medici fez campanha na Europa para que essa indicação não vingasse.

- Os Estados Unidos são o país que tem o maior número de premiados – 256 prêmios Nobel. Desses, 89% são pesquisadores. O segundo colocado é a Alemanha.

- Nasceu no Brasil um dos dois cientistas que ganharam o premio de Medicina em 1960. Infelizmente, para nós,  nasceu, pois é inglês da gema (Ainda não foi desta vez!).

10 comentários:

  1. Pois é, seo Zé. Não sei se sabe, mas eu sou professor de biologia da rede pública, e você foi gentil ao caracterizar uma escola pública por zona. Julgando que a zona por si referida seja a do baixo meretrício, digo-lhe que a escola hoje é muito pior que a zona. No zonão, ao menos, existem regras, tem quem manda, há uma hierarquia que é respeitada.
    Reitero suas palavras, ensino plural é o cacete! E esse pessoal das "humanas" só servem para encher linguiça na grade curricular, a maioria são marxistas escrotos que de Marx só leram os resumos da internet, são freudianos mamadores de charuto, comedores de bosta e tarados pelas mães.
    Sim, são as exatas que carregam o mundo, para o bem ou para o mal. Esse professor de filosofia deveria ser pego, quando estivesse, por exemplo, com uma infecção bacteriana fudida, e posto a discutir com as colônias de bactérias, posto a perguntar-lhes se o mais importante é ter ou ser. Porra nenhuma, né? O sujeito vai correndo é tomar um antibiótico, produto de químicos e farmacêuticos.
    Conheço bem essa lenga-lenga "peidagógica O tal do Coletivo que se foda! Porque na hora da vida real, é cada um por si, é um pega pra capar. E tenho cada vez mais nojo dela!
    Parabéns pelo belo texto! Posso publicá-lo no Marreta, com os devidos créditos?
    abraço.

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    1. Começando pelo final: fique à vontade, com ou sem créditos. Segundo: acho estranho que professores (mestres?) sintam repulsa por um ensino de qualidade e meritocrático (palavra da moda). Imagino que todos sejam eleitores do PT e assemelhados. Terceiro: imaginava que você seria professor de física ou química (pela menção ao cálculo). Ciências biológicas também fazem o mundo avançar, pois estão fundamentadas em pesquisa e conhecimento prático, não em "romantismo".

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    2. Sou ruim para responder rapidinho. Meu cérebro demora a esquentar. Não quis ofender o pessoal de ciências humanas nao falar em "romantismo". O fato inconteste é que avanços tecnológicos não são promovidos por cientistas sociais. Esse pessoal pode (e deve) criticar, analisar, comentar, etc., mas um novo medicamento, a cura de uma doença letal, a pisada do homem na lua foram e são alcançados com tecnologia. Quanto à questão do "Coletivo" no texto original, eu quis dizer que, hoje em dia, conquistas tecnológicas são obtidas e alcançadas com uso de equipamentos e tecnologia de ponta, necessitam de recursos financeiros adequados, de laboratórios e demais instalações muito bem aparelhados. Ironizando, ninguém estuda as partículas subatômicas ou a cura do ebola e da aids usando computador movido a carvão. Daí a percepção de ser necessário um ambiente favorável e que valorize pesquisas de ponta. Para isso, não pode existir um bando de manés defendendo "escola plural" ou coisa assemelhada. A Veja desta semana traz um artigo excelente do Gustavo Iochpe, em que ele comenta sobre a excelência do ensino na China (um país comunista, petistas!). Lá o mérito e a cobrança comem soltos. Sem isso, não há Nobel, só "Ignóbel" (post de amanhã).

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  2. Zé, acabo de publicar seu texto lá no blog, com os devidos créditos e considerações, espero que goste. E quanto ao pessoal das "humanas", pode ofender à vontade, eles merecem.
    Em tempo : sou formado em Biologia, mas, antes disso, cursei algum tempo do curso de Química, o qual não concluí por diversos fatores, entre eles, o fato de ser um curso de período integral e eu precisar trabalhar.
    abraço.

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  3. Marretão,
    Fiquei sinceramente envaidecido e agradecido pelos comentários (apesar da tal "marreta de pelica"). O agradecimento completo foi deixado no Marreta. Apenas cabe um comentário: Talvez eu seja mesmo um misantropo (até outro dia eu nem sabia o significado disso!), pois me enquadro em alguns aspectos da definição que coloquei outro dia no blog. Por outro lado, não deixo de ser um exibicionista intelectual, pois, se escrevo, espero que as pessoas leiam (o que é difícil) – e gostem (o que é mais difícil ainda). Deve ser porquê sou geminiano (sinônimo astrológico de bipolar).Valeu!

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  4. Caro Blogson, seriam a ética e a moral uma equação de matemática?

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    1. Meu caro Renato,
      Antes de mais nada, obrigado pela cutucada cerebral. Essa é uma boa pegadinha. Para mim, não fazem parte de uma equação matemática no sentido literal do termo, mas são indissociáveis de uma equação muito maior, aquela onde o resultado esperado é o bem de uma sociedade. A Ética e a Moral (assim mesmo, com letra maiúscula) são, para mim, criações do cérebro humano, indiscutivelmente necessárias para a caminhada evolutiva que nos transformou nos animais singulares que somos hoje. Foram e são balizadores para uma vida em comunidade (ainda que tenham mudado com o tempo). Creio que é por aí, embora seja presunção minha divagar sobre um assunto para o qual não tenho educação formal nem inteligência analítica para te oferecer uma resposta mais decente.
      Pressinto que você tem formação na área de Ciências Humanas, pelas quais tenho o maior respeito e admiração. Quando fiz o comentário de que “Filósofos, sociólogos e outros profissionais da área de humanas podem explicar e interpretar o impacto das novas conquistas tecnológicas, mas nunca contribuirão diretamente para aumentar a produção de alimentos” eu não estava desmerecendo ninguém dessa área. Para mim, a coisa funciona como em um rally: há um piloto e um navegador. Não são iguais, não tem funções iguais mas se complementam. Nenhum é mais importante que o outro quando o assunto é a conquista da melhor qualificação.
      Mas em se tratando de inovações tecnológicas e médicas que o Nobel premia, até onde sei, os laureados são físicos, químicos, biólogos, médicos, etc. Desconheço se filósofos, antropólogos e assemelhados já foram premiados nessas especialidades. O que não quer dizer que sejam menos importantes e menos necessários para tornar essa coisa incompreensível chamada Vida uma experiência única e fascinante.

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  5. Caro Cruzoe, obrigado pela resposta. Independentemente da divergência, a troca de ideias, em alto nível, é sempre proveitosa. Gostei do seu texto, mas dele discordo em alguns aspectos. Primeiro, porque não é o aprofundamento, em nível médio, nas matérias tradicionais da grade (física, química, biologia, etc.) que vai trazer desenvolvimento científico aos países. Tive a oportunidade de cursar o 3º ano nos Estados Unidos (‘grandes’ bosta!), dono de mais de 300 nobels, e guess what?, não tive aulas de química, biologia e a matemática (em pleno sênior year) era a mesma que aqui tinha estudado na 7ª série. Por outro lado, tive aulas de teatro, direção defensiva, cidadania americana, desenho, economia e educação física. Na terra dos seus paradigmas, a preocupação é mais focada na formação pessoal da molecada, que te asseguro também não sabe o que é “limite” ou “derivada”. O ensino científico aprofundado é reservado para a universidade, onde há imenso estímulo, da iniciativa pública e privada, para pesquisa. Por isso, uma aula de filosofia para um aluno de 2º grau, talvez não seja algo tão absurdo assim.
    Falando em filósofo, realmente nenhum ganhou o Nobel de Medicina ou de Física. Estranho seria isso. Também desconheço um biólogo que tenha ganhado a medalha Fields. Mas vale depois conferir as contribuições de Aristóteles para a matemática e biologia, a Teoria Nebular de Kant, etc. Essa turma é da pesada, meu caro. Se há um bando de marxista que desvirtua a coisa, nem por isso devemos baixar a guarda.
    E, principalmente, diferenciar o criador da criação. Afinal, Einstein não se declarou socialista?

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    1. Renato,
      Sinto-me totalmente incapacitado de responder no tal "alto nível" a que se referiu. Sou um matuto, um caipira. Mas, voltando ao ensino de filosofia no curso médio, não o condenei (pelo contrário, achei bacanérrimo, embora não tenha dito isso). O que aconteceu foi de ficar surpreso, pois isso é novidade para mim (o que não quer dizer nada, pois meu filho mais novo tem 27 anos). No antigo ginásio (não sei como se diz hoje), tive aulas de francês e inglês. Antes de mim, meu irmão teve aulas de espanhol e latim (coisa que me matou de inveja). Nada contra uma grade curricular diferente da utilizada quando (não) estudei. O que me incomoda é o nivelamento por baixo do conteúdo oferecido. Isso aprisiona, condena qualquer aluno à mediocridade. Outra coisa: não sei dizer a partir de quando isso aconteceu, mas sei que antes, sei lá quando, não havia separação entre a Filosofia e o que se chamaria hoje de Ciência(s). Imagino que essa separação foi acontecendo gradualmente, mais ou menos como hoje acontece na Medicina. Quanto mais conhecimento adquirido, quanto mais descobertas e técnicas criadas, mais necessário foi o surgimento de especialistas. Só para exemplificar, descobrimos uma oftalmologista excelente, gentilíssima, daquelas pessoas que nos fazem acreditar que a raça humana, afinal, pode ter solução. Pois bem, ela é especialista em exames de fundo de olho ou coisa parecida. Imagino que é essa partição do conhecimento que está na origem da separação das diversas ciências. Agora, falando sério (mesmo que eu não beba), é muito melhor jogar conversa fora falando de Filosofia do que discutindo um assunto técnico árido e pé no saco. Ou falar de Literatura do que Geometria Espacial. As ciências exatas e biológicas nos fazem avançar. As ciências humanas nos fazem melhores. Quanto ao Einstein, ele podia até ser socialista (para mim, ele podia ser tudo), mas jamais como alguns dirigentes latino americanos de quem ouvimos falar.

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  6. É isso mesmo, meu caro. Falou e disse! Abs, (do também matuto) Renato

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