No inicio do século XVI, por discordar de
dogmas da Igreja Católica, Martinho Lutero promoveu a Reforma Protestante. A
partir daí o pau quebrou entre católicos e os convertidos à nova fé que surgia.
A coisa ficou tão feia para os católicos (perderam muitos fiéis, claro), que
eles logo criaram a Contrarreforma, ainda no mesmo século. Bom, chega de
história da Idade Moderna.
Talvez por um distanciamento intelectual do
clero católico em relação a boa parte de seus fiéis, composta por gente humilde
e semi-alfabetizada, houve uma grande migração desses devotos para as novas
igrejas que foram surgindo, não mais chamadas de protestantes (pelos católicos,
lógico), mas de evangélicas (pelos próprios seguidores das novas denominações).
De novo, a coisa começou a ficar feia para o Catolicismo, por conta da grande
perda de fiéis. Aí surgiu uma “contrarreforma” do século XX, que é a Renovação
Carismática Católica. Bom, chega também de história da Idade Contemporânea.
Falei tudo isso para introduzir (com carinho, por favor) um assunto que me deixa sempre meio constrangido. Para que os 1,3
leitores deste blog entendam onde quero chegar, preciso transcrever um trecho
do livro “Atos dos Apóstolos", aquele que diz:
1. Chegando o dia de Pentecostes,
estavam todos reunidos no mesmo lugar.
2. De repente, veio do céu um ruído,
como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados.
3. Apareceu-lhes então uma espécie de
línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles.
4. Ficaram todos cheios do Espírito
Santo e começaram
a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
(Atos 2, 1-4).
E é aí que eu quero chegar. Tempos atrás,
(bota tempo nisso), eu ia para o trabalho ouvindo o rádio do carro. Um belo
dia, o cretino deixou de pegar FM. Se eu quisesse ouvir rádio, teria que me
contentar em ouvir as transmissões em AM, majoritariamente ocupada por
emissoras evangélicas. Fazer o que, se o percurso até o trabalho era longo? Lá
ia eu ouvindo aquela coisa triste.
Um dia, entretanto, ouvi um pastor apregoando
(quase aos berros) que podia falar em outras línguas, graças aos dons do
Espírito Santo. E o pior é que começou mesmo! Só que a “língua” que ele falava
era exatamente igual aos sons de alguém gargarejando ou os que um bebê emite
quando está prestes a começar a falar alguma coisa (ficou meio pleonástico isso
aí). Diverti-me muito ouvindo aquilo. Gostei tanto que até tentei ouvir no dia
seguinte, na mesma bat-hora, mas não tinha memorizado a frequência certa.
O espantoso é que alguns católicos
carismáticos também fazem a mesma coisa. Mas, quando o fazem, não estão tentando
conseguir doações mais polpudas para a igreja. E como acredito que sejam
realmente pessoas piedosas, bem intencionadas, só posso pensar que talvez sejam
esquizofrênicos ou coisa parecida.
Eu até simpatizo com os carismáticos, pela fé
imensa que têm (conheço vários pessoalmente). O que pega é essa maluquice de
“falar em línguas diferentes”. (ainda bem que não conheço nenhum que tenha esse
“carisma”).
Porque o que acontece é o sujeito começar a
enrolar a língua e a querer que todos acreditem que está falando outro idioma.
A Bíblia ainda conta que “reuniu-se muita gente e maravilhava-se
de que cada um os ouvia falar na sua própria língua”.
Então, as “línguas” faladas por evangélicos e
carismáticos talvez existam realmente, talvez até sejam aquelas faladas na
Frígia, Panfília ou Capadócia, citadas na Bíblia. Mas podem ser também (mais
provável) idiomas venusianos, marcianos ou selenitas. Uma coisa é certa:
de lunáticos certamente são.
Porque, se a coisa fosse tão simples assim, eu
poderia começar a latir, dizendo que estou me comunicando com a cachorrada. Mas eu queria mesmo é ver esse pessoal falando swahili ou mandarim!
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