Eu não sei se já falei disso antes, pois a memória
recente, a memória "rã" foi pro brejo. Se já, peço desculpas. Se não, o lance é o seguinte:
todas as vezes que vejo pessoas com paralisia cerebral ou severamente
deformadas, sinto uma pena terrível, terrível. Até aí, nada de mais, pois só um
poste não sente compaixão por pessoas assim. A questão é que eu sempre vejo
essas pessoas como prisioneiras de si mesmas. Dentro de um corpo cheio
de limitações há alguém igual a mim, que sente igual a mim, que pensa igual a
mim. Mas está preso, imobilizado. E essa sensação potencializa a pena que
sinto.
Ultimamente,
comecei a sentir algo parecido em relação aos idosos. Pode ser frescura, falta
do que fazer, mas o fato é que eu sinto que de nós, os mais velhos, espera-se
um comportamento "coerente" com a idade. Se alguém resolver rir alto
ou fizer coisas inesperadas e idiotas no shopping (esconder-se atrás de uma coluna, por exemplo), pelo
simples fato de estar alegre e despreocupado, provavelmente será olhado com
vergonha e constrangimento pelos familiares, com reprovação e desconfiança
pelos demais, como se o "preferencial" estivesse delirando ou definitivamente senil.
Quando minha avó materna começou a apresentar
sinais de demência, suas ações ficaram cada vez mais inesperadas. Um dia, ela
estava sentada em um dos sofás da sala, para onde eu ia também espancar o
violão, sem me preocupar com nada. Ao começar a tocar uma música dos Beatles
que tem uma batida cadenciada – “Your
mother should know” – ela se levantou, pegou uma ponta da barra do vestido
e começou a dançar, sorridente, como se estivesse em uma quadrilha de festa
junina. Eu achei aquilo sensacional! O curioso é que nenhuma outra música
provocava nela esse efeito. Bastava, entretanto, eu começar a cantar “Let’s all get up and dance...” e lá
estava ela a dançar de novo. Sim, ela estava doente, mas a demência deu a ela
uma liberdade que, provavelmente, nunca se permitiu ter.
O que, afinal, eu quero dizer? Isso: de um
senhor ou de uma senhora (assim imagino) espera-se sempre um comportamento
"condizente" com a idade que o corpo aparenta, mais contido, severo,
senhoril – ou então essa pessoa será julgada e considerada gagá, caduca, senil. Bela merda essa prisão!
(18/09/2014)
Ótimas colocações. Eu tenho um primo que teve paralisia infantil e ficou com a fala e os movimentos comprometidos. Não por acaso se chama "Eduardo" (porque na família da minha mãe tem um monte de Eduardos). Não tem coisa melhor que ver um velhinho e uma velhinha descolados, alegres, falando merdas. Quer ver outro preconceito chato? "Véio safado" - como se a velhice fosse impeditivo para a safadeza.
ResponderExcluirCaptou bem a mensagem.
ResponderExcluirNão sei de onde você tirou essas coisas. Você se preocupa muito com o que os outros irão pensar. Já pensou se um dos seus filhos fosse viado? Acho que você iria enfartar no momento da saída dele do armário. Ah, Ah, Ah!
ResponderExcluirEu tinha 64 anos quando escrevi isso e sempre fiquei puto com o preconceito "piedoso" que os idosos sofrem. Já envergonhei meus filhos por fazer performances malucas em shoppings. Quanto ao filho, tenho a suspeita de que um deles é bissexual, mas isso não me causa nenhum problema. Talvez, quando era mais novo eu ficasse bolado, mas hoje não. Aliás, gosto muito de conversar com gays e tenho dois sobrinhos que são totalmente assumidos. Um deles mora com o namorado, o outro tem um namorado antigo com quem já conversei. Esses dois sobrinhos estão entre os cinco de que mais gosto (são dezesseis ao todo). Curiosamente, o sobrinho que mais desprezo (desprezo mesmo) é heterossexual e irmão do gay.
ExcluirTomara que o filho bissexual seja o mais peludo
ExcluirCuriosamente nada, o sobrinho hétero não tá nem aí pra ninguém. Já o gay, se você tiver interesse, ele vai ficar ciscando que nem galinha, até uma hora você tiver vontade de comer um frango assado. Ahahah.
ExcluirNão, eu sou tio. E eu sinto desprezo pelo irmão por ter parado de estudar, por ser bolsonarista, por ser muito "periférico", por só tirar retrato com copo de cerveja não mão. Eu tenho preconceito com a vulgaridade.
ExcluirEu nunca comi o cu de ninguém, tentei com minha mulher mas ela nunca deixou. Se eu tivesse um sobrinho gay a última coisa que eu pensaria seria pensar em fazer sexo com ele. Vc é muito doentio
ExcluirEla dançou porque gostou. Pois é, diante da miserável vida onde nada é novidade, então nada a entusiasmava, ela viu a música como a grande novidade capaz de empolgá-la. Por que não se render ao fluxo da alegria? Depois de uma idade, meu caro, preocupar-se com o que se deve fazer ou falar é uma baita perda de tempo e de consciência. O lado bom de ser idoso é poder viver a vida com o cabresto frouxo. Se o Charlie Brown do Snoopy ficasse idoso, ele seria você, Jotabê. Ah, Ah!
ResponderExcluirTalvez! A neurose é a mesma.
ExcluirAumente um pouco essas letras, pelo amor de
ResponderExcluirDeus. Seus leitores todos têm problemas de visão, meu filho!
Ué, eu só uso arial 12, mas o blogger transforma em times new roman, alem de mudar o tamanho a seu bel prazer. Como resolver isso?
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