domingo, 7 de setembro de 2014

DIO È MORTO

De vez em quando, sou assaltado por alguma ideia tola relacionada ao envelhecimento, à passagem do tempo. Uma das mais recentes foi identificar a  “trilha sonora” da minha vida. Alguém poderá se perguntar por que esse interesse recorrente  e egocêntrico, mas a resposta é simples: eu sou a pessoa mais íntima de mim mesmo (falou, Walter Ego!) e, se eu falar mal, não poderei reclamar nem me processar.

No duro, no duro, a partir de certa idade os efeitos da passagem do tempo foram ficando mais e mais visíveis, mais e mais sentidos. Segundo o Stephen Hawking – até onde entendi – só existe passagem de tempo se existir um observador (Se não for isso, por favor, iluminem minha ignorância). Então, o fato é que tenho cada vez mais observado a passagem – e, principalmente, suas manifestações em mim – desse filho da puta (o tempo, lógico).

Mas voltando à "trilha sonora", quando eu tinha uns 16, 17 anos, surgiu em minha sala (Colégio de Aplicação) um padre sem batina, italiano, boa pinta pra caramba (fazendo as meninas ficar alvoroçadas), que começou a dar aula de cultura religiosa. A presença não era obrigatória e depois de umas três aulas, eu pulei fora, incentivado por um colega de outra religião (na época, chamado de "protestante").

Antes de deixar de assistir essas aulas, eu ouvi uma música trazida por ele, em um disquinho de 45 rpm, que me deixou chapado, nem tanto pela letra, mas por ser um rock de cunho religioso. Aquilo pra mim foi surpreendente, inesperado, eu que estava acostumado com os cânticos lentos utilizados naquela época, nas missas e outras celebrações. O curioso é que uma conhecida roubou esse disco para mim, mas ele ficou exposto ao sol e se deformou todo (deve ter sido castigo divino...).

Bom, mas eu fiquei com aquela música na cabeça, porque a batida era muito legal e a letra, embora em italiano e quase toda incompreensível para mim, bem interessante, (independente de se ter fé ou não). A banda que gravou chamava-se "I Nomadi" e era mais cabeluda que os Beatles, cujos discos tinham acabado de aportar no Brasil.

Aí é que entram os ateus de minha predileção. De sacanagem, mas também como uma forma de arqueologia musical, encaminho o link da gravação original (obrigado, Youtube!)

E, se alguém se interessar em conhecer a letra em tradução livre, ela está transcrita no final deste post.

Volto a lembrar que isso é apenas uma brincadeira, sem nenhum proselitismo nem seriedade (de minha parte). Se eu tivesse Facebook, eu diria que a opção seria apenas "curtir" – ou não.

DIO È MORTO
                                                                       
Ho visto,
Tenho visto,
la gente della mia età andare via,
pessoas da minha idade ir-se embora,
lungo le strade che non portano mai a niente,
ao longo de estradas que nunca levam a nada,
cercare un sogno che conduce alla pazzia,
buscando um sonho que conduz à loucura,
nella ricerca di qualcosa che non trovano,
na procura de alguma coisa que não encontram,
nel mondo che hanno gia.
no mundo em que vivem.
Lungo le notti che dal vino son bagnate,
Em muitas noites regadas a vinho,
dentro le stanze da pastiglie trasformate,
dentro de remédios em droga transformados,
lungo le nuvole di fumo, nel mondo, fatto di città,
por entre as nuvens de fumaça de um mundo urbanizado,
essere contro od ingoiare, la nostra stanca civiltà
ser contra engolir a nossa exausta civilidade
un Dio che è morto,
e um Deus que está morto,
ai bordi delle strade, Dio è morto,
à beira das estradas, Deus está morto,
nelle auto prese a rate, Dio è morto,
nos automóveis despedaçados, Deus está morto,
nei miti dell' estate... Dio è morto.
nos mitos de verão... Deus está morto.


Mi han detto


Foi-me dito
che questa mia generazione ormai non crede,
que esta minha geração já não acredita
in ci che spesso ha mascherato con la fede,
naquilo que muitas vezes mascararam com a fé,
nei miti eterni della patria o dell'eroe,
nos mitos eternos de pátria ou de heróis,
perche è venuto ormai il momento di negare,
porque agora chegou o momento de negar,
tutto ci che falsità.
tudo o que é falsidade.
Le fedi fatte di abitudini e paura,
Crenças feitas de hábito e de medo,
una politica che solo far carriera,
uma política que é apenas uma carreira,
il perbenismo interessato, la dignità fatta di vuoto,
o conformismo interesseiro, a dignidade feita de vazio,
l'ipocrisia di chi sta sempre, con la ragione e mai col torto.
a hipocrisia de quem está sempre com a razão e nunca com a culpa.
Un Dio che è morto,
E um Deus que está morto,
nei campi di sterminio, Dio è morto,
nos campos de extermínio, Deus está morto,
coi miti della razza, Dio è morto,
com os mitos do racismo, Deus está morto,
con gli odi di partito... Dio è morto.
com os ódios partidários... Deus está morto.


Ma penso


Mas creio
che questa mia generazione è preparata,
que esta minha geração está preparada,
ad un mondo nuovo e a una speranza appena nata,
para um mundo novo e para uma esperança recém-nascida,
ad un futuro che ha gia in mano, a una rivolta senza armi,
para um futuro que já tem nas mãos, para uma revolução sem armas,
perch noi tutti ormai sappiamo, che se Dio muore è per tre giorni,
porque todos nós já sabemos que se Deus morre é por três dias,
poi risorge.
e depois ressuscita.
in cielo che noi crediamo, Dio risorto,
no céu que acreditamos, Deus renasce,
in cielo che noi vogliamo, Dio risorto,
no céu que desejamos, Deus renasceu,
nel mondo che faremo... Dio risorto,
no mundo que faremos... Deus renasceu,
Dio risorto!
Deus renasceu!



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