Sou fã de poesia, como sabem os 1,7 malucos que
acessam este blog. Pentelhando sem destino pela internet, achei um poema do
Fernando Pessoa de onde tirei esses versos:
“Fiz de
mim o que não soube
E o que
podia fazer de mim não o fiz.
O
dominó que vesti era errado.
Conheceram-me
logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando
quis tirar a máscara,
Estava
pegada à cara.
Quando
a tirei e me vi ao espelho,
Já
tinha envelhecido”.
Na hora, pensei “queria ter escrito isso!”. Esse texto fez também com que eu me lembrasse de uma música composta
pelo Milton Nascimento e Tunai, que traz esses versos:
“Certas
canções que ouço
cabem
tão dentro de mim
que
perguntar carece
‘como
não fui eu que fiz?’”
O que quero dizer é que às vezes me pego
surpreso por ouvir ou ler coisas que batem intensamente com o que penso e
sinto, como se o autor tivesse me radiografado.
Em um violão, a segunda corda mais grossa
corresponde à nota Lá. É por esse som que se afina o instrumento. Ao apertar-se essa corda no quinto intervalo (traste)
do braço do instrumento, o som emitido corresponde à nota Ré. Quando fazemos isso, se o violão
já estiver afinado, a corda Ré vibra sem precisar ser tocada. Esse fenômeno é
conhecido como “ressonância”. Não vou
me estender nesse papo idiota que não interessa a ninguém. Apenas, para dar
sequência, lembro que dizemos “estar em
ressonância” ou “na mesma sintonia”
com alguém quando pensamos de modo semelhante sobre alguma coisa.
Toda essa patacoada serve para falar de um
pensamento que me ocorreu outro dia: nós só gostamos ou prestamos atenção nas
ideias ou palavras lidas ou ouvidas, se elas entrarem em ressonância com o que já
sentimos ou pensamos de forma desordenada, inconsciente ou adormecida. É como
se nosso cérebro – por estar previamente afinado com o assunto – “vibrasse” com
essas ideias ou palavras. Ou, então, como se os pensamentos de terceiros agissem
como substâncias neurotransmissoras, ao “conectar-se” através dos nossos olhos
e ouvidos a nossos receptores cerebrais. Será que isso tem fundamento?
Nenhum comentário:
Postar um comentário