“Eu não tenho o menor medo de que me descubram um impostor. Sabe por quê? Porque eu mesmo, há tempos, já me dei conta de que sou um. E continuo me arrastando nesse papel”.
Antes de continuar, preciso esclarecer
que a proposta do post comentado era divertir, fazer humor, objetivo um pouco
diferente deste post-resposta. Para começo de conversa, eu
considero o comentário de meu amigo uma "impostura", pois ele é um mestre da
ironia e do sarcasmo. Então, as aspas colocadas em suas palavras indicam não
apenas tratar-se de outro autor como de deixar claro que não concordo com sua
auto-avaliação, pois ele é um grande escritor e ótimo poeta. Por isso,
transcreverei mais um trecho de um dos vários textos que encontrei na internet
sobre a “síndrome do impostor”.
"Foi
exatamente assim que a doutora Jaqueline
Góes começou a se sentir em 2020, quando o trabalho dela passou a chamar a
atenção de muita gente. A Jaqueline ficou conhecida no Brasil inteiro no
início da pandemia, quando ela e a supervisora, Ester Sabino, integraram a
equipe que fez o sequenciamento genético do Coronavírus em 48 horas. Na época,
o procedimento levava em média 15 dias” (...) ‘Em muitos momentos eu tento me
diminuir. E isso faz, por exemplo, com que eu fique muito envergonhada com
alguns reconhecimentos, alguns prêmios que eu recebo E aos poucos eu estou
tentando trabalhar essa aceitação de que ‘Olha, o prêmio já está aí, a homenagem
já foi feita, não tem mais por que esconder’, diz Jaqueline”.
“Uma pesquisa
demonstrou que uma média de 70% de pessoas que estão no mercado de trabalho já
sofreram desses sintomas, dessas sensações, como se a
qualquer momento as pessoas fossem descobrir que elas não têm aquela
capacidade, aquela habilidade”.
Mas vou parar com a transcrição de textos para
contar dois casos que provavelmente já contei aqui no blog (devo ter contado,
pois às vezes me sinto como o bagaço de uma laranja chupada, mais espremido que passageiro
de metrô japonês). O gatilho para contar essas lembranças foi o comentário do
Marreta, pois os dois casos guardam alguma semelhança com essa síndrome do impostor,
apesar de cada um apontar em uma direção oposta à do outro – mesmo que tenham
uma raiz comum (me ajuda aí, GRF!).
Minha mulher protagoniza o primeiro. Ela é linda, lindíssima. E isso não é conversa de marido apaixonado (eu sou). Na
juventude ela possuía uma beleza de modelo das agências Ford ou Elite. Era
considerada por seus conhecidos (que nunca disseram isso a ela) a menina mais
linda do bairro. Apesar disso, mesmo que muitos tenham tentado namorar com ela,
considerava-se feia, por sua irmã mais velha ter olhos azuis e ela não. Mas a cor única e
o formato dos olhos da minha mulher sempre me fizeram dizer e pensar que ela
tem os olhos mais lindos do mundo (e não sou o único a pensar assim). Hoje, já
com mais de setenta anos, apesar do aumento de peso, dos cabelos brancos e das
rugas surgidas com a idade ela continua linda. E essa é a conclusão: por um sentimento
injustificável de inferioridade, ela sempre se julgou feia ou menos bonita do
que sempre foi, apesar da beleza absurda que sempre exibiu.
O segundo caso caminha no sentido contrário. Trabalhei
em uma empresa de engenharia onde pude conviver com engenheiros de altíssimo
nível. Apesar de nunca poder me equiparar a eles (sou um impostor) eu fazia
parte dessa equipe. Havia uma exceção a essa excelência profissional (além de
mim), que era justamente o chefe. Sua maior qualificação profissional era ser filho de um dos donos da empresa; afora isso, era um grande contador de
piadas, fazia comentários de fazer corar até o Bukowski, mas era fraco
profissionalmente, visivelmente fraco. O problema é que ele não assumia sua incapacidade técnica; ao contrário, portava-se como se fosse o foda (ele era um impostor). O ponto máximo foi
quando, em uma roda de feras, ao falar de um assunto de que não entendia absolutamente nada,
usou um termo “técnico” que inventou na hora por não conseguir se lembrar da
expressão correta (em lugar de "rigging" disse "jigert"). Ao explicar o que estava dizendo foi aquele silêncio constrangedor,
todo mundo com cara de cachorro que peidou na igreja.
Juntando as quatro pessoas citadas neste post,
poderia dizer que têm em comum uma avaliação equivocada sobre si mesmos, sobre suas
qualidades ou defeitos. Minha mulher, uma perfeccionista em tudo o que faz, era
(é) linda mas não conseguia se ver assim; o Marreta é um grande escritor, mas
finge que não sabe disso; meu ex-chefe era tecnicamente uma toupeira mas
tentava convencer os outros do contrário; e o descompensado Jotabê - ao criar cinco blogs
de uma vez - “materializou” a fabulosa frase do Juca Chaves: “Querer ser mais do que valem é dos imbecis
a praxe”.
E se quiser saber como uma menina linda apaixonou-se por um ogro como eu, a explicação está no post "Eu me odeeio!"
Essa frase do Juca Chaves é pedra na cabeça em! Que máxima.
ResponderExcluirEssa frase é de uma de suas músicas. Para mim ele tem a marca das pessoas inteligentes, que é a ironia. Talvez, por isso mesmo, não tenha feito mega sucesso. Bom, e também por gostar de compor modinhas. Mas o cara é brilhante em suas críticas à autoridades "de plantão", naquela base da história da roupa invisível de um rei que estava apenas nu.
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