terça-feira, 12 de julho de 2022

CITAÇÕES, RELEITURAS E REPUBLICAÇÕES

 
Como já comentei aqui, estou relendo o livro “200 Crônicas Escolhidas”, do Rubem Braga, pois tenho a mania de reler os livros que me fizeram babar de prazer quando lidos pela primeira vez. E esse livro do Rubem Braga é assim. Como eu gostaria que os textos que escrevo atingissem pelo menos dez por cento do lirismo, ironia e humor suave encontrados nas crônicas desse livro!
 
Preciso confessar que além de algumas crônicas que encontrei na internet não conheço nenhum outro livro de sua autoria, o que me faz parcialmente merecedor desta afirmação atribuída a São Tomás de Aquino: “Temo o homem de um livro só” (hominem unius libri timeo).
 
 Mas eu sou inofensivo, não represento ameaça para ninguém. Sou como aqueles passarinhos engaiolados que, privados de sua liberdade, acabam até comendo na mão de seus carcereiros ou, melhor, de seus criadores. Como dizia um antigo chefe, sou “manso de gaiola”. Além do mais, aprendi com o filósofo Heráclito de Éfeso que “Não podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio porque as águas se renovam a cada instante”. A explicação para essa frase encontrada na internet (obrigado, Google!) é que “nem o homem nem as águas do rio são mais as mesmas quando se volta a mergulhar. A lógica pode ser aplicada à leitura: não se lê duas vezes o mesmo livro. Em essência, o livro é o mesmo. Mas o leitor não”.
 
Justamente por isso sinto-me confortável ao ler um livro duas vezes (já li três vezes um de que particularmente gostei), na certeza de que atendo o conselho de Mark Twain: “O homem que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre o homem que não sabe ler”.
 
Ensinamentos encontrados na internet como esses são bem mais saudáveis e úteis que as loas tecidas nas redes sociais a esse ou aquele candidato à presidência da república. Mas o que mais me espantou mesmo foi descobrir no livro que estou relendo (sinal de que não sou mais a pessoa que leu o livro pela primeira vez) uma autocrítica bastante jotabélica do Rubem Braga sobre uma crônica que escreveu, Logo ele, considerado o príncipe dos cronistas brasileiros! Olha a autocrítica bracarense do capixaba a propósito de uma crônica que resolveu republicar
 
É uma crônica de 1943 e não é tão inédita que não tenha sido publicada em duas revistas. Mas ambas circulavam quase às ocultas e foram fechadas logo depois pelo governo. A crônica pode ser má, e creio mesmo que está mal escrita, de um modo diferente do meu modo costumeiro de escrever mal. Mas naqueles temos já era uma grande coisa quando se conseguia escrever alguma coisa que não fosse louvaminha ao Senhor; e quando se escrevia era ao mesmo tempo com raiva e contensão; duas circunstâncias que atrapalham qualquer estilo, e ainda mais o meu, que se atrapalha à toa. Talvez por isso mesmo reli com uma espécie de carinho e resolvi publicar outra vez”.

E antes que eu me esqueça, "bracarense" é quem ou que é natural de Braga, Portugal. Perdoem-me a piada jotabélica (não resisti). 
 

Um comentário:

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