Acho que perdi a capacidade de sonhar
acordado, pois não tenho mais nenhum sonho que realmente queira realizar. Em
compensação, as noites e madrugadas têm sido pródigas em pesadelos. O mais recente
deles nem sei se posso classificar como sonho, delírio ou pesadelo, pois aconteceu
no final da madrugada, quando já estava no limite entre o sono e a vigília.
Sonhei (ou pensei) que estava levando um “lero
fiado” com meus neurônios remanescentes, contando para eles sobre as agruras da
velhice, sobre a vida, sobre a vontade de mijar às quatro da matina, tal como tal como se estivesse numa roda de amigos em um botequim ou como se fosse um índio velho de filme americano ensinando aos meninos da tribo sentados à sua
volta os segredos e mistérios da existência.
Os neurônios ouviam em silêncio as lamúrias e
os esporros tardiamente dados a desafetos antigos. Foi quando eu falei do
desejo de ser lido, ouvido, aplaudido (ou vaiado), de ser lembrado.
Eles já sabiam de tudo isso, não pelo fato de
serem os responsáveis por processar toda essa goma, mas por já ter ouvido a
mesma lenga-lenga uma centena de vezes (velho é muito repetitivo!).
Um deles, metido a engraçadinho, perguntou
por que eu não criava um blog. Os demais (não muitos, para dizer a verdade) riram
ou protestaram, dizendo que eu já tinha um.
A partir desse ponto fui praticamente ignorado e posto de lado na roda, pois esse neurônio ainda em boas condições físicas e mentais monopolizou a conversa e argumentou:
- Ninguém
escreve, pinta ou compõe nada apenas para si próprio. O que todos querem é ser
lidos, ouvidos ou vistos. Essa é uma característica de ser o mano.
Outro neurônio, metido a entender de
gramática e outras coisas relacionadas ao bom uso da língua, reclamou:
- Não é
“ser o mano”, idiota, é “Ser Humano”!
O neurônio espertinho esperou baixar um pouco
o nível de adrenalina e corrigiu:
- O que
eu quis dizer é que todo mundo quer ser visto como “o cara”, todo mundo quer
“ser o mano”, sacou?
Aquele trocadilho idiota provocou um breve e
constrangedor silêncio (a maioria já estava mesmo cochilando), quando alguém
perguntou como fazer isso, como atingir essa visibilidade sem sair dando lupas
para qualquer incauto que se aproximasse. O neurônio esperto (smart) respondeu
com argumentos que fizeram cair o queixo, ou melhor, as sinapses de todos:
-
Sisters and brothers (ele era um pouco pedante), a grande ideia para aumentar a
nossa visibilidade é a segmentação de mercado.
- Como
assim? – disseram
em uníssono os neurônios ainda não adormecidos.
- O
macete é criar blogs especializados, tantos quantos nosso boss desejar.
- E o
que aconteceria com o blog original?
- Ora,
ele continuará a ser alimentado com material inédito no blog e funcionará como a casa
paterna onde filhos entram e pegam emprestado ou tomam posse de alguma coisa
que seja de seu interesse, mesmo que não morem mais ali. Por isso, proponho a
criação de blogs filhotes, cada um dedicado a um estilo ou assunto já existente
no blog original.
- Isso é
pura besteira!
- Besteira
nada! Andei pesquisando e descobri que alguns amigos virtuais do Blogson possuem mais de um blog ou utilizam várias plataformas diferentes para um mesmo blog. Obviamente,
a principal motivação deve ser atingir todo tipo de público, tornar-se mais
visíveis, mais lidos, menos censurados, etc. E eles estão certíssimos!
A conversa estava nesse pé quando um neurônio
com apenas duas sinapses resolveu ser espirituoso:
-Mas o
boss tá sem ideia, não tem mais inspiração, está quase expirando!
Isso causou algum reboliço e uma resposta
irada do “smart”:
- Pra
começo de conversa, jogos de palavras vulgares nunca foram bem aceitos neste
ambiente. E, pelo jeito, você não captou a estratégia proposta. Sabemos das
limitações cada vez maiores do boss e não esperamos novas ideias que tenham um
mínimo de criatividade. A jogada é fazer antologias do que já foi publicado.
- Dê
exemplos.
- Seria
criado um blog exclusivamente para os "dezénhos" já produzidos, outro dedicado às
literatices do boss, englobando seus poemas, contos e crônicas; um blog com uma
pegada de humor, reunindo os "diálogos de spamtar" e textos "sem noção". E mais um
para as viagens mentais do boss, englobando os textos "papo cabeça" e "falando
sério". Fazer isso é trabalho para uns dois anos pelo menos. E dará uma trabalheira tão infernal para o boss que quem acabará sendo beneficiado seremos nós.
Os neurônios aplaudiram a ideia e um mais puxa-saco completou:
- Cada blog atendendo a um público específico e tudo a custo zero, gastando apenas uma revisão ou descarte do que for
abaixo da critica (da nossa própria crítica, claro)
Nesse ponto resolvi encerrar a reunião.
Tomei novamente a palavra, prometendo pensar seriamente nessas propostas. E
acordei, pois a bexiga reclamava atenção e alívio urgente. Mas fiquei com
aquelas ideias na cabeça.
https://twitter.com/joaopqcavalcan1/status/1544309872765808645?s=20
ResponderExcluirRachei de rir!
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