quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

QUESQU'IL Y A AVEC TON DINDON?

 
Li uma reportagem curiosa no site da BBC News sobre como o peru se transformou no prato principal do Natal. Mas a curiosidade que mencionei é que tanto se fala do peru de natal quanto dos hábitos alimentares do bispo de Salisbury, no Reino Unido. E nem dá para fazer aquela pergunta clássica das aulinhas de francês - Quesqu'il y a avec ton dindon?, porque, segundo a reportagem, só décadas depois o peru foi introduzido no meio da nobreza européia (isso ficou meio esquisito!).

A reportagem conta que em “25 de dezembro de 1406, o bispo de Salisbury, no Reino Unido, sentou-se à mesa para sua ceia de Natal). (...)
 
A refeição era modesta, pelos padrões costumeiros do bispo - apenas 97 pessoas foram convidadas. O cardápio era abundantemente carnívoro e parecia mais um zoológico. Havia metade de uma vaca, três carneiros, 24 coelhos, um porco, metade de um javali silvestre, sete leitões, dois cisnes, duas galinhas d'água, quatro patos-reais, 20 narcejas (aves pernaltas com longos bicos que balem como cabras), 10 capões (frangos capados) e três marrecos.
 
Naquele ano o dia de Natal ocorreu em um sábado - um dia de adoração, no qual tecnicamente as pessoas deveriam comer apenas peixe. Por isso, o bispo também encomendou alguns animais aquáticos.

Ao todo, foram servidos aos convidados 50 arenques-brancos (em conserva, como filés enrolados), 50 arenques-vermelhos (arenques tão salgados que assumem coloração vermelho-cobre), três longas enguias-do-mar, 200 ostras e 100 caracóis.
 
Naquela época, não havia garfos, e as pessoas não usavam pratos individuais nas refeições. Os garfos ainda não haviam chegado à Inglaterra e os pratos somente seriam inventados no século 17.
 
Com apenas facas e colheres à disposição, Mitford e seus convidados comiam os alimentos fatiados ou moídos, para que pudessem ser servidos sobre grossas fatias redondas de pão” (...). Talvez tenha sido daí que surgiu a expressão "Está metendo a colher onde não foi chamado".
 
Outra informação curiosa e, para mim, a mais surpreendente, foi a melhora da alimentação provocada pela Peste Negra.  Segundo a reportagem, “embora os nobres tenham sempre passado bem, um aspecto da vida - que inclui o Natal - havia acabado de melhorar para todos no final do século 14. Foi um efeito colateral inesperado de uma tragédia global: a Grande Peste.
 
Antes da Peste, a maioria das pessoas sobrevivia principalmente à base de alimentos preparados com cereais, como pães e uma espécie de mingau feito de trigo picado fervido com leite ou caldo de animais. (...) quando a Grande Peste se espalhou pela Europa, a Ásia e o norte da África, em meados do século 14, ela varreu algo entre 30% e 40% da população do planeta - e os sobreviventes perceberam que havia muito mais alimentos disponíveis.
 
A pandemia matou as pessoas, e não os animais. Por isso, o equilíbrio mudou muito a partir dali".
 
Independente da maior ou menor disponibilidade de alimentos para a ralé, não se pode negar que o bispo era muito bom de festas (e devia também ser bom de grana. Sabe como é, uma doação aqui, outra doação ali, etc.). “O bispo Mitford celebrava todos os 12 dias do Natal e recebia 137 pessoas para celebrar a “12ª Noite” – a noite de Reis, uma festa maior que a do dia de Natal”. Mitford! Ou, melhor, muito foda (trocadilho totalmente dispensável!).
 
O que dá para concluir é que ser bispo sempre foi uma boa, pouco importando se em 1406 ou nos dias atuais. Não é mesmo, Edir? 

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