Meu filho enviou-me um artigo escrito pelo jornalista Ruy Castro, publicado na Folha em 15/10/2021. Achei o texto divertido, tristemente divertido. E esse é o motivo de publicá-lo no Blogson - divertir os leitores do blog da solidão ampliada. Depois de lê-lo fiquei com vontade de meter todo mundo no chilindró e passar a aldraba. Mas isso é só um jogo de palavras. Vê aí.
É
raro, mas quando acontece é para celebrar – ganhar um irmão numa palavra. É o
que se dá quando descobrimos alguém que usou um termo que um dia aprendemos,
adotamos e, como em nosso meio ninguém mais o fazia, passamos a achar de nossa
propriedade. Até que a lemos em outrem. Pois é como me sinto agora em relação a
Gregorio Duvivier: irmão em aldrabão.
Em
sua coluna desta quarta (1°/12),
ele se referiu às 100 mil palavras que os portugueses nos trouxeram da Corte,
mas reservaram algumas para uso próprio no seu lado do Atlântico. Uma dessas,
aldrabão –que, em oito letras, três das quais o a, e um humilde til, define em
Portugal o farsante, mentiroso, trapaceiro, impostor, descarado, aquele que
comete fraudes, patranhas, aldrabices.
Com
deleite e estupor, descobri aldrabão em Lisboa, onde morei de 1973 a 1975. Foi
ao assistir a um festival de clássicos da comédia americana, estrelados por
comediantes famosos entre nós por outros nomes. Lá, os Irmãos Marx eram Os
Grandes Aldrabões; os Três Patetas, os Três Estarolas; o Gordo e o Magro, o
Bucha e o Estica; e Jerry Lewis, o Estoira-Vergas. Bem, para isso servem os
dicionários. Um estarola é um deslumbrado, leviano, apatetado. Um
estoira-vergas (verga é uma barra, uma vara, algo difícil de... vergar) é um
estúpido, encrenqueiro, estouvado.
Aqui
esses nomes teriam de denominar outras figuras. Aldrabões, por exemplo, são o
que não falta no governo Bolsonaro. Se nos limitarmos a três, e só entre os
ministros no cargo, eles seriam, a discutir, Onix Lorenzoni, Ciro Nogueira e
Joaquim Álvaro Pereira Leite. Os Três Estarolas seriam, de barbada, os generais
Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos. O Estoira-Vergas, disparado,
Paulo Guedes. E, em todas as categorias, cabe o próprio Bolsonaro.
Bucha
e estica significam, literalmente, gordo e magro. Há gordos e magros no
governo, e isso não é crime. Mas o Gordo e o Magro não eram canalhas.
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