quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

BODAS DE PRATA

A história da música está cheia de duplas de compositores. Geralmente um é o autor da melodia e o outro dos versos, da letra. Por convenção, quem aparece primeiro nos créditos da musica é o compositor. Ainda bem que ninguém liga para esse detalhe. Mas existem letristas tão inspirados, tão absurdamente geniais que seu nome deveria aparecer em primeiro lugar. Esse é o caso do Chico Buarque (das antigas) e seus pareceiros. Também é o caso da dupla João Bosco e Aldir Blanc.
 
Ninguém questiona que o João Bosco é um violonista fabuloso e um compositor de primeira linha, mas é sacanagem imaginar seu sucesso se não tivesse feito parceria com o carioca Aldir Blanc. Não sou crítico musical, mas acredito piamente que a carreira do mineiro só decolou graças aos versos magníficos escritos pelo parceiro (e esse é mais um motivo para eu lamentar sua morte por Covid, pois o Aldir era genialmente inspirado).
 
Imagino que 99,9% das pessoas que acessam esta bagaça ainda usasse fraldas ou nem tivesse nascido quando João Bosco lançou seu segundo disco. "Caça à Raposa" foi lançado em abril de 1975 e devo tê-lo comprado logo após ter-me casado (eu tinha 24 anos). Há músicas incríveis, sambas rasgados, bolerões e todas com letras impecáveis. Transcrevi em um post recente a letra espetacular da canção "Gol Anulado".
 
Lembrei-me depois da música mais marcante do disco (perdoem-se se meu vocabulário está muito convencional e limitado, pois decidi não utilizar palavras com que tenho pouca ou nenhuma intimidade. Por isso, mesmo que eu não esteja conseguindo convencer ninguém a ouvir essa música, sugiro que a ouçam lendo a letra que está transcrita a seguir). Seu nome é "Bodas de Prata” e encaixa-se à perfeição na seção "Todo castigo pra corno é pouco” do excelente blog A Marreta do Azarão. Leiam a música e ouçam a letra, ou melhor, som na caixa!
 
Você fica deitada de olhos arregalados
Ou andando no escuro de Peignoir
Não adiantou nada
Cortar os cabelos e jogar no mar
 
Não adiantou nada o banho de ervas
Não adiantou nada o nome da outra
No pano vermelho pro anjo das trevas
 
Ele vai voltar tarde
Cheirando à cerveja
Se atirar de sapatos na cama vazia
 
E dormir na hora murmurando: Dora
Mas você é Maria
Você fica deitada com medo do escuro
 
Ouvindo bater no ouvido
O coração descompassado
É o tempo, Maria, te comendo feito traça
Num vestido de noivado



 


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