O BBC News é um site muito legal (que eu
recomendo para quem não conhece), pois traz artigos e reportagens que abordam
curiosidades e informações divertidas, ótimas para aliviar (desopilar) um fígado
destroçado pelas babaquices diárias que a tchurma de Brasília costuma produzir,
divulgar ou falar. Pensando bem, não é “de Brasília”, mas “em Brasília”, pois
espero que esse pesadelo acabe em 2022.
Deixando a profundidade de lado (como dizia a
Belchior) e voltando à BBC, acabei de ler um artigo que mostra o quanto os
políticos, intelectuais e outras personalidades brasileiras podem ser ridículos e
primitivos. Se quiserem, podem trocar primitivos por toscos, risíveis, idiotas,
deprimentes ou o que acharem melhor.
O artigo ou reportagem trata de uma tentativa
bizarra de nacionalizar o Natal. Melhor dizendo, de substituir o Santa Claus, o Papai Noel por
uma fantasia brasileira. O pior dessa maluquice é o fato de que tentaram utilizar
um personagem inexistente no folclore nacional ou na memória afetiva do povo
brasileiro. Personagem que já é uma piada, mesmo que não permita a alguém fazer um comentário idiota do tipo "Tá boa, Santa?"
Particularmente acho o nacionalismo e vários
outros “ismos” uma grande merda, uma tornozeleira mental, boa apenas para
acorrentar no mesmo curral quem se identifica com isso. Mas não estou tentando
convencer ninguém, pois meu negócio é apenas registrar no blog que alguns
iluminados da década de 1930 tentaram substituir o Papai Noel por um produto
nacional de péssimo gosto e horrivelmente projetado. Como assim? Mesmo que pareça
uma piada de standup ou da “Praça é Nossa”, o “bom velhinho” nacional seria o “Vovô
Índio”!
Não ria, pois é verdade. Eu já tinha ouvido
falar nessa babaquice, mas imaginava que fosse só mais um fruto da cabeça insana
dos integralistas. Mas estava enganado. Segundo a reportagem de Edson Veiga, “Há 90 anos, Vovô Índio era a tentativa
brasileira de destronar Papai Noel”. A seguir, alguns trechos que extraí da
reportagem (muito boa, diga-se. O link para sua leitura completa está
disponível no final).
'“Vovô Índio e as crianças” foi chamada de capa do
jornal O Globo em 24 de dezembro de 1932, com o registro de que a figura havia
sido a responsável pela entrega de presentes em uma escola municipal carioca.
O mesmo jornal, em 28 de novembro, havia publicado
um verdadeiro manifesto em defesa do Vovô Índio — sob o título "Vamos
fazer um Natal brasileiro?" — e, em 20 de dezembro, uma declaração de
guerra ao bom velhinho — "Pela deposição de Papai Noel" era o nome do
texto.
Com contornos de lenda e sem constar de jornais da
época, mas apenas de histórias publicadas décadas mais tarde sobre o assunto, o
mais famoso desses episódios pode ter ocorrido há exatos 90 anos, no Natal de
1931, quando o presidente (Getúlio Vargas) teria sido anfitrião de um evento natalino
para apresentar o Vovô Índio para a criançada em um estádio do Rio.
Segundo esses relatos, a plateia não aprovou a
ideia de receber presentes de um homem vestido de tanga e com cocar na cabeça —
a preferência recaía sob o internacional Papai Noel.
Se as tentativas de fazer o Vovô Índio emplacar no
imaginário nacional datam dos anos 1930, não se sabe exatamente a origem do
mito.
O que se sabe é que sua versão mais bem-acabada
terminou divulgada por obra de simpatizantes do integralismo, movimento
nacionalista que ficou conhecido como uma espécie de fascismo brasileiro.
"Houve um grande esforço da intelectualidade
nacionalista brasileira, principalmente uma intelectualidade de direita dos
anos 1930, no sentido de criar essa fábula do Vovô Índio como contraponto ao
Papai Noel", diz o historiador Leandro Pereira Gonçalves, professor na
Universidade Federal de Juiz de Fora e autor de, entre outros, O Fascismo em Camisas Verdes: do Integralismo
ao Neointegralismo.
Ele contextualiza, contudo, que se a simbologia
nacional era muito importante ao movimento integralista, ele não foi criado
pelos integralistas — foi, sim, utilizado por seus militantes.
"Para os integralistas, o Papai Noel era uma
influência ianque. O Vovô Índio representava o caboclo, o cara que estava no
mato como o brasileiro, essencialmente brasileiro", comenta Doria.
"É o resultado da busca que todo fascismo tem
pela visão idealizada do que é o seu povo."
"Ele, assim, se consolidou na AIB e foi
adotado por Getúlio [Vargas] porque fazia sentido de acordo com essa
visão", acrescenta.
Gonçalves lembra que, afinal, "o movimento
integralista é cristão, tem sob lema 'Deus, Pátria e Família'".
"O debate da simbologia natalina realmente
presente no integralismo brasileiro não é necessariamente o Vovô Índio, mas a
valorização do nascimento de Jesus", argumenta o historiador.
Ao mesmo tempo, os integralistas sempre ironizavam
a figura do Papai Noel, considerando-a incompatível com o Natal de verão
brasileiro.
"O Vovô Índio ficou reservado ao aspecto de
uma intelectualidade, da utopia do militante nacionalista em busca de uma
alternativa ao capitalismo", comenta o historiador.
Pois é, o que
dizer dessa idiotice sem ofender a memória daqueles que a criaram ou
defenderam? Uma coisa é certa: um “bom velhinho” a distribuir presentes vestindo
apenas tanga (cueca também, provavelmente) e cocar só corrobora meu sentimento atual.
Para mim, esse negócio de dar presente no Natal é programa de índio.
https://www.bbc.com/portuguese/geral-59754485
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