segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

FALANDO DE ARTE

 
Hoje eu resolvi falar de Arte - porque, afinal, Blogson Crusoe também é cultura. Além disso, Jotabê entende de arte como o diabo! Acho que essa ordem das palavras na frase é a melhor e mais correta, pois não sei se o diabo gostaria de proclamar que entende de arte como Jotabê. Para ser sincero, nem sei se o demo entende mesmo de arte. Fico pensando que ele deve entender muito é dessas coisas que precisam de altas temperaturas e que fazem uma silhueta mais atraente e bem definida ir para o espaço, tipo pizzas, pães, churrascos de picanha, leitão a pururuca e assemelhados.
 
Porque chega um tempo em que fica cada vez mais difícil manter a linha. Linha que em alguns casos fica mais parecida com as cordas usadas na atracação de navios, mais grossa que fumo de rolo. E é muito triste acordar de madrugada, dirigir-se à cozinha e, em nome da estética corporal não poder comer aquele pedaço de pão da semana passada, duro feito pedra que você escondeu atrás do microondas. Qual é o problema? Falo por mim, pois meu estômago não é nem um pouco elitista. Obviamente que eu como com os olhos (só com os olhos) aqueles pratos  lindos e sofisticados que são vistos em programas tipo The Taste Brasil, Que Marravilha!, Bake Off, Top Chef, Master Chef e assemelhados. 
 
Mas se fosse encarar presencialmente aquelas porções mínimas, minimalistas, homeopáticas, ao vivo e a cores, a primeira coisa que faria em seguida seria tentar encontrar um trailer de sanduiches, um food truck, e pedir aquele podrão, aquele sanduba gigante que provoca deslocamento do maxilar se você tentar dar uma mordida que pegue de pão a pão. Porque, como não disse ainda, meu estômago só é elitista em relação à quantidade de rango que ele comporta (e ele comporta cada vez mais!). Por isso, não sinto falta de sabores requintados, de colheres (é colheres mesmo, de louça) com notas de alcaçuz braseado ou coisa semelhante. Meu negócio é quantidade. E se for de comida ogra, melhor ainda.
 
Mas estava falando de arte (depois de velho fiquei muito arteiro) e me perdi nos prazeres da carne, das tortas, sorvetes, bombons e sacolés. É claro que esses pensamentos não existiam na minha juventude. Eu era muito, muito magro (IMC 18 ou 19, por aí), mas praticava natação e isso, apesar da total  mediocridade nas raias, me deixou musculoso e com barriga de tanquinho.
 
Usava o cabelo grande e crespo, pois desdenhava do uso de pente (isso, claro, depois de ter desistido de usar touca de meia à noite). Na linha do "lavou, tá novo", saia do banho, só enxugava a ainda abundante cabeleira, imitava os movimentos de cabeça das dançarinas que acompanham a Joelma ou das atuais bandas de axé e deixava secar. Apesar do nariz sessual, ficava com carinha de anjo barroco (ainda que narigudo) ou, melhor, como o Davi de Michelangelo. Assim eu me via, pois além da musculatura definida e dos cabelos encaracolados, percebia haver alguma semelhança, alguma parecença entre ele e eu no tocante a determinados  detalhes anatômicos da estátua - alguns só percebidos quando eu saia do chuveiro.
 
Falando sério, como é possível alguém esculpir um bloco de mármore com aquela precisão toda? As veias das mãos, meu Deus! Nem se eu tentasse reproduzi-las com as massinhas coloridas que minhas netinhas utilizam só para misturar as cores eu conseguiria. 


Para mim, aquela estátua é um retrato, um instantâneo maravilhoso da juventude, feito em pedra.. Imagino que se ele tivesse pensado em fazer um Davi mais velho, precisaria de menos mármore para os cabelos e bem mais para a barriga, papada, braços e pernas. Bem, o resto continuaria exatamente como na juventude. E nem adianta tentar contestar essas proporções, pois ele entendia do métier (ainda bem que passei corretor de ortografia a tempo).

Foi preciso esperar até o século XXI para algum artista da área de computação gráfica oferecer uma possível imagem do Davi já mais velhinho. Comparando as duas imagens fiquei pensando que o Michelangelo, além de Buonarroti, devia ser também buona gente. Era muito foda, pois se errasse a mão (a dele, não a da estátua) o mal estaria feito, pois nunca inventaram photoshop para pedra. Pensando bem, ele era mais que foda, era fodíssimo com um cinzel, buril ou mesmo pincel. Falou que tinha cabo, ele segurava com destreza. Buoníssima gente!






4 comentários:

  1. a primeira impressora 3d foi o ser humano hahahahaha
    realmente, perfeito

    abs!

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    1. Com toda certeza! A propósito, você já viu o tamanho da estátua? Vi uma foto na internet que me deixou de queixo caído: um andaime ao lado da estátua e um ou dois homens fazendo alguma intervenção, talvez limpado, sei lá. Eles são minúsculos perto do Davi!

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    2. vi a foto. o artista tinha ajudantes na época.
      nao deve ter sido um trabalho solitário.

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    3. Certamente teve ajudantes (polimento do mármore, etc.), mas ele realmente foi o cara.

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