sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

É GOL!

 
Este texto começou a surgir na minha mente estimulado pela conquista do campeonato brasileiro de futebol. Por quem mesmo? Ah, sim, pelo Galo, pelo Clube Atlético Mineiro. Sinceramente, mesmo não ligando a mínima para futebol e sendo torcedor do América (essa é a prova), fiquei feliz pela conquista do segundo título - cinquenta anos depois do primeiro! A propósito desses cinquenta anos, acho uma merda os comentários que li e ouvi sobre isso, como se não bastasse a conquista antecipada do título. Não, “vamos dar uma alfinetada nos atleticanos e lembrar que se passaram cinquenta anos”, que “um jejum de meio século foi quebrado”. Fico pensando que tipo de sentimento levou essas pessoas a tentar dar uma embaçada no brilho da conquista. Seria inveja, decepção ou aquela azia que os torcedores sentem quando seu time do coração tem um gol anulado?
 
E foi esse aparente e talvez inconsciente rancorzinho que fez com que eu me lembrasse de uma música, ou melhor, de uma letra magnífica escrita por Aldir Blanc. Aliás, sua morte por Covid foi uma das que mais lamentei, justamente por genialidade na criação de letras sofisticadas e de imagens inesperadas. Alguém disse uma vez que ele poderia ser o equivalente nacional do Cole Porter (brilhante e sofisticado compositor americano), não fosse sua atração por temas mais suburbanos e populares.
 
Em sua defesa eu diria que ele foi sofisticado e brilhante com suas letras sobre vestidos de noivado, corpos estendidos no chão e gols anulados, infinitamente melhores que as letras tipo ostentação cantadas pelas duplas breganejas com seus camaros amarelos e que tais. E uma das letras criadas pelo Aldir Blanc é o tema da postagem de hoje, versos tão bonitos, trágicos e pungentes que nem precisariam da melodia composta por João Bosco. Mas, se alguém quiser ouvir a gravação, o link está logo abaixo da letra.
 
Quando você gritou Mengo
No segundo gol do Zico
Tirei sem pensar o cinto
E bati até cansar
 
Três anos vivendo juntos
E eu sempre disse contente
Minha preta é uma rainha
Porque não teme o batente
Se garante na cozinha
E ainda é Vasco doente
 
Daquele gol até hoje o meu rádio está desligado
Como se irradiasse o silêncio do amor terminado
 
Eu aprendi que a alegria
De quem está apaixonado
É como a falsa euforia
De um gol anulado
 
https://www.youtube.com/watch?v=ure75aKCtpE
 

4 comentários:

  1. Rapaz, essa eu não conhecia. E é boa pra caralho, como é de praxe quando se diz de Aldir Blanc e João Bosco.
    Mas, hoje, a célebre e consagrada dupla, seria processada por incitação e apologia à violência doméstica e ao feminicídio.

    ResponderExcluir
  2. acho que a letra só passaria hoje em dia se tivesse alguma referencia sadomasoquismo, estilo 50 tons de cinza

    infelizmente, trocariam "preta" por "latino-afro-descendente-hetero..." ou coisa parecida

    ResponderExcluir

ESTRELA DE BELÉM, ESTRELA DE BELÉM!

  Na música “Ouro de Tolo” o Raul Seixas cantou estes versos: “Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado. Macaco, praia, ...